O uso de carros elétricos vem crescendo significativamente no Brasil com a justificativa de economia em relação ao preço dos combustíveis e combate às udanças climáticas. Em 2012 havia apenas 15 carros elétricos no Brasil e em 2024 esse número já chegava a 150 mil.
Ao MidiaNews, o engenheiro eletricista Edson Dias, coordenador da Câmara de Elétrica no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Mato Grosso (Crea-MT), explicou os riscos e prevenções que devem ser tomadas no momento da recarga dos carros, a fim de manter a segurança pessoal e estrutural dos ambientes.
Isso porque os acidentes relacionados ao uso podem ser comuns quando a estrutura elétrica não é preparada para a potência necessária de recarga. O fato ocasiona receio de moradores e trabalhadores de condomínios e prédios que possam instalar tomadas para os veículos.
De acordo com o especialista, quando apenas uma tomada para um carro é instalada, pode ser que um condomínio residencial, por exemplo, não tenha problemas com o tipo de veículo. Isso muda quando há várias unidades que utilizam. Isso ocorre porque a potência necessária pode sobrecarregar o transformador, gerando pane na estrutura elétrica do prédio.
Por isso é necessário analisar caso a caso, considerando a situação em que aquela recarga vai ocorrer.
“Tem que ser contratado um profissional [engenheiro eletricista] para ir ao local, fazer o levantamento e verificar quais são as condições existentes para poder fazer um laudo, verificar se é seguro ou não [instalar as tomadas]. Porque funciona assim: existe a parte de energia para saber se o prédio consegue ter energia suficiente para carregar mais de um carro, e ele tem que obedecer normas técnicas para poder ter o sistema de instalação”, explica.
Dependendo do projeto de segurança e combate a incêndio, é necessário que o prédio receba uma reforma elétrica para permitir o uso de carregadores.
É o caso do prédio do motorista de aplicativo Tião Tozzi. Ele carrega o seu carro em eletropostos em Cuiabá e Várzea Grande, pois onde mora ainda não foram liberadas as instalações e modificações necessárias para a recarga.
É comum que haja essa espera principalmente em locais que precisam mudar toda a sua infraestrutura elétrica, observa Edson, como os prédios antigos.
“Os prédios antigos tinham uma estrutura para atender uma carga que foi dimensionada para o século passado. Agora modificou. Então tem que ser atualizado, tem que ser discutido, tem que levar em assembleia, porque isso pode gerar o impacto de ter que trocar o transformador de entrada, bem como todo o carregamento e tudo mais dentro do prédio”, diz.
Se a parte elétrica do edifício não estiver preparada, pode acontecer o aquecimento dos fios de energia, o que aumenta a probabilidade de incêndios.
O engenheiro explica que quando o consumo de energia cresce, o padrão aquece e funciona como um ferro elétrico ligado sem uso. Além do risco para a segurança das pessoas, há o gasto de energia desnecessário.
Ele alerta ainda que quando o fogo começa em um carro durante a recarga, a probabilidade de grande destruição ao redor é muito alta.
“A temperatura que uma bateria de lítio chega quando pega fogo é muito alta. E isso faz com que esse carro, pegando fogo, passe as chamas para os veículos ao lado na garagem. E como a temperatura é muito alta, não tem como você chegar para combater esse fogo. E os materiais: cimento, reboco, ferro, que estão do lado, também não suportam altas temperaturas, porque não foram feitos para isso”, afirma.
Por este motivo, para que não haja este aquecimento, é necessário que os equipamentos de recarga estejam bem instalados por um profissional.
Caso não haja a instalação correta, há diversos outros riscos além do incêndio, como afirma o gerente do Departamento de Operações (Deop) da Energisa, Anderson Rodrigues.
“Os riscos que podem existir basicamente são de choques elétricos, os riscos de incêndios, sobrecarga da rede, e inclusive alguns danos estruturais do próprio prédio”, diz.
A Energisa não tem uma norma específica para a instalação desses carregadores, mas eles são equipamentos do sistema elétrico, sendo considerados como tomadas maiores, com uma potência mais alta. Anderson afirma que eles devem seguir as normas tradicionais que regulamentam a carga utilizada da residência ou condomínio, conforme o projeto elétrico.
Apesar de a demanda ainda ser tímida em Cuiabá, de acordo com Anderson, o número de veículos elétricos vem em uma crescente grande, e alguns condomínios que possuíam “folga” de uso na carga interna não precisaram fazer mudanças estruturais. O gerente destaca que em diversos casos é preciso apenas a apresentação do projeto elétrico e a autorização na Energisa.
Victor Ostetti/MidiaNews
Carro elétrico da montadora BYD circulando em rua de Cuiabá
“Em alguns condomínios que têm maior porte, eles tinham alguma folga de carga e nem pediram esse aumento de carga, porque eles já conseguem colocar ali alguns carregadores nas suas instalações internas. Sem precisar fazer nenhum tipo de mudança de cabeamento nem de nada, que a Energisa precise ir lá atuar”, disse.
Procedimento
Edson afirma que quando uma residência ou condomínio deseja fazer a instalação dos carregadores, os responsáveis devem procurar profissionais registrados no Crea para fazer análise de cada caso.
“São o engenheiro eletricista, que é o engenheiro responsável pela parte de ligação, de instalação de projetos de um carro elétrico, e o engenheiro de segurança do trabalho, que é quem vai fazer a análise do que essa carga vai influenciar no prédio“, explica.
Anderson ressalta a importância desses profissionais. “A primeira dica de segurança para esse tipo de instalação é chamar sempre um profissional capacitado para fazer a instalação, porque é um sistema que normalmente pode ter uma potência considerável elétrica e pode gerar riscos em caso de problemas da instalação inadequada”.
“A tecnologia é nova. É uma tecnologia que tem um consumo grande de energia. E nós vamos nos adaptar. Nós vamos evoluir, nós vamos ver os problemas, trabalhar e resolver”, finaliza Edson.
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