PRISCILLA VILELA
DA REDAÇÃO
Dez anos atrás, Cuiabá contava com apenas um restaurante japonês e poucas pessoas ainda se aventuraram a experimentar a culinária oriental.
Hoje, já é possível notar, em alguns pontos da Capital, que já são mais de 30 estabelecimentos que atendem com essa modalidade de cozinha, movimentando um mercado forte, que gera emprego e gira a economia.
Apesar de parecer um cenário bastante distante diante da realidade, quem acompanhou esse avanço conta com orgulho os passos desse movimento gastronômico.
É o que testemunha, por exemplo, o chef e proprietário do Restaurante “Japô”, Edilson Cavalcante, que abriu o estabelecimento em meados de 2004.
Nessa época, lembrou ele, apenas o restaurante Itiban atendia a um restrito público.
Diante do mercado promissor e ávido pela oferta de uma culinária que ainda não era muito difundida, Cavalcante, juntamente com outros sócios, abriu o restaurante na capital, focando na cozinha clássica.
“O Japô abriu, primeiramente, em Campo Grande (MS), quinze anos atrás. Como um dos sócios se mudou para Cuiabá, surgiu a ideia de então trazer uma unidade para cá e eu acompanhei essa mudança. Nessa época, só tinha um outro restaurante do gênero aqui. Então, podemos dizer que também somos pioneiros”, afirmou.
Há 18 anos no mercado, a proprietária do restaurante Itiban, Helena Yamamoto, conta que foi a precursora da gastronomia japonesa em Cuiabá.
Ela abriu o empreendimento em agosto de 1996, quando o cuiabano ainda “nem era acostumado a comer peixe cru”.
“Eu tenho orgulho de falar que eu e meu marido somos quase fundadores desse mercado aqui. Foi muito complicado introduzir a gastronomia japonesa aqui em Cuiabá porque, naquela época, só quem conhecia eram as pessoas que viajavam muito”, disse.
Essa abertura de mercado, no entanto, escancarou um problema: Cuiabá não contava com mão de obra especializada para atender esse setor e o acesso à matéria-prima na capital ainda era difícil.
O que poderia representar um empecilho para o desenvolvimento do setor, no entanto, surgiu como um modelo de negócio suprido em partes por Eduardo Toshio.
Toshio é legítimo membro de uma família japonesa que trabalhava com a culinária em São Paulo, há mais de 30 anos.
Ele se mudou para Cuiabá por conta da família, já que casou com uma cuiabana e, uma vez em terras mato-grossenses, viu um cenário propício para abrir uma loja de produtos orientais e suprir a demanda por matéria-prima.
Bruno Cidade/MidiaNews
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Edilson Cavalcante, proprietário do Japô
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Foi no hoje falido Supermercado Modelo, da Avenida Prainha, que Eduardo abriu sua loja, cerca de nove anos atrás.
Além do abastecimento, ele ajudou na realização de outro passo importante para a massificação da gastronomia japonesa.
Começou a dar aulas no Senac, o que possibilitou a resolução parcial de falta de mão de obra especializada para trabalhar nos novos restaurantes.
Ativo no processo de transformação, Toshio deixou ainda de somente fornecer produtos e passou a ser consumidor, já que abriu no ano passado o restaurante Sushibox.
“Eu abri essa loja de produtos orientais e lá comercializávamos de tudo, desde peixes até algas, arroz importado. E, ao mesmo tempo, eu comecei a dar aulas no Senac, atividade que realizei por quatro anos. Gostei do mercado que tínhamos aqui e, a partir desse conjunto todo que estava sendo feito, participei da difusão da gastronomia. E hoje tenho um restaurante com a modalidade diferente, que atende com buffet”, disse o empresário.
Hoje, já há restaurantes japoneses para todos os públicos, gostos e bolsos: desde os que preferem os pratos mais tradicionais ou os que, apesar de apreciarem bastante essa culinária, preferem não "chocar" o paladar e provar pratos “ocidentalizados”, até aqueles que gostam de economizar na hora de provar um prato.
Apesar de não haverem números oficiais, já somam mais de 30 os estabelecimentos. Entre eles, estão o Haru, Japô, Aká, Japonês Cuiabano, Sushibox, Kobe, Hyokan, Japaí, Japidinho, Fuji, Tai Wwok.
