Cuiabá, Quarta-Feira, 16 de Julho de 2025
DOENÇA PERIGOSA
18.06.2023 | 08h06 Tamanho do texto A- A+

"Não existe ferida que não cicatrize; pode ser câncer de pele"

Especialista esclarece dúvidas sobre o diagnóstico e o tratamento da doença, que pode até matar

Divulgação

Dermatologista Luna Chagas fala sobre as características e os tratamentos para o câncer de pele

Dermatologista Luna Chagas fala sobre as características e os tratamentos para o câncer de pele

ANDRELINA BRAZ
DA REDAÇÃO

A grande incidência de raios solares faz parte do cotidiano dos mato-grossenses, especialmente os cuiabanos. Condição que para a médica dermatologista e professora universitária, Luna Albertini Chagas, é um fator de risco para o surgimento do câncer de pele. Para se proteger, ela recomenda ficar atentos e se proteger dos raios ultravioletas, um dos principais aliados da doença.

 

Segundo o último levantamento realizado pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), estima-se que no ano de 2023, em Mato Grosso, sejam registradas 70 novas ocorrências de câncer melanoma, conhecido pela sua alta agressividade; já para o tipo não melanoma há o indicativo de 2.260 novos casos.  

 

Para obter o diagnóstico precoce do câncer de pele e dar início ao tratamento, o paciente deve passar por exames clínicos, realizados por médicos especializados na área. 

 

A médica pede que as pessoas fiquem atentas a alguns sinais que a pele emite. "Não existe ferida que não cicatrize. Então, sim, precisa de uma avaliação porque pode ser câncer de pele", diz.

  

Confira os principais trechos da entrevista: 

  

MidiaNews - A senhora pode falar um pouco dos tipos de câncer de pele?

 

Luna Chagas - Existem os do tipo melanoma e o não-melanoma. Os tipos não-melanoma estão em 70% a 80% dos casos de câncer. Eles são muito frequentes e são cânceres que, normalmente, crescem localmente, não costumam dar metástase [propagação da doença] e tem um desfecho, quando diagnosticado precocemente, muito bom.

 

Já melanoma é um câncer de pele originado da célula melanócito, responsável pelo pigmento melanina. E presenta em torno de 5% dos cânceres de pele. É um câncer que costuma ser extremamente agressivo, que dá metástase. A metástase costuma progredir rápido e, geralmente, o desfecho é ruim se [o diagnóstico] não for precoce. 

Pode acontecer com qualquer paciente

 

MidiaNews - Uma das informações mais difundidas sobre o câncer de pele é que a forma de contrair a doença é por meio do excesso de Sol. Há outros fatores que contribuem para o surgimento da doença? 

 

Luna Chagas - Tem sim. A radiação ultravioleta influencia, mas a gente tem aqueles pacientes de fototipo mais claro. São aqueles pacientes branquinhos com olho claro, esses são mais suscetíveis; pessoas que têm histórico familiar de câncer de pele... Outras radiações podem influenciar, como radiações ionizantes, trabalho em locais muito expostos à exposição ao Sol, e há algumas síndromes genéticas que predispõem ao câncer de pele. 

 

MidiaNews - De acordo com o INCA (Instituto Nacional do Câncer), em 2022 foram constatados mais de 220 mil casos de câncer de pele não melanoma e quase 9 mil casos de melanoma no Brasil. A maioria foi detectada em homens de pele clara. Esse perfil se aplica à realidade mato-grossense, onde há uma diversidade fenotípica grande?

 

Luna Chagas - Sim, a gente tem esse protótipo de pessoas mais clarinhas que trabalham muito no Sol, que são os descendentes de caucasianos, ou seja, os descendentes europeus. Mas pode acontecer em qualquer tipo de pele. Então, pacientes negros também podem ter câncer de pele. Pacientes mais branquinhos estão mais suscetíveis, mas isso pode acontecer com qualquer paciente. 

MidiaNews - E se torna mais difícil diagnosticar pacientes de pele escura? 

