Cuiabá, Sexta-Feira, 4 de Julho de 2025
"SÍSMICO"
17.05.2020 | 08h20 Tamanho do texto A- A+

Filme de MT sobre "caçador de terremotos" chega à Amazon

Documentário conta a história de Aroldo Maciel, conhecido como caçador de terremotos

Reprodução

Filmagens foram feitas em apenas 15 dias no Chile

Filmagens foram feitas em apenas 15 dias no Chile

BIANCA FUJIMORI
DA REDAÇÃO

“Sísmico”, documentário produzido em 2016 e lançado em 2018, roteirizado e dirigido pelos cuiabanos Severino Neto e Rafael de Carvalho, chegou ao streaming Amazon Prime Video na última semana e está disponível no Brasil.

 

O filme acompanha Aroldo Maciel, um estudioso de terremotos que ganhou fama como “caça-terremotos” ao desenvolver um método capaz de dizer onde, quando e qual a magnitude do próximo abalo sísmico.

 

Severino revela que foi pego de surpresa ao saber que seu filme seria disponibilizado pela plataforma da Amazon.

Aqui em Mato Grosso tem muita coisa acontecendo. A gente tem essa mania de achar que as coisas aqui não são tão importantes

 

“Tento não criar expectativa com nada, mas a gente produz para tentar alcançar as pessoas. Como o filme é de 2017, achei que já tinha sido esquecido. Foi uma surpresa para mim”.

 

Para o diretor, ter uma produção mato-grossense sendo distribuída em uma grande plataforma de streaming mostra que há qualidade no que é feito no Estado e que os filmes têm potencial.

 

“Aqui em Mato Grosso tem muita coisa acontecendo. A gente tem essa mania de achar que as coisas aqui não são tão importantes. Mas há muitos talentos aqui apesar da falta de estrutura, investimento, suporte... Tem muitas histórias sendo contadas. É questão de tempo fazer Mato Grosso reverberar, trazer várias plataformas”, afirma.

 

O filme foi gravado em 15 dias pelos dois diretores, mas com uma grande equipe na produção em Cuiabá, e percorreu seis cidades chilenas - Santiago, Valparaíso, Viña del Mar, La Serena, Coquimbo e Iquique - acompanhado os estragos dos terremotos.

 

Uma ideia

 

Neto conheceu Aroldo quando estudava na Universidade de Cuiabá (Unic). O estudioso é técnico de áudio na instituição e se tornou colega do futuro cineasta.

 

Logo quando o diretor tomou conhecimento do método de prever terremotos, ele quis produzir um documentário contando desse trabalho.

 

Em 2016, Severino e Rafael venceram um edital de fomento à produção audiovisual para fazer um curta-metragem.

 

Severino conta que, inicialmente era para ser apenas um curta-metragem de 15 minutos, mas com a quantidade de material, a produção virou um documentário de mais de uma hora.

 

“Peguei esse dinheiro e em 2017 eu comecei a pesquisar. A gente decidiu ir atrás de um terremoto lá no Chile com o Aroldo. Ele tinha falado que ia acontecer um de magnitude 6.5 em La Serena em determinada data”, relembra.

 

Aroldo conta que recebeu a proposta de participar do filme de 15 minutos, mas sugeriu que pedisse ajuda de seus seguidores no Twitter para complementar os custos da viagem.

  

“Teve um seguidor que emprestou o carro e foi dirigindo para a gente. A TV deu hotel, almoço e janta, teve algumas famílias que nos receberam. Foram de sete a dez dias andando até o norte do Chile com passagens pagas pelos seguidores. Boa parte disso se deve aos seguidores porque só tinha R$ 14 mil ou R$ 15 mil e para fazer o longa ficaria na faixa dos R$ 200 mil”, revelou o estudioso.

 

A partir disso, os três partiram para o Chile registrar o terremoto que iria acontecer e explorar o método de previsão de abalos sísmicos desenvolvido por Aroldo.

 

Amado e odiado

 

No filme, a equipe acompanha Aroldo atrás de um terremoto de magnitude 6.5, que aconteceria em La Serena. O objetivo era mostrar o abalo sísmico, após a previsão do estudioso.

 

Quando Aroldo chega ao aeroporto, equipes de reportagem e muitos fãs o aguardavam como uma celebridade no País. Em Cuiabá, no entanto, o pesquisador é apenas mais um desconhecido que anda de ônibus.

 

“Foi muito incrível porque ele é uma celebridade lá. Não consegue andar na rua sem ninguém querer tirar foto com ele. É muito surreal. Aqui ele é um cara que mora na periferia, pega ônibus todo dia, é técnico de áudio, é um mero desconhecido, é mais um. Lá no Chile é incrível”, afirma o diretor do documentário.