Clima propício As altas temperaturas de Cuiabá contam como um fator de auxílio para a contínua propagação da cozinha japonesa na capital. Tanto Toshio quanto Edilson Cavalcante são enfáticos em ressaltar o “casamento” entre o calor com o frescor dos pratos japoneses.
“A comida japonesa tem uma tendência forte aqui, porque o clima ajuda bastante. Ela é uma comida leve, é diferente de um churrasco, que você come e quando sai aqui nesse calor, pode pesar no estômago e pode até provocar um mal-estar”, disse Edilson Cavalcante.
Outro ponto de observação em comum dos chefs é que as mulheres cuiabanas são as maiores consumidoras.
“As mulheres se preocupam mais com a saúde e a estética e, como a maioria dos pratos é leve, é unir o útil ao agradável. Eu diria que aqui no meu estabelecimento, 70% do público são do sexo feminino”, disse Toshio.
Bruno Cidade/MidiaNews
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Eduardo Toshio, do Sushi Box
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RendaQuem senta na cadeira de um restaurante japonês pode, muitas vezes, não fazer ideia do círculo que abrange a cadeia.
Três restaurantes ouvidos pela reportagem demonstram que somente um estabelecimento pode gerar mais de quarenta empregos e consumir, cada um, mais de uma tonelada de peixes e mariscos por mês.
Edilson Cavalcante, dono do Japô, disse que, apesar de ainda ser difícil de conseguir funcionários especializados para trabalhar na área, somente o seu restaurante emprega 24 funcionários, em uma única unidade.
Quanto ao consumo, são mais de 1,2 toneladas entre peixes, mariscos e moluscos.
Com o sucesso do empreendimento, o empresário já está, inclusive, construindo uma nova unidade do Japô, que deverá ser aberta ao público em meados de abril.
O espaço, segundo ele, será mais intimista e relativamente maior que o atual, o que possibilitará a abertura de mais vagas de trabalho para atendimento.
Os grandiosos números também acompanham o desenvolvimento do restaurante Haru, conforme é explicado pelo proprietário Nilvo Salvatori.
“Eu conto com duas unidades hoje, uma na Praça Popular e outra no bairro Três Américas. Nestes dois locais, são mais de quarenta pessoas que trabalham comigo”, explicou.
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Itiban: pioneirismo na culinária Japonesa em Cuiabá
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Movimento culturalO renomado chef Fernando Mack, atualmente trabalha com a cozinha contemporânea, mas iniciou sua carreira trabalhando com a gastronomia japonesa, em São Paulo.
Ele afirmou que, como considera a gastronomia cultura, vê nas recentes transformações culturais de aproximação do ocidente com o oriente, um dos fatores propulsores para a maciça difusão da gastronomia japonesa.
“Há um movimento, hoje, que é liderado pelo Alex Atala, que fala justamente isso: comida é cultura. Hoje, o público jovem quer comer sushi; dez anos atrás queria comer hambúrguer. O comportamento cultural é algo inacreditável, e passa pela gastronomia, mudando a cada geração”, enfatiza.
PioneirosA culinária japonesa em Cuiabá pode contar com a família de Helena Yamamoto, do restaurante Itiban, para se estabelecer no gosto popular.
Com quase 20 anos de existência, o local, além de ser de longe o mais antigo, é também considerado o de linha mais tradicional.
Helena contou que, em meados de 1996, morava com o marido no Japão, onde conseguiram juntar algum dinheiro e, ao retornarem ao Brasil, decidiram que iria investir o montante em um negócio próprio.
Como os dois são legítimos herdeiros da cultura japonesa e já sabiam os truques da gastronomia oriental, decidiram então abrir o Itiban, apesar de, naquela época, essa culinária ainda não ter um público específico para ser atendido em Cuiabá.
“Foi bem devagar esse avanço, até que as pessoas começassem a frequentar mais o Itiban. E aí, hoje, vemos que tem mais de vinte restaurantes em Cuiabá. Isso nos deixa muito felizes, pela aceitação que essa cozinha passou a ter”, completou a empresária.
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