 

Luna Chagas - Para um olho treinado, nem tanto, não faz tanto diferença. A formação do dermatologista é muito voltada para esse diagnóstico. Nós temos um aparelhinho, o dermatoscópio, que utiliza uma lente de aumento e uma luz polarizada que faz com que consigamos observar estruturas que ficam dentro da pele. Isso facilita muito nosso trabalho. Mas nós precisamos esclarecer que a população precisa cuidar. Às vezes as pessoas acham que por ser negra elas não precisam usar protetor solar, porque tem mais proteção e, que, também, não tem câncer de pele. Mas isso pode acontecer sim. 

 

MidiaNews - E existem casos de pessoas que possuem uma manchinha e acham que não é nada... 

 

Luna Chagas - O tempo inteiro. Às vezes as pessoas acham que é uma espinha, uma feridinha que não cicatriza. Tem muita história da espinha, as pessoas falam: “Ah, eu espremi, era uma espinha, e ficou machucadinho e já está assim há 4, 5, 6 meses…um ano, dois anos”. Não existe ferida que não cicatrize. Então, sim, precisa de uma avaliação porque pode ser câncer de pele.

 

Às vezes ele se apresenta como uma mancha ou pinta. Para identificar a gente usa uma regrinha do  A,B,C,D,E. A gente avalia assimetria: Essa manchinha é assimétrica? Dividindo em 4 partes elas não semelhantes?  Se elas forem diferentes, são assimétricas. Bordas, a borda é redondinha regular ou é redondinha e irregular? Se for irregular pode ser câncer. Cores. Tem uma cor ou tem três ou mais cores? Se for três ou mais é favorável a ser câncer. O diâmetro, o tamanho dela é acima de 6 mm? Geralmente, os melanomas são acima de 6 milímetros. Evolução: às vezes ela é uma manchinha, mas mudou de cor e de tamanho ao longo do tempo. Então, houve uma modificação e precisa ser observada. 

 

A regra do A, B, C, D, E a gente fala para os cânceres melanoma. Para o não melanoma pode ser uma bolinha, uma espinha, que você percebe, pode ser uma manchinha que mudou de tamanho e tem outras formas clínicas. Uma ferida que não cicatriza e que sangra espontaneamente, isso pode ser câncer de pele.  

 

MidiaNews - E qual a importância do diagnóstico precoce para o tratamento? 

 

Luna Chagas - Isso muda totalmente o prognóstico. Se você faz o diagnóstico precoce, o tratamento é simples, rápido, pode ser ambulatorial, economiza para o sistema de saúde, melhora as condições do paciente e evita que no futuro ele passe por procedimentos mais dolorosos e mais demorados. 

 

Evita, também, a radioterapia e a quimioterapia. O diagnóstico precoce salva a vida do paciente.  No caso de um melanoma, se você diagnosticar precocemente, você faz uma ampliação de margem e, de repente, ele está tratado e não precisa de mais nada. Então, modifica a vida do paciente. 

 

O câncer que você tem hoje, é resultado da radiação que você tomou há 10, 20 anos atrás

MidiaNews - O melanoma é o câncer que tem a taxa de mortalidade mais alta. Na sua opinião, por que isso acontece?

 

Luna Chagas - Porque ele é um câncer mais agressivo e que dá metástase à distância. Pode dar metástase cerebral, metástase óssea. O paciente sofre as consequências. Esse é um câncer de pele extremamente agressivo, que leva à morte se não tratado. 

 

MidiaNews - E, quando dá metástase, o tratamento muda? 

 

Luna Chagas - Completamente. Quando você tem o diagnóstico de melanoma, ele passa por um estadiamento. Então, pode ser desde uma lesão local, que só estava ali restrita a pele, que é uma doença do dermatologista. A gente diagnostica, trata, avalia se tem algum tipo de infiltração e, ok, vai fazendo o segmento e o acompanhamento.

 

Mas, se já tem infiltração e, se já tem metástase, aí é uma doença do oncologista. Vai precisar fazer exames, vai precisar estadiar, às vezes vai precisar avaliar o linfonodo, se está comprometido, fazer um pet-scan, que é uma tomografia seriada. Vai ter que passar por radioterapia, quimioterapia... Aí, vai depender de qual é o estágio que esse câncer está. Então, quanto mais precoce, mais você evita isso. 

