Uma tese de mestrado aprovada na Universidade Federal de Mato Grosso propõe o uso da revista em quadrinhos do super-herói Pantera Negra no ensino sobre a África nas escolas.
A pesquisa venceu a etapa local do prêmio de melhor dissertação do Mestrado Profissional em Ensino de História, que é coordenado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O intuito da pesquisa é promover uma visão alternativa e propor novas narrativas para o ensino sobre o continente, visto quase sempre como um lugar miserável e constantemente em guerra.
“O processo do conhecimento é lento para criar novas visões. O Brasil estuda há muito tempo a África e vem renovando a sua visão dentro das universidades. O problema é que isso não se expandiu de uma maneira mais efetiva para a sociedade brasileira”, diz Renato Cavalcante da Silva, mestrando e autor da pesquisa.
A