Passarelas de Cuiabá são alvos de reclamação: "Velho e perigoso"

Pedestres que transitam por avenidas movimentadas de Cuiabá, como a Fernando Corrêa da Costa e a Marechal Deodoro, dependem diariamente de passarelas para a travessia segura, mas muitos usuários reclamam de falhas na estrutura dos equipamentos urbanos, o que gera transtorno e perigo às pessoas. 

Aqui está perigoso, porque está tudo podre. Arrumaram uma vez, em pouco tempo, mas só macetaram. Eu já até caí

A equipe do MidiaNews realizou uma visita às quatro principais passarelas da Capital a fim de conversar com usuários e entender as demandas de cada uma. 

Segundo os usuários, várias delas possuem danos sérios à estrutura, que podem causar acidentes aos passantes.

Como estão implantadas em locais com grande circulação de veículos e sem proximidade considerável de semáforos e faixas de pedestres, as pessoas atravessam as passarelas com os riscos que as falhas estruturais apresentam.

Apesar disso, também há passarelas que contemplam as necessidades da população, que definiram apenas pequenas mudanças a serem feitas pelo Poder Público. 

Passarela próxima ao Cartório Xavier de Matos 

Além de ser a única sem acessibilidade para pessoas com cadeiras de rodas, pois não possui rampa, a passarela próxima ao Cartório Xavier de Matos é a mais problemática, de acordo com as informações obtidas pela reportagem. 

Inserida na avenida Fernando Corrêa da Costa, a passarela apresenta sérias falhas estruturais, como o próprio material dos degraus e suporte para os pés na parte superior.

Ele é composto por madeira, que está visivelmente apodrecida. É possível ver que os degraus estão todos remendados devido à madeiras quebradas anteriormente. 

Eles foram cobertos por um tapete antiderrapante, mas além de ele não garantir maior segurança e apenas encobrir a madeira deteriorada, parte do tapete começou a sair e se desfazer, o que já causou acidentes. 

A maior coisa que acho que traz essa insegurança é a situação do guarda-corpo. A dimensão é muito baixa, e lá em cima mesmo eu acho que não bate nem no quadril

A pedestre Anita Camargo passa diariamente pela passarela e já caiu por conta do material dos degraus. 

“Aqui está perigoso, porque está tudo podre. Arrumaram uma vez, em pouco tempo, mas só macetaram. Eu já caí ali na estrada em uma noite que passei aqui. Por causa dessas borrachas que estão quebradas, de má qualidade. Eu fui descer e caí na escada”, disse.  

“É escuro, não tem nenhuma lâmpada dentro. Eu passo aqui toda noite, vou na academia, aí o meu tênis segurou na borracha. Escorreguei e caí”, acrescentou.

Além da falta de qualidade do material, a iluminação, a falta de cobertura e a altura do guarda-corpo também são problemas relatados pela população. 

A arquiteta e urbanista Jennifer Abreu também utiliza a passarela diariamente e afirmou que, apesar de a altura da estrutura ser elevada, o guarda-corpo é baixo, o que causa uma sensação de insegurança aos passantes. 

“A maior coisa que acho que traz essa insegurança é a situação do guarda-corpo. A dimensão é muito baixa e lá em cima mesmo não bate nem no quadril. Acredito que deve ser uns 80 centímetros".

"Você vai subindo mais e ela vai perdendo a altura, então se você trombar ou tropeçar e for [depender de] segurar nela, o risco é muito grande de ainda cair, é muito perigoso”, afirmou. 

O guarda-corpo não atinge a altura mínima especificada pela norma da Associação

Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que é de 1,10 metro.  

Victor Ostetti/MidiaNews

Madeiras da passarela próxima ao cartório Xavier de Matos

Ela também disse que a espessura da passagem e da escada é estreita, o que dificulta para duas pessoas passarem ao mesmo tempo.

“Duas pessoas passando ao mesmo tempo, você sente até aquela insegurança de cair de lá. Dependendo da forma que for, uma pessoa tem que esperar a outra para passar nessa parte”. 

Há fiações elétricas que passam rentes à escada, o que também causa incômodo às pessoas, de acordo com Jennifer. 

Além disso, a passarela também é utilizada por estudantes do Colégio Salesiano Santo Antônio que utilizam o transporte público e precisam realizar a travessia para chegar ao ponto de ônibus. 

