Clube Dom Bosco

O histórico Clube Esportivo Dom Bosco completou 100 anos neste sábado (4) ainda mantendo a esperança de voltar a ser grande. Porém preso a um passado em concreto que insiste em expor sua decadência.
Trata-se da sede social, erguida na década de 60 no Morro da Luz, em Cuiabá, que foi um marco no cenário esportivo e cultural, mas está está há pelo menos 28 anos abandonada e em ruínas.
A sede, que refletia a relevância do time por meio de sua arquitetura grandiosa, dispunha de um espaço de 1,4 hectare, com salões de eventos, áreas de lazer, piscinas e campos esportivos, sendo a única entre os clubes do Estado.
Entre as décadas de 60 a 90, os espaços ainda abrigavam eventos de gala da elite cuiabana, como o Baile de Debutantes, além de shows nacionais e competições esportivas que atraíram multidões.
Com o passar dos anos e diversas más gestões que resultaram em dificuldades financeiras, não somente o clube, mas também o time de futebol foi afetado, e as dívidas acumuladas levaram à desativação do espaço.
Há três anos um estacionamento ocupa parte da propriedade, e as piscinas que ilustravam cartões postais foram cobertas com areia e cascalho. O portão principal da sede foi fechado com tapumes, e suas duas luminárias do teto foram arrancadas.
A reportagem não foi autorizada a fotografar o interior do imóvel, mas teve permissão para andar pela propriedade. O que se viu foi apenas o esqueleto, ainda pintado em branco e azul, do que um dia foi o salão principal, a escadaria da entrada e os amplos cômodos do clube social.
Além da sujeira e entulhos, a vegetação densa que tomou os fundos da área aberta, o teto e paredes com buracos feitos pelos ladrões de cobre, que derreteram até a placa da fundação, evidenciavam o abandono.
Reprodução
Cartão postal do Clube Dom Bosco na década de 60
Os portões, trancados com correntes e cadeados enferrujados, ainda mostravam que o tempo foi o principal visitante nos últimos anos.
Culpa
Adbar de Souza Salles, um dos ex-presidentes do Leão da Colina, como o time é apelidado, atribuiu o começo da ruína no clube ao então presidente Lino Miranda, que comandou o Dom Bosco de 1985 a 1995. Entretanto, o atual mandatário, Paulo Emílio Magalhães, discorda.
"Assim como todos os presidentes da época, eles não pensavam a longo prazo. Era aquela coisa imediatista, contratar jogadores caros, decisões sem fundamento. No Operário fizeram a mesma coisa e eles até perderam a sede. E o futebol profissional é feito de dinheiro. Sem dinheiro, você não faz futebol", diz Paulo Emílio.
Em 2013, Adbar Salles lançou um projeto de recuperação, no qual foram investidos mais de R$ 1 milhão na revitalização da sede até 2018, com o objetivo de modernizar o espaço, que teria até um restaurante de categoria internacional. Entretanto, a dificuldade financeira não permitiu a finalização da reforma.
Paulo Emílio defende que o espaço seja vendido e que o recurso destinado à construção de um Centro de Treinamento para o time. Segundo ele, o clube tem um gasto mensal de R$ 3,5 mil para manter a antiga sede, valor que poderia ser utilizado de outra forma.
"O espaço ali, além de ser grande, perdeu a sua finalidade para Cuiabá. Teria que ser feita uma faculdade, utilizar mais aquele espaço, nesse sentido. Pode fazer um estacionamento, um restaurante, um shopping popular, tem várias alternativas. Agora, o que não pode é ter aquele patrimônio fechado, sendo mal utilizado", disse.
"Mas por enquanto apenas discutimos sobre isso entre alguns conselheiros, porque a gente quer decidir com unanimidade. Temos que ser justos com todo mundo que ajuda, que colabora, que participa do clube. Precisa ser transparente, até para ter uma destinação certa desse recurso".
A queda e o futuro no futebol
O Dom Bosco sofreu mais um baque em 2024, quando o time foi rebaixado para a segunda divisão do Campeonato Mato-Grossense.
"Nós fizemos investimentos que não deram resultados, foram equivocados, mas tentamos. Como eu disse: futebol se faz com dinheiro. E no nosso caso, a gente otimiza. Nós não conseguimos permanecer na primeira divisão, mas não vejo problema, tem vários que caíram. O Mixto, Operário, o Cuiabá agora. Isso é bom para dar uma oxigenada e também para aprendermos com os erros".
Paulo Emílio contou que agora a esperança no futuro do Dom Bosco está sendo depositada na base, que tem as categorias do Sub-13, o Sub-15, o Sub-17 e o Sub-20. Depois de 35 anos, o Sub-20 disputa a Copa São Paulo de Futebol Júnior, também conhecida como Copinha, que começou esta semana.
"Nós temos o Projeto Vencer, em que a gente treina crianças dos bairros da periferia. O Sub-20, hoje, está na Copa São Paulo, representando Mato Grosso. Então temos jogadores, e é isso que nos faz ter uma projeção para a gente voltar firme para a primeira divisão, onde ele sempre tem que estar", disse.
"A gente está dando um passo para trás para dar cinco passos para frente... É triste. É uma questão de organização, e a gente está fazendo parceria com um pessoal muito bacana e muito competente. Eu fiquei triste quando caiu, mas futebol é isso. Essa derrota para nós foi uma tristeza, mas ainda vamos voltar por cima, se Deus quiser".
História no futebol
Apesar de esmaecido, o Dom Bosco continua sendo um dos grandes da história do futebol local. O Leão da Colina foi campeão seis vezes no Mato-Grossense (1958, 1963, 1966, 1971, 1991 e 2015) e participou do Campeonato Brasileiro em seis oportunidades, sendo três na divisão de elite e outras três em divisões inferiores.
Com o centenário, o Dom Bosco está mais uma vez diante de um momento decisivo, e resgatar a grandeza de sua história não é apenas um objetivo esportivo, mas também uma missão cultural e social, afirmou o presidente.
Segundo ele, o apoio dos torcedores e o esforço da diretoria, buscam reescrever a narrativa do clube mais antigo de Mato Grosso e voltar a ser uma referência no Estado.
Veja os vídeos:
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2 Comentário(s).
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Tiago 05.01.25 22h09 | ||||
Que triste | ||||
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Maria Helena 05.01.25 17h34 | ||||
Que triste ver o nosso tradicional Club Dom Bosco neste estado de abandono. Era o melhor ambiente social de Cuiabá.Lembro-me da Baile de Gala da posse do Governador Julio Campos em 15 de março de 1983,uma festa realmente inesquecivel, foi maravilhosa. Hoje está decadende. Reaja sociedade cuiabana...não deixe esse Patrimonio da Cidade se perder. | ||||
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