Cuiabá, Domingo, 15 de Junho de 2025
ORGULHO LGBTQIA+
23.06.2024 | 10h00 Tamanho do texto A- A+

Idealizadores recordam primeira Parada; veja imagens da época

Ato acontece na Capital há 21 anos e é momento importante na luta por direitos da comunidade

Acervo APOLGBTQIA+

Multidão anda pela Av. Getúlio Vargas na primeira Parada de Cuiabá, em 2003

Multidão anda pela Av. Getúlio Vargas na primeira Parada de Cuiabá, em 2003

GIORDANO TOMASELLI
DA REDAÇÃO

As Paradas do Orgulho LGBT+ Mundo afora acontecem com o objetivo de comemorar e celebrar o orgulho e a cultura LGBTQIA+, mas, além disso, são como um momento de manifestação contra a homofobia, luta por direitos e reinvindicações por melhorias sociais e por políticas públicas para essa população.

 

foi a primeira possibilidade de a gente sair em público para dizer ‘nós existimos!

No Brasil, a mais antiga é a de São Paulo, considerada hoje em dia a maior do Mundo reunindo cerca de 4 milhões de pessoas anualmente, que teve sua primeira edição em 1997. Em Cuiabá, a Parada ocorre desde 2003 e terá este ano a sua 21° edição.

 

Na capital de um dos estados mais conservadores do Brasil, ir para rua é uma forma de resistência, ressaltam os organizadores. O MidiaNews conversou com três pessoas importantes para o nascimento da Parada em Cuiabá: o jornalista Menotti Griggi, o presidente da Associação da Parada do Orgulho LGBTQIA+ de Mato Grosso Clóvis Arantes e o designer de moda Luiz Pita, organizadores da primeira edição.

 

Clóvis conta que a ideia surgiu no Livremente, primeiro grupo gay fundado em Mato Grosso. “Já havia a Parada de São Paulo e a gente ficava dizendo que tinha que fazer o movimento aqui também. [No grupo] já fazíamos reuniões, atividades... E aí, quando surgiu a ideia da Parada, nós começamos a dialogar, buscar parcerias, convidar as pessoas e saímos com o Menotti para tentar conseguir um trio elétrico”, relembra Clóvis.

 

Já Pita conta que em certo momento cogitou-se não realizar o ato, com receio se iria mesmo dar certo.

 

“[A ideia] começou tímida, só entre a gente. Muitos acharam que não deveríamos fazer e que não ia ter muito público, que era muito arriscado, que muitos não queriam mostrar a cara. Então tinha todos esses questionamentos”, diz.

 

Além disso, segundo o designer, houve preocupação dos organizadores até com o nome do evento.

 

“O Clóvis ficou com medo de colocar o nome ‘Parada Gay’ e não ir ninguém. Então ela se chamava ‘Parada da Diversidade Sexual de Mato Grosso’. Confeccionamos também um monte de máscaras para o pessoal que queria ir, mas não podia se mostrar”.

 

A coragem e o desejo de arriscar falaram mais alto e em 2003 o movimento saiu nas ruas do Centro de Cuiabá, da Praça Alencastro até a 8 de Abril.

 

“Nós falamos: 'Vamos fazer a Parada, vamos colocar a Parada na rua’. E fizemos ainda um pouco desacreditados porque não tinha dimensão de como seria fazer uma Parada em Cuiabá, se haveria adesão e se as pessoas iriam para rua. E elas foram!”, comemora Menotti.

 

Acervo APOLGBTQIA+MT

Especial Parada LGBT

Da esquerda para a direita, um homem não identificado, Luiz, Clóvis e Menotti

 

Na época, além do preconceito, mais evidente do que nos dias atuais, a Parada entrava em um cenário de uma cidade com pouquíssimas opções de eventos para esse público. As baladas e barzinhos voltados para a comunidade LGBTQIA+, tão popularizados hoje em dia na Capital, quase não existiam há vinte anos.

 

“[A Parada] foi a primeira possibilidade de a gente sair em público para dizer ‘nós existimos! Em Cuiabá também existe LGBTs’”, afirma Clóvis.

 

“Até hoje tem a questão do preconceito, mas antes era pior ainda. Então você estar à frente, botar a cara, já era um ato de batalha: ‘Olha, eu estou aqui mostrando’”, reflete Pita.

 

O evento, que reuniu cerca de 30 mil pessoas na edição de 2023, começou tímido em 2003, com pouco mais de mil pessoas. Na época, com menos informação e poucos meios de divulgação, além do preconceito, muitos preferiam não participar.

