Consertos Silva 03-08-2018

No Centro Histórico de Cuiabá é comum encontrar inúmeros comércios especializados em consertos variados. Na Rua Campo Grande, próximo ao Beco do Candeeiro, o “Conserto Silva” é um dos estabelecimentos que construiu seu nome na região, dedicando-se a consertar bolsas, malas e bolas há 40 anos.
Dono do estabelecimento, Dejair Silva Santos, de 67 anos, conta que começou a aprender o ofício de consertar objetos de couro aos 12 anos.
Ele recorda que o pai dele trabalhava na extinta "Sapataria Trindade" quando um amigo, Fernando Bispo Alves, pediu demissão e o convidou para “aprender a trabalhar”.
“O meu pai falou: 'você quer estudar ou aprender a profissão?' E eu escolhi aprender a profissão”, disse Silva, revelando ter cursado apenas o ensino fundamental.
Alair Ribeiro/MidiaNews
Dejair SIlva: "O meu pai falou: 'você quer estudar ou aprender a profissão?' E eu escolhi aprender a profissão"
Em 1968, aos 17 anos, o comerciante já era um profissional na arte de consertar objetos de couro e começou a cuidar do empreendimento do amigo do pai sozinho.
“Ele montou uma lanchonete ao lado [do empreendimento] e me deixou cuidando do negócio. Um dia ele saiu e deixou tudo para mim. Ele morreu há uns 10 anos”, conta.
Em 1978, Silva alugou o cômodo onde se encontra atualmente o negócio.
“Abri a oficina para fabricar capa de revólver, cinto, e fui aprendendo. Daí, foram aparecendo as bolsas, pastas e mochilas”, disse.
Ele relembra já ter atendido a clientes que hoje fazem parte da história da capital.
“Já consertei coisas para a esposa do [ex-governador] Garcia Neto, [o historiador] Rubens de Mendonça, grandes advogados. Eu arrumava tudo. Além de mim, só mais um fazia esse serviço, então a gente consertava de tudo”, afirma.
Silva, que começou o ofício consertando sapatos, disse que essa atividade nunca foi o objetivo do comércio montado por ele.
"Quem mexia com sapato era o meu pai. Eu comecei, mas não deu certo", diz o comerciante.
Negócio em família
Diante da demanda, Silva decidiu chamar o irmão, José Gonçalo Silva Santos, na época com 17 anos de idade, para ajudá-lo com o negócio. O irmão, que hoje tem 50 anos, ainda estudava quando o convite foi feito, mas aceitou a proposta e segue o ofício até os dias atuais.
Gonçalo não é de muitas palavras e, apesar de responder pelos consertos na ausência de Silva, faz questão de frisar: “O dono é ele [Silva]".
À reportagem, Silva disse que o legado deixado pela sapataria deve ser passada ao irmão, já que, dos oito filhos que possui, nenhum se interessou pela profissão.
“Tenho oito filhos: seis homem e duas mulheres. Nenhum deles se interessou pela profissão. Um é professor, outro gosta de futebol e assim foi indo. Se eu morrer, quem vai ficar aqui é meu irmão. Mas ainda vivo mais uns 30 anos. Trabalhando, é claro”, ressalta, entre risos.
Uma vida no Centro Histórico
Alair Ribeiro/MidiaNews
José Gonçalo trabalha com o irmão desde os 17 anos
Ativo, Silva não deixa os afazeres de lado por nem um minuto - nem mesmo durante a conversa com a reportagem.
“A gente pode conversar enquanto eu vou trabalhando?”, questioona.
Ele afirma que, durante os 40 anos em que mantém o comércio e os 55 anos que trabalha no ramo, nunca ficou sem serviço. A crise, segundo ele, sempre ronda, mas nunca foi uma preocupação.
Já sobre a violência relatada por diversas vezes por comerciantes do Centro Histórico, Silva diz que já viveu momentos piores em anos anteriores.
“Aqui já foi mais violento, agora melhorou um pouco. Aqui tem o Beco do Candeeiro e o pessoal de rua, mas conosco eles quase não mexem. Eles só gostam de mexer com gente rica", afirma, rindo mais uma vez.
A falta de estacionamento na região e a infraestrutura muitas vezes precária não fizeram com que Silva pensasse em se mudar do ponto atual, segundo o comerciante.
Ele conta que, para que ele e o irmão tivessem comodidade, decidiu alugar outro imóvel - com banheiro, cozinha e um espaço para estoque de materiais para uso no trabalho.
“Meu serviço não 'pega' muito em bairro. Aqui é o meu lugar. Todo mundo passa pelo Centro e já vem direto aqui”, diz.
“Cada dia aparece uma pessoa diferente, graças a Deus. [Recebo] principalmente serviços [de conserto] de mochilas, que estragam muito. Agora, a maioria delas é feita de material sintético, plástico, tecido. Antigamente era só couro”, conclui.
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11 Comentário(s).
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Salomão Francisco Gomes Bezerra 06.08.19 08h50 | ||||
Companheiro de infância, na Praça Popular , hoje Praca Goiabeira. Gente boa o Jair. | ||||
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PAULO FRAGA 23.04.19 11h36 | ||||
muito bom saber que tem estes especialistas em cuiaba. | ||||
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Flávio Disarz Sales 17.01.19 13h43 | ||||
Alguem teria algum telefone para contato deles, preciso consertar uma mala urgente... | ||||
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Adilson Figueiredo 06.08.18 13h12 | ||||
Zezinho...Grande homem e virtuoso. Fomos lobinhos no Grupo Pascoal Moreira Cabral, no quintal do Frei Quirino... | ||||
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Lisandro Peixoto Filho 06.08.18 12h14 | ||||
Parabéns aos irmãos e a reportagem por nos mostrar que em tempos do digital as mãos nos faz humanos! | ||||
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