Surgido da necessidade de abrigar parte dos cuiabanos que precisavam de moradia, o Bairro Pedra 90 hoje é um dos mais emblemáticos de Cuiabá. Não há quem não reconheça seu nome, mas muitos desconhecem a história por trás de como o bairro se consolidou na Capital.
Tudo começou no início dos anos 90. À época, Cuiabá ainda estava se desenvolvendo e Mato Grosso tinha Jayme Campos como governador.
Em entrevista ao MidiaNews, o agora senador conta que havia um problema grave na Capital naquele período, que eram as constantes invasões de cuiabanos que não tinham casas e buscavam abrigo em terrenos particulares.
Ele relembra que era uma situação frequente e que conseguia reunir mais de mil pessoas desabrigadas. Jayme diz que faltava espaço para a construção de habitação para essas famílias mais humildes.
O estopim para que se fosse tomada a decisão de construir um novo bairro ocorreu após uma enorme invasão, que reuniu mais de 4 mil pessoas em frente ao Centro Político Administrativo. Vendo a situação sair do controle, o então governador se viu no dever de tomar uma providência.
Jayme, então, junto com sua equipe fez o levantamento de todas as famílias desabrigadas e deu a oportunidade para que cada uma realizasse um cadastro que, futuramente, garantiria que eles teriam um terreno para construir sua casa própria.
Ao mesmo tempo, Jayme comprou um enorme terreno que pertencia ao fazendeiro Milton Rabelo de Castro e decidiu que ali seriam construídas as habitações dos cuiabanos. Foi um trabalho que levou tempo e custou dinheiro, mas no final o entao governador conseguiu realizar oito mil loteamentos para oito mil famílias.
“Houve uma condição para que todo cidadão humilde, brasileiro, que morava aqui em Cuiabá e queria ter a oportunidade de ter uma área de terra para construir a sua habitação”, afirma.
Cada terreno foi entregue com um kit de tijolos, cimento, areia, cascalho e ferro para que cada família tivesse autonomia de erguer sua casa própria apesar da baixa condição financeira. E foi assim que o bairro deu seus primeiros passos.
Orgulho do criador
Jayme conta que o nome “Pedra 90” veio do slogan de sua campanha como governador. Ele se diverte ao lembra que era chamado de “Pedra” pelos mais próximos e com o tempo o apelido mudou para “ Jayme Pedra 90”.
A nomenclatura, o senador explica, faz referência ao diamante de maior valor entre as joias. Quando usado de forma informal, o apelido traz o mesmo significado e se refere a uma pessoa de grande valor e que cumpre com os compromissos.
“É um dos maiores orgulhos que tenho, ter implantando e construído o Bairro Pedra 90. Isso é uma satisfação indiscutível como ex-governador”, confessa.
Primeiros moradores
O marceneiro Silvanio Guedes tinha 22 anos quando se mudou para o Pedra 90. Ele morou no bairro logo após sua construção e contou à reportagem que tem memórias de quando local era apenas uma grande fazenda.
Diferente de outras famílias, o lote em que morou foi comprado. Segundo Silvanio, o morador que recebeu o terreno do Governo queria morar em outra região da cidade, por isso decidiu vender a ele.
No início, confessa, foi difícil viver no bairro, pois, como ainda era muito recente, havia alguns problemas com o abastecimento de água e a logística para chegar ao Centro da Capital. Não tinha estrada asfaltada e só havia um ônibus que passava pelo bairro.
Silvanio, que trabalhava em Várzea Grande, conta que precisava estar no ponto religiosamente às 4h da manhã, pois era o horário que o primeiro transporte passava. Caso contrário, o morador só conseguiria outro ônibus às 9h.
“O início do bairro não foi fácil. Só começou a expandir e dar uma melhora nos anos 2000, quando veio o asfalto e uma infraestrutura boa”, relembra.
Devido às dificuldades, Silvanio foi um dos que escolhei se mudar, mas retornou anos depois para construir sua marcenaria no bairro. Ele afirma que tomou essa decisão porque via potencial para que o Pedra 90 virasse sinônimo de desenvolvimento, o que se concretizou, na visão do morador.
Já Aristides Leite de Arruda também foi outro que começou a morar na região assim que os lotes foram liberados e contou que também viveu momentos difíceis com a família. Apesar de hoje amar o bairro, relata que no início teve dificuldades.
Cidade dentro de um bairro
Por muitos anos, o Pedra 90 ganhou a boca popular por brincadeiras com a distância do bairro ao Centro de Cuiabá. A fama era muito baseada na época em que se tinha dificuldade no transporte para chegar na região. Porém, isso mudou.
Seja pela necessidade de independência ou pelo desenvolvimento natural do bairro, fato é que, com os anos, o Pedra 90 de modernizou ao ponto abrigar em suas delimitações quase tudo o que os moradores precisam sem que tenham que sair do bairro.
Silvanio diz que tem o sonho de voltar a morar na região. Mais do que isso, o marceneiro conta que é um desejo dos moradores que um dia o bairro seja emancipado e se torne uma cidade.
“Quando eu morei na Capital, em 71, eu fui para Várzea Grande e lá ainda era um bairro de Cuiabá e com o tempo ela foi desmembrada para virar uma cidade e eu acredito que no Pedra 90 vai acontecer a mesma coisa”, explica.
Já Aristides diz se sentir orgulhoso de morar no local até hoje. Para ele, ter construído uma vida com a família no bairro após todas as dificuldades que passou é um das sensações mais gratificantes que tem.
“Nossa base sempre foi aqui, pois no quesito bairro é uma potência que aos meus olhos é de causar inveja. Hoje, só gratidão por ter superado as dificuldades”, agradece.
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1 Comentário(s).
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Lucas 10.04.22 10h19 | ||||
Pedra 90 jamais vai se desmembrar de Cuiabá. A capital ainda não tem nem 1 milhão de habitantes e tem gente querendo desmembranto? Totalmente de necessário, ridículo. Se fosse assim, a grande CPA, região mais populosa da cidade, já teria se desmembrado da capital há muito tempo. Se o problema for distância, tem capitais com áreas urbanas maiores que Cuiabá e nem por isso se desmembraram. | ||||
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