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GELADA...
20.11.2017 | 08h40 Tamanho do texto A- A+

Há trinta anos, contador faz sucesso com cerveja "véu de noiva"

Estabelecimento, no bairro Duque de Caxias, é conhecido por moradores como “Cabeça de Boi”

Alair Ribeiro/MídiaNews

A família mantém o negócio há quase meio século no Bairro Duque de Caxias

A família mantém o negócio há quase meio século no Bairro Duque de Caxias

CINTIA BORGES
DA REDAÇÃO

Quem passa pela Rua General Teofilo Arruda, no bairro Duque de Caxias, especialmente às sexta-feiras, é surpreendido por uma movimentação incomum nas redondezas. No endereço, Jorge Luiz Gomes Conceição conduz o botequim mais famoso da região: o Bar do Jorge. 

 

Contador de profissão, seu Jorge, aos 56 anos, toca o estabelecimento há três décadas. Mas local era uma mercearia administrada inicialmente pelo seu pai, há quase 50 anos.

 

A fama do bar se deve a um conjunto de fatores. O principal deles é a cerveja.

 

Popularmente conhecida como “mofada”, “véu de noiva”, “branquinha”, a bebida é servida quase congelada. A temperatura agrada aos amantes de cerveja, em especial por causa do calor cuiabano.

 

E qual é o segredo? “Quando é que o leite fervendo derrama? Quando você descuida. Para essa cerveja chegar a esse ponto, controlo sempre. Eu dou quatro a cinco reguladas no freezer por dia. Estou sempre de olho”, diz seu Jorge.

 

Por noite, Jorge revela que vende 10 a 15 caixas de cerveja, o que dá uma média de 240 a 360 garrafas. Nas sextas-feiras, com o movimento intenso, a média aumenta para 50 engradados – 1,2 mil garrafas. 

 

Para acompanhar, o cardápio é diverso. O mais pedido é o bolinho de carne e a variedade de 11 sabores de pasteis bastante recheados: carne, carne e queijo, frango, misto (queijo e presunto) e outros tantos sabores, por R$ 4 cada.

 

Assim como o bar, a receita secreta do bolinho de carne vem de família. “Fazíamos o bolinho para comer em casa, nos fins de semana. A minha esposa teve a ideia de vender no bar e deu certo. Mamãe fazia o bolinho sempre nos almoços de domingo e ensinou minha mulher a fazer a receita. Hoje, o bolinho de mamãe não é tão gostoso quanto o da minha mulher”, conta.

 

O bolinho de carne é empanado com uma massa fina de trigo e recheado com carne moída bem temperada, e acompanha os molhos característicos de um boteco: alho e pimenta.

 

Por noite são vendidos cerca de 50 bolinhos de carne. Às sextas, como a movimentação é maior, apenas de bolinho são 150 unidades. “E todos bem fresquinhos. Nós não trabalhamos com salgados congelados”, orgulha-se seu Jorge.

 

Cabeça de boi

 

Ele é o morador mais antigo da rua, titulo endossado por vizinhos. Há quase 50 anos, o pai tocava uma pequena mercearia.

 

Ainda nessa época, um vizinho na frente do estabelecimento vendia cabeças de boi assadas como petiscos. E, por causa disso, até hoje o lugar é lembrado por esse nome.

 

“O pessoal que passava via três, quatro, cinco mesas com aquelas cabeças de boi enormes comendo com mandioca cozida e vinagrete. E o pessoal que passava começou a ficar curioso com aquela iguaria”, conta.

 

Com a desistência do pai em tocar a mercearia, Jorge assumiu o comércio, mas não deu certo. Conciliar o trabalho de contador com o estabelecimento ficou quase impossível.

 

Pai de três filhos e com pouco dinheiro na conta, Jorge então resolveu vender toda a mercadoria do comercio e ficar com apenas duas caixas de cervejas e uma de refrigerante. Vendeu tudo, mas não tinha o movimento que queria.

