O Museu da Caixa D’Água Velha, no Centro de Cuiabá, se encheu de cor, sensibilidade e esperança com a abertura da 1ª Mostra de Arte IDATEA - “Crianças do Consultório para o Mundo”, iniciativa da terapeuta ocupacional Ana Maria de Souza Silva, com apoio da Prefeitura de Cuiabá.
Mais que uma exposição, o evento se transformou em um encontro de amor, superação e reconhecimento do potencial criativo das crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e de suas famílias.
Entre os pequenos artistas, o olhar curioso de Francisco, 9 anos, roubou a cena.
Diante dos próprios desenhos expostos em um museu pela primeira vez, ele resumiu o que sentia.
“Eu fiquei com vergonha, mas depois encarei. Agora todo mundo pode ver a minha arte. É só vir e olhar”.
A mãe de Francisco, Vivian Maria de Andrade, acompanhava cada passo com emoção.
“A gente fica muito emocionada. Ele passou por muitas dificuldades, mas ver a evolução dele é indiscutível. A arte é calmante pra ele. Quando está desregulado, é só dar um lápis, papel ou uma tela, ele mergulha e tudo se acalma”.
Para Vivian, a mostra representa algo maior que a exposição de quadros: é um gesto de inclusão e empatia.
“Nem todo autista nasce com um dom artístico. No caso deles, é desenvolvimento, coordenação, trabalho motor. É preciso olhar com amor, entender que não é sobre talento, é sobre evolução. Cada traço é uma conquista”.
A terapeuta Ana Maria Souza, idealizadora do projeto IDATEA, sigla para Iniciativa de Desenvolvimento, Arte, Terapia e Ação, conta que a ideia nasceu de um gesto simples: o convite de um servidor do museu para que uma das crianças expusesse seus desenhos.
“Quando ouvi o convite, pensei 'não só podemos, como devemos'. A Terapia Ocupacional usa a arte como instrumento de reabilitação, mas ela também precisa ocupar espaços de vida, de cidade. Essa mostra é sobre isso, dar visibilidade ao que é diferente, e mostrar que é potente”.
Ana Maria explica que cada obra exposta é fruto de um processo terapêutico que vai muito além da estética. “Às vezes, uma criança chorou por não suportar a textura da tinta. E hoje tem um quadro em tela. Isso é vitória. É a arte abrindo portas e dando voz a quem o mundo muitas vezes silencia”.
A professora Thaís Moraes Arantes, que veio de Goiás para um congresso e acabou se encantando com a mostra, levou duas obras de Francisco para casa. “Achei lindo e criativo. É uma inspiração. Dá pra ver o amor e o suporte da família. O apoio é tudo. Quando a família acolhe, a criança floresce”.
A terapeuta reforça que as famílias vivem uma rotina intensa de terapias e desafios emocionais. “Muitas mães deixam trabalho, carreira, às vezes até a própria identidade pra cuidar dos filhos. É uma luta diária. Por isso, quando a sociedade se abre e oferece espaços como este, é também um gesto de cuidado com essas famílias”.
A Mostra IDATEA é, ao mesmo tempo, arte, terapia e manifesto. Um convite para que o público olhe para além do diagnóstico, enxergue a potência por trás de cada criança e entenda que inclusão não é caridade, é direito e reconhecimento.
Francisco, do alto de sua simplicidade, talvez tenha dito o essencial. “Quem quiser pode vir ver a exposição. E se quiser, pode me chamar, que eu ajudo a desenhar”.
Entre telas, papéis e tintas, o menino que um dia teve medo de se expressar agora inspira outros a vencerem suas próprias vergonhas, provando que a arte, quando é feita com o coração, é sempre libertadora.
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