Uma portaria publicada pela Secretaria do Audiovisual no Diário Oficial da União desta sexta-feira (3) determina a devolução de R$ 2,2 milhões ao Fundo Nacional de Cultura, usados na produção do filme pernambucano "O Som ao Redor" (2012), do cineasta Kleber Mendonça Filho. O autor tem até 30 dias, a partir da data da publicação, para enviar o comprovante da devolução do valor.
De acordo com a publicação, que nega o último recurso feito pelo cineasta, o valor empregado para a realização do filme foi de R$ 999.978,00. Com a correção monetária feita até 14 de março de 2019, o montante que deve ser devolvido pela produtora Cinemascópio Produções sobe para R$ 2.242.643,30.
A portaria também pede, em até dez dias, a devolução dos recursos utilizados na realização de outros 11 projetos audiovisuais.
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O G1 entrou em contato com o Ministério da Cidadania, ao qual é ligada a Secretaria do Audiovisual, para saber se cabe recurso e aguarda retorno. O G1 também entrou em contato com o cineasta Kleber Mendonça Filho e aguarda posicionamento.
No mês de abril, ao jornal O Globo, o cineasta se pronunciou sobre a condenação. "Não sou o primeiro nem o último artista a ser atacado pelo grupo de pessoas que está no poder. Não é novidade", disse, na época.
A primeira notificação pedindo a devolução do valor usado para produzir o filme foi emitida em março de 2018, pelo extinto Ministério da Cultura. Segundo o argumento utilizado pelo órgão, "O som ao redor" ultrapassou o limite de um edital voltado a produções de baixo orçamento.
Em maio do mesmo ano, Kleber Mendonça Filho publicou uma carta aberta ao então ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, questionando a atuação do órgão no caso e pedindo mais diálogo com a pasta.
"O Som ao Redor custou R$ 1.700.000,00 - um milhão e setecentos mil reais - no seu processo de produção, nos anos de 2010 e 2011. Em câmbio corrigido do dia de hoje, O Som ao Redor custou 465 mil (quatrocentos e sessenta e cinco mil) dólares. O MinC deveria premiar produtores que fazem tanto e que vão tão longe com orçamento de cinema tão reconhecidamente enxuto", diz a carta.
Cannes
A nova produção do cineasta, um filme chamado "Bacurau", foi selecionada para concorrer à Palma de Ouro na 72ª edição do Festival de Cannes. O evento acontece entre 14 e 25 de maio na França. Em uma entrevista coletiva na quinta (2), os atores pernambucanos que participaram do filme contaram que estão ansiosos para ver o longa ser exibido no festival.
Em 2016, o cineasta também disputou a Palma de Ouro com o filme "Aquarius", estrelado por Sônia Braga. Durante o evento, a equipe do filme fez um protesto contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), passando pelo tapete vermelho do festival de Cannes com cartazes com as frases "Vamos resistir" e "Houve um golpe no Brasil".
Prêmios
O filme "O Som ao Redor" busca mostrar contradições sociais tendo como cenário uma rua de classe média na Zona Sul do Recife, onde a maior parte dos imóveis pertence a uma mesma família.
Nesse espaço, o patriarca, interpretado por WJ Solha, é um senhor de engenho urbano que irá abrir espaço para a chegada de um homem carismático, vivido por Irandhir Santos, que oferece serviços privados de segurança aos moradores.
"O Som ao Redor" chegou a ser escolhido para representar o Brasil na disputa pela indicação ao Oscar 2014 de Melhor Filme Estrangeiro, mas não foi selecionado. A produção ganhou prêmios em Nova York e na Polônia e entrou na lista de 10 melhores filmes de 2012 pelo jornal New York Times.
No cenário nacional, a produção conquistou prêmios na 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (Prêmio Itamaraty) e no 8° Panorama Coisa de Cinema de Salvador, na Bahia, e também ganhou o Festival do Rio, em 2012.
Divulgação
Cena de 'O Som ao Redor', de Kléber Mendonça Filho
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