KATIANA PEREIRA
DA REDAÇÃO
A juíza da 8ª Vara Criminal de Cuiabá, Maria Rosi de Meira Borba, aceitou a denúncia do Ministério Público Estadual (MPE), que apontou que a morte do estudante africano Toni Bernardes da Silva, 27, foi ocasionada por lesão corporal seguida de morte, causadas pelos policiais militares Higor Marcell Mendes Montenegro e Wesley Fagundes Pereira, ambos de 24 anos, e pelo consultor de telefonia Sérgio Marcelo Silva da Costa, 27.
Dessa forma, ficam remotas as chances de os acusados passarem pelo crivo do Júri Popular. Agora, os três acusados são réus pelo crime de lesão corporal, e não homicídio qualificado, conforme apontou o inquérito elaborado pela Polícia Civil.
Toni Bernardo, que nasceu em Guiné-Bissau, foi morto por espancamento na madrugada de 22 de setembro de 2011, dentro da Pizzaria Rola Papo, no bairro Boa Esperança, em Cuiabá.
Em setembro do ano passado, a juíza da 3ª Vara Criminal, Marcemila Melo Reis, não aceitou a denúncia feita pela promotora de Justiça Fânia Amorim, de lesão corporal seguida de morte, por entender que o crime se tratava de homicídio.
Para defender a tese que o crime de tratava de homicídio, a juíza Marcemila utilizou de trechos da denúncia oferecida pelo MP. Um dos trechos citados é o testemunho da professora Janaína Monteiro Pereira, vizinha da pizzaria e que presenciou a sessão de espancamento.
Janaína disse, em depoimento à Polícia, que viu Toni deitado no chão, com as mãos nas costas, totalmente imobilizado pelo consultor de telefonia e sendo agredido pelos policiais militares.
"Eu pedi para eles pararem com as agressões, que eu estava chamando a Polícia. Eles se identificaram como policiais e continuaram a agredir o rapaz, mesmo ele estando imóvel”, testemunhou a professora.
Em entrevista ao MidiaNews, em setembro do ano passado, o empresário José Dimas, proprietário da pizzaria Rola Papo, que foi palco do assassinato do estudante disse durante os agressores eram muito fortes e que ele se sentiu impotente diante da violência ocorrência dentro de seu comércio. “Imagina a minha situação, quatro jovens fortes em plena forma física e brigando violentamente. Eu não consegui conter a violência, mas pedi para que parassem”, revelou.
Acusados
Os policiais militares Higor Marcell Mendes Montenegro, Wesley Fagundes Pereira e o consultor de telefonia Sérgio Marcelo Silva da Costa, acusados de espancarem o estudante até a morte, respondem ao processo em liberdade.
Os militares estão prestando serviços administrativos no Comando Regional I da PM. Os policiais enfrentam dois processos: um disciplinar, na Corregedoria, e o criminal, que tramita na 8ª Vara Criminal da Capital.
Pena
A promotora Fânia Amorim, quando apresentou a denúncia, já havia adiantado que era intenção do MP pedir a condenação dos acusados por penas que variem entre 4 e 5 anos, em regime semiaberto.
Relembre o caso
O estudante universitário Toni Bernardo da Silva vivia em Cuiabá desde o ano de 2006, quando veio cursar Economia na Universidade Federal de Mato Grosso, por meio de um programa de intercâmbio.
Ele foi morto por asfixia, após ter a traquéia fraturada, segundo o laudo técnico, no interior da pizzaria.
A morte do estudante gerou um atrito diplomático entre Brasil e Guiné-Bissau, que enviou 1500 jovens para estudar em universidades brasileiras.
Estudantes africanos que residem em Cuiabá fizeram Ato de Repúdio à Violência, no Centro Cultural UFMT, em setembro do ano passado. Na ocasião, estudante de Letras, Ernani Dias, representou os alunos africanos que estudam na UFMT e pediu mais atenção da ireconhece que o ato ocorrido envergonha o país e garante que a tragédia não ficara esquecida na UFMT. nstituição no trato com alunos que fazem intercâmbio.
A reitora da UFMT, Maria Lúcia Cavali Neder, reconheceu que o ato ocorrido envergonha o país e garante que a tragédia não ficara esquecida na UFMT.