 

“Como dava pouco lucro, coloquei uma mesa de sinuca. E a sinuca começou a levantar o bar. Mas o ambiente começou a ficar meio pesado. Aí resolvi tirar. Nisso, a minha mulher começou a fazer os salgadinhos”, diz.

 

Aos poucos, o movimento foi crescendo, mas o dinheiro ainda era curto. Um dia, como um pedido aos céus, Jorge foi “abençoado” - como gosta de falar.

 

“Foi por Deus, mesmo. Um belo dia eu estava aqui no bar, triste, porque tinha três filhos para criar e educar, sem dinheiro. Comprei um freezer novo, instalei e coloquei algumas cervejas”, conta. 

 

No outro dia, chegou o primeiro freguês, e entre colocar a cerveja no balcão e ir pegar os copos, a "mágica" aconteceu: “A cerveja ficou branquinha”. 

 

“O cliente falou: ‘Nossa, Jorge, que cerveja linda essa?’. E eu pensei: rapaz, o negócio é esse. É fazer a diferença, vender cerveja bem gelada”. Na outra semana, mesmo sem poder, eu comprei mais um freezer. E comecei a trabalhar assim: trabalhava com um, carregava outro. E assim foi...”.

 

O bar foi crescendo e Jorge chegou a abrir de domingo a domingo. O auge foi em meados de 2010, que chegou a vender 800 caixas de cerveja por mês – quase 20 mil garrafas de cervejas.

 

Mas em respeito e consideração ao vizinhos, parou. “Muita gente me chamou de louco por abrir mão do sábado, quando eu cheguei a vender 60 ou 70 caixas de cervejas. Eu funcionava direto, de domingo a domingo”.

 

Vendo a movimentação do Bar do Jorge, um estabelecimento próximo começou a colocar música ao vivo para também atrair fregueses. Com isso, vieram as reclamações dos moradores do pacato bairro.

 

“O pessoal denunciava a bagunça e o barulho. Eu cheguei a fechar o bar por três meses. Voltei a abrir de terça a sábado, mas depois de um tempo achei melhor não abrir mais no sábado e nem nos feriados. Sabe por quê? Se eu fecho sábado, domingo e segunda, o pessoal que trabalha durante a semana vai ter o sossego dele garantido, sem moagem de bar”.

 

Com o fechamento, seu Jorge readequou as despesas, demitiu alguns funcionários e preferiu levar a vida com mais harmonia entre os vizinhos.

 

Futuro

 

A reportagem perguntou se Jorge pensa em se aposentar, e ele prontamente responde: “Não”, e enfatiza a negativa com a cabeça. “Enquanto tiver saúde eu vou trabalhar”.

 

Os três filhos, que trabalham no bar, não se mostram muito dispostos a manter a tradição. “Eu não sei se meus filhos irão permanecer com o bar. Eu não sinto ‘aquela vontade’ neles”. 

 

Jorge explica que os três são formados e tem suas profissões. “O que está encaminhando para, talvez seguir, é meu filho Victor. Ele sabe tudo do bar. Hoje, ele que manda e eu só supervisiono. Torço para que ele continue”, suspira.

 

Serviço

 

O bar funciona das 17h às 23h. De terça-feira à sexta-feira.

 

A cerveja custa, em média, R$ 8. E os bolinhos de carne e pastéis, R$ 4.

 

Rua General Teofilo Arruda, nº 102, no bairro Duque de Caxias, Cuiabá.  

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8 Comentário(s).

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Golias  21.11.17 14h32
esse moço sentado à esquerda é lá da minha cidade, GUAPÓ. Marcelinho, MDV
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creuza cornelio da cruz xavier  21.11.17 14h24
pamrabens pela cerveja gelada.
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Lucas  21.11.17 12h13
Melhor happy hour da cidade.
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Dirciley Nunes da Silva   21.11.17 11h29
Vc merece primo vcs sai muito especial merecerem rudo de bom amo vcs. E diego eu te amo muito ele e o garcon mais lindo e simpático dai bjsssss
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Dirciley Nunes da Silva   21.11.17 11h27
Vc merece primo vcs sai muito especial merecerem rudo de bom amo vcs
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