 

“O maior desafio na época era convencer [as pessoas LGBTQIA+] que eles precisavam ir para rua, que a gente precisava perder o medo. Algumas pessoas ainda usavam máscara, porque não podiam aparecer em público, pois tinham medo de aparecer na televisão e a família ou os chefes verem”, diz Clovis.

 

Segundo Luiz Pita, a divulgação no começo era feita por panfletos que ele pregava em diversos locais, onde ia de moto com o amigo Mauro Falca. Quando houve aparição pública, como na TV, geralmente iam ele e Clóvis, pois muitos ainda tinham receio de serem vistos em público.

 

“[Na primeira] foram cerca de mil pessoas, mas a partir daí só se fortaleceu. Então a gente falou: "É isso! Podemos acreditar nesse movimento’”, concluiu o jornalista Menotti Griggi.

Então a gente falou ‘é isso! Podemos acreditar nesse movimento’

 

Muito além de uma "festa"

 

É comum a visão de que a Parada seria uma grande festa ao ar livre, e daí surgem muitas críticas ao evento. Porém, além de, claro, ser uma celebração, os ativistas explicam que a importância do evento vai muito além.

 

“É um momento político em que a gente vai para as ruas para dizer que a nossa população existe, para dizer à população que nós lutamos pelos nossos direitos”, esclarece Clóvis.

 

“Acho que a Parada tem um papel fundamental para as pessoas entenderem um pouco melhor a população LGBT+. Por que a gente precisa ir pra rua? Por que a gente precisa falar sobre direitos civis? Por que a gente precisa falar sobre saúde, sobre cultura?”, reflete Menotti.

 

Neste ano, de eleições municipais, a Parada traz o lema “Nada sobre nós, sem nós: Vote com orgulho”. A ideia é que as pessoas votem em candidatos LGBTQIA+ ou em simpatizantes da causa. Hoje em dia, a Parada é organizada pela Associação da Parada do Orgulho LGBTQIA+ de Mato Grosso (APOLGBTQIA+MT) e conta com apoios público e de empresas privadas.

 

Além disso, o evento deixa um legado econômico à cidade. Setores de hotelaria, transporte, alimentação, dentre outros são alguns dos beneficiados com o ato.

 

Só nesta edição, são esperadas cerca de 20 caravanas que estão inscritas oficialmente. “É o interior vindo para saber como é a luta aqui para poder lá no interior fazer as suas lutas cotidianas também. Isso amplia a nossa voz”, conta Clóvis.

 

O que falta?

 

Nós não conseguimos nenhuma lei no Estado que garanta direitos

 

Nesses 21 anos, algumas lutas permanecem e, por mais que o cenário pareça ter melhorado ou avançado em alguns aspectos, retrocedeu em outros. Os entrevistados ressaltam que conseguir respeito ainda é uma luta e que os políticos do Estado ainda pouco (ou nada) fazem por essa parcela da população, isso quando não trabalham contra, com discursos e posições conservadoras.

 

Em análise do que mudou nessas duas décadas desde a primeira vez que a Parada saiu às ruas, o presidente da APOLGBTQIA+MT denuncia o fato de Mato Grosso ainda ser um dos estados brasileiros mais violentos contra a população LGBTQIA+.

 

“Nesses 21 anos de parada, nós ainda não conseguimos que a Assembleia Legislativa aprovasse o Conselho Estadual de Políticas Públicas para a População LGBTQIA+. Nós não conseguimos nenhuma lei no Estado que garanta direitos para a nossa população”, lamenta Clovis.

 

“Nós somos hoje um dos maiores movimentos de rua de Mato Grosso e estamos dizendo que nossas existências são importantes. Estamos em todas as profissões e pagamos nossos impostos, portanto nós temos o direito de manifestar”, encerrou ele.

O preconceito ainda existe e muita gente quer nos impedir de ter nosso espaço

 

A primeira e a próxima

 

A reportagem do MidiaNews conseguiu reunir registros raros da primeira edição da Parada, em 2003, que pode ser vista abaixo.

 

A concentração desta edição, que será no próximo sábado (29), é na Praça Ipiranga a partir das 14h. Logo depois, a multidão segue em caminhada até a Orla do Porto, onde diversas atrações musicais se apresentarão. 

 

Informações no Instagram da Parada.

 

Veja abaixo a galeria:

 

Imagens: TV Centro América

 

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GALERIA DE FOTOS
Acervo APOLGBTQIA+MT

Especial Parada LGBT

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