 

O longa-metragem mostra o quanto parte da população chilena é grata pelos avisos do estudioso sobre os terremotos nas redes sociais. Apesar de causar medo, seu método consegue salvar muitas vidas em um local que é constantemente atingido pelos sismos.

 

“Criei uma conta no Twitter e aconteceu o terremoto da Turquia, em que morreram 400 pessoas. E aí já teve um jornalista que me ligou. Depois teve um na Espanha em que morreram 46 pessoas. A conta de 40 seguidores foi para 40 mil. Hoje está com 398 mil”, comenta Aroldo sobre a repercussão de suas previsões na internet.

 

Além de ser parado na rua para tirar foto com os admiradores e ser agradecido pela população, o pesquisador também foi muito recebido com festas pelos moradores.

 

Apesar disso, também há muita resistência ao estudioso. Muitos também o consideram um charlatão, principalmente na comunidade de geofísicos, que estudam terremotos, visto que Aroldo é formado em Letras e pesquisou o assunto sozinho.

 

Ele conta que houve uma campanha de cientistas, políticos e cidadãos comuns para censurar sua imagem no Chile sob a justificativa de que ele causava pânico na população do mundo inteiro.

Alair Ribeiro/MidiaNews

HAROLDO MACIEL

O técnico Aroldo Maciel, que é considerado uma celebridade no Chile

 

“Teve uma campanha de cientistas e deputados para censurar a minha pessoa dizendo que eu causava o medo na população chilena, no mundo inteiro. O que me chocou foi ser recebido com festas em todos os locais, o apoio em massa da população”, afirma.

 

De acordo com Neto, o documentário quer evidenciar esse paradoxo polêmico envolvendo o pesquisador e o método criado por ele. Cabe ao espectador, segundo o diretor, decidir qual lado irá tomar.

 

“O que todo filme preza são as contradições, incoerências, então tem muita gente que odeia o Aroldo, que o considera um charlatão, um bruxo. A maioria dos cientistas o odeia porque o considera um louco que fica fazendo previsões aleatórias e não dão credibilidade para ele. Meu papel é fazer um recorte das duas verdades. Para mim não tem verdade, são duas verdades que eu vu colocar para as pessoas julgarem”.

 

Método polêmico

 

Aroldo conta que começou a estudar abalos sísmicos em 2011, após um churrasco com amigos, onde o grupo comentava sobre o terremoto de magnitude 9.1 que atingiu o Japão.

 

Na ocasião, os colegas falavam que os sismos acontecem aleatoriamente, mas o estudioso discordava dessa ideia. Para ele, não existe caos na natureza e havia uma explicação para os terremotos.

 

A partir disso, em apenas 15 dias estudando os fenômenos, Aroldo conseguiu identificar padrões em terremotos que já haviam ocorrido em dez anos.

 

“Baixei 10 anos de terremoto. Eu vi que muita coisa se repetia e acabei descobrindo esses padrões. Descobri que dá para prever a hora de um terremoto na Califórnia, por exemplo. Quando tem um pequeno evento no Japão, é possível falar a hora que ele vai atingir a Califórnia. Isso já era surpreendente”, relembra.

 

Com esses padrões, ele conseguiu desenvolver um cálculo estatístico capaz de dizer quando, onde e a que magnitude o próximo abalo sísmico iria acontecer.

 

Aroldo explica que há uma energia embaixo das placas tectônicas, cujas colisões provocam os terremotos, que migram para outras regiões do globo.

 

“Não é o terremoto que migra, é alguma coisa que causa o terremoto. Se alguma coisa pudesse se mexer livremente embaixo da placa, ela poderia causar o terremoto. É possível medir a velocidade e com base na magnitude é possível saber quando de energia aquele fenômeno liberou”.

 

A partir de um sismo, é possível traçar linhas no mapa que irão indicar a localização exata onde o próximo terremoto irá ocorrer, segundo o pesquisador.

 

“Se você calcular a distância entre o terremoto do Nepal e o terremoto no sul do Japão, você estica uma linha e sabe a que velocidade essa energia está a caminho. Se seguir a linha, é possível falar o nome da cidade”, aponta.

 

Apesar de já ter realizado inúmeras previsões e salvado diversas vidas desde 2011, a teoria da migração ainda não é estudada pelos cientistas.

 

Aroldo teme que seu método seja roubado por pesquisadores de países com mais recursos e valorização à ciência. Para ele, isso seria uma perda para o Brasil.

 

“Espero que depois que o filme for divulgado no País, novos estudos sobre essa migração sejam levados em conta. Eu ficaria muito triste se souber que um americano tomou posse desse conhecimento. Mas é o que eu acho que vai acontecer, é lamentável”, afirma.

 

 

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