Em busca de um local seguro para promover a diversão e o acolhimento de mulheres lésbicas, quatro amigas resolveram se juntar e montar o projeto “Velcre-se”, com intuito de promover festas para o público feminino.
Larissa Sossai, Karola Nunes, Juliana Segóvia e Larissa Velcro sentiam falta de curtir a noite cuiabana em locais que tinham como foco a comunidade LGBTQIA+. Ou seja, boates livres de preconceito, onde elas pudessem dançar sem medo de assédios.
No entanto, há muito tempo as amigas não encontravam mais esses espaços, onde podiam ser elas mesmas, sem julgamentos. Com esse pensamento em mente, o grupo resolveu criar a própria festa voltada para mulheres.
Produtora cultural, Larissa Sossai contou ao MidiaNews que a ideia saiu do papel no final de 2019, quando ela e as outras organizadoras fizeram o primeiro evento da "Velcre-se". A festa foi realizada no já extinto bar Metade Cheio e abrigou cerca de 44 pessoas.
Recebidas com um shot da cachaça regional "Esquenta Xereca" e embaladas pelo ritmo de músicas eletrônicas e dos “hinos” característicos da trajetória lésbica, o espaço era muito mais do que uma festa. Era um lugar onde as mulheres poderiam se conectar, trocar vivências e buscar acolhimento.
“Para além do local que a gente se sinta segura para se divertir, é um espaço de encontro. Então, possibilita que as pessoas se conheçam, se fortaleçam, troquem figurinhas. Para a gente, o projeto foi também uma iniciativa de visibilidade”, explica Larissa.
Segundo a produtora, as mulheres lésbicas ainda sofrem com a dificuldade em se reconhecer nos lugares, principalmente pelo fato do preconceito ainda ser muito forte no Brasil e em Mato Grosso. Ela afirma que a situação faz com que muitas deixem de
viver livres para serem aceitas em um meio heteronormativo.
Com o surgimento do Velcre-se, ainda que com uma adesão pequena, foi possível para essas mulheres se reconhecerem nas histórias de como descobriram sua orientação sexual e, dessa forma, ajudar outras que ainda estavam no início do processo.
“Percebo que, na noite cuiabana, tenho visto as mulheres não se privando de mostrar os seus afetos”, afirma.
Adaptando-se à pandemia
Como o projeto só saiu do papel no final de 2019, não demorou muito para que a festa fosse interrompida pela chegada da Covid-19 no Estado. Larissa conta que foi possível realizar duas edições da Velcre-se, antes que os decretos de restrição fossem implementados.
À época, relata a produtora, as organizadoras já estavam pensando em fazer um evento maior, com música ao vivo e a possibilidade de receber mais mulheres. No entanto, os planos precisaram ser engavetados.
Devido à orientação de distanciamento social, por algum tempo o projeto deu uma estagnada. Como não era possível fazer os encontros presenciais, era como se a conexão com o público tivesse enfraquecido.
No entanto, sabendo da importância de manter a comunidade próxima, as mulheres decidiram se esforçar para manter o projeto como um local de encontro e visibilidade, ainda que virtual.
Dessa forma, elas resolveram convidar artistas lésbicas que trabalham com música tanto para fazer a divulgação de seus trabalhos como para falar sobre a experiência de despontar em um mercado restrito, como o de Mato Grosso.
Denominado “Lesbicanto”, o trabalho envolve dez artistas que vivem do seu trabalho autoral e se apresentam nos bares da Capital. Larissa conta que o convite foi muito bem recebido pelas artistas, que se mostraram interessadas em dividir suas vivências com as entusiastas do Velcre-se.
“Quando fiz o convite, elas adoraram, agradeceram o espaço e a relevância de, não só divulgar o trabalho autoral, mas também poder fortalecer a sua identidade e orientação sexual”, afirma.
Abordando diversos assuntos, como o preconceito e a falta oportunidade para as mulheres nos palcos de Cuiabá, a troca de ideias com as artistas ocorrerá nas redes sociais da Velcre-se.
Futuras festas
Reprodução
As festas começaram no final de 2019 e pararam por causa da pandemia
Com o inicio da vacinação no Estado, as organizadoras ficaram otimistas de conseguirem voltar a realizar a terceira edição da festa em março deste ano. Porém, pegas de surpresa pelo aumento de casos de Covid-19 e Influenza, elas decidiram dar um passo para trás.
Segundo Larissa, ela e as amigas ainda têm esperança voltar à ativa de forma presencial ainda no primeiro semestre de 2022.
“Talvez a gente consiga fazer uma edição em abril, se os casos diminuírem. Está todo mundo morrendo de saudade de se encontrar”, afirma.
Apesar ter surgido com o principal foco no público lésbico, Larissa ressalta que o projeto transcende as barreiras da orientação sexual e hoje é um espaço que acolhe, acima de tudo, as mulheres, sejam elas cis, trans, héteros, lésbicas ou não-binárias.
“A festa não é só voltada para mulheres lésbicas, mas para pessoas que se identificam como mulheres. Então, para a gente é bom que seja um lugar de acolhimento, de não preconceito, que a gente evite essas situações de assédio e, principalmente, que seja um lugar seguro”, finaliza.
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