 

MidiaNews - E quais são os sintomas do câncer de pele?

 

Luna Chagas - Normalmente, o paciente só tem aquela lesão de pele. É uma doença que se passa por silenciosa, porque é uma bolinha que está no local que a pessoa não percebe. Uma mancha que está em uma localização nas costas, nas nádegas, em uma região que você não fica observando muito e ela vai crescendo silenciosamente. 

 

No caso do melanoma, quando tem metástase, dependendo do local da metástase, você pode ter sintomas por conta da metástase. Por exemplo, na região cerebral, você tem sintomas relacionados ao sistema neurológico. Então, depende muito, porque são em casos mais avançados. 

 

No caso do não melanoma, se tiver, por exemplo, um sangramento, você vai ter esses sintomas:  um sangramento, ardência, enfim, esses sintomas, ou pode não sentir nada porque ele vai ficar ali quietinho.  

 

MidiaNews - Existe uma área do corpo que esse câncer aparece com mais frequência?

 

Luna Chagas - As áreas fotoexpostas, como cabeça, região de couro cabeludo, braços e membros inferiores. Ou seja, em áreas mais expostas, mas não quer dizer que esses são os únicos locais. Eles podem dar em qualquer região. Isso no caso do câncer não-melanoma, causado pela exposição solar. O melanoma pode aparecer tanto em áreas fotoexpostas quanto em áreas não fotoexpostas. 

MidiaNews - Trazendo um pouco para a região de Cuiabá. Nós estamos expostos ao Sol o tempo todo. Tem alguns cuidados a mais que devemos ter? O que a senhora indicaria? 

 

Luna Chagas - Para o caso de Cuiabá, nosso índice de radiação é bem alto. Então, a fotoproteção ainda é a melhor forma de prevenção. Nós temos que lembrar que o câncer que você tem hoje é resultado da radiação que você tomou há 10, 20 anos atrás. Mas mesmo assim, a gente orienta a usar proteção daqui para frente. 

 

O protetor solar, conforme a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) aconselha aplicar, é com a frequência de a cada duas horas para aquelas situações em que você trabalha exposto ao Sol ou que você transpira muito e que fica completamente exposto. 

 

Para pessoas que não tem essa exposição intensa dá para ser feita a reaplicação do protetor entre 3 a 4 horas. É importante cuidar das áreas de aplicação fotoexpostas; tem que fazer aplicações no rosto, orelhas, nuca, colo, braços e pernas. 

 

O diagnóstico precoce salva a vida do paciente

Tem que associar, também, a proteção solar com a proteção física com roupas, chapéus e óculos, para não esquecer da proteção da retina. Lembrar também da quantidade, a gente dosa, normalmente, em colheres de chá: uma para a região da cabeça, duas para o tórax, uma para cada braço e duas para cada perna. Não dá para economizar, porque aí você vai estar falsamente protegido. Você pensa que está protegido mas está em uma quantidade menor. 

MidiaNews - E quais são os tratamentos disponíveis aqui no Estado para o câncer de pele?

 

Luna Chagas - Bom, existe a lesão neoplásica e a pré-neoplásica. Para as lesões pré-neoplásicas a gente pode fazer tratamentos em consultório com cremes, crioterapia, que é a aplicação do nitrogênio líquido para fazer o congelamento dessa lesão, e a gente pode cauterizar.  

 

Para quem já tem o diagnóstico do câncer de pele, o tratamento é cirúrgico. Tem que fazer a remoção deste câncer. Isso pode ser feito em ambiente ambulatorial. Dependendo das condições do paciente, a gente indica que se faça dentro de um ambiente hospitalar e dentro de um centro cirúrgico.

MidiaNews - Existe uma época do ano que pode ser mais suscetível ao câncer? 

 

Luna Chagas - Aqui em Mato Grosso é o ano inteiro. Mas na época do verão é o período em que acontecem mais exposições, porque as pessoas estão de férias, tem um tempo mais livre e isso acaba levando a mais exposição. Mas tem que ter cuidado o ano todo. Se está em casa, tem que passar protetor, se está chovendo, nublado ou frio;  tem que passar protetor, porque mesmo em dias mais nublados há incidência de radiação. 

 

 

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