O estudante José afirmou que passa pelo local há quatro anos e nunca viu mudanças favoráveis aos passantes. “Todo dia passo segurando no corrimão e, dependendo da tábua, prefiro pular, porque tem umas que estão meio soltas, outras íngremes, está ruim”, disse. 

Outro estudante, João Victor, reclamou da falta de cobertura nos períodos de chuva, o que obriga os pedestres a passarem correndo e aumenta a possibilidade de acidentes. 

Passarela em frente ao Assaí Atacadista 

Apesar de a maior parte da estrutura da passarela em frente ao supermercado Assaí da Fernando Corrêa ser considerada satisfatória para os passantes, uma das escadas apresenta problemas consideráveis. 

Há uma parte dela que está sem o corrimão e com os degraus quebrados, além de ter um que está só pela metade.  

A passarela está bem perigosa ultimamente. Esses dias eu quase caí da escada porque a parte que sobe está sem o corrimão

Ana Julia Moreira precisa passar todos os dias pela passarela e afirma que quase caiu por conta da falha estrutural.

“A passarela está bem perigosa ultimamente. Esses dias, quase caí da escada, porque a parte que sobe está sem o corrimão. E como eu estava de capacete, estava andando na pressa, na correria do dia, quase caí”, afirmou. 

Além do perigo relacionado à escada, outra passante, Milena Nascimento da Silva, também citou a falta de iluminação própria da estrutura, o que causa uma sensação de insegurança no período noturno. 

“Acho muito ruim a questão da iluminação também à noite. À noite é bem mais perigoso passar por aqui, porque não tem tanta iluminação, a gente depende dos outros postes [da rua]. [...] Dá uma sensação bem grande de insegurança, uma iluminação própria da passarela seria bom”, disse, ressaltando que passa correndo pela estrutura de noite. 

“Aqui geralmente fica muito ‘doido’ e para a gente que passa indo trabalhar fica bem perigoso”, complementou Ana Julia. 

Passarela em frente ao Atacadão 

Outra passarela localizada na Avenida Fernando Corrêa da Costa fica em frente ao Atacadão, e é utilizada principalmente por pessoas que trabalham em empresas da região próxima ao Tijucal e clientes do mercado. 

Victor Ostetti/MidiaNews

Passarela em frente ao Atacadão

Em geral, os passantes não têm muitas reclamações em relação à estrutura, a não ser pela falta de cobertura, que prejudica os pedestres principalmente na época de chuva. 

“A parte de cima do teto, no caso, se estiver chovendo, você não passa. Podia por pelo menos aquele teto, aquela telha reaproveitável seria bom para a gente”, disse o trabalhador Fernando Franckescolly dos Santos, que passa diariamente pela passarela. 

Além disso, há um ponto de ônibus ao lado dela que é mal iluminado, o que faz do local perigoso no período da noite. Funcionária do mercado, Raquel Aline afirmou que conhece dois outros trabalhadores do local que já foram assaltados no ponto após a travessia. 

“A partir das 19h ali é muito escuro. Tem duas pessoas do Atacadão que foram para lá não tendo luz e foram assaltadas. É muito perigoso de noite”, afirmou. 

Ela prefere pegar ônibus no ponto em frente ao mercado e dar a volta pela avenida ao esperar no local sem a iluminação adequada, com receio de assaltos e furtos, o que gera transtorno e mais tempo de locomoção. 

Passarela em frente à Rodoviária de Cuiabá 

A passarela em frente à Rodoviária de Cuiabá é a estrutura com menos problemáticas observadas pela reportagem. Ela é constituída por rampas e há piso tátil para pessoas com deficiência visual. 

A parte de cima do teto, no caso, se estiver chovendo, você não passa. Podia por pelo menos aquele teto, aquela telha reaproveitável 

No entanto, um dos elevadores não está funcionando, estando em manutenção, e uma das lâmpadas está pendurada, o que pode facilitar acidentes caso alguma pessoa não veja e esbarre nela. 

Victor Ostetti/MidiaNews

Lâmpada pendurada na passarela em frente à Rodoviária

Procurada pelo MidiaNews, a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana e Segurança Pública (Semob) afirmou que está estruturando a contratação de uma empresa de manutenção a fim de corrigir os problemas. 

A Secretaria informou ainda que pretende resolver a situação o mais breve possível, mas não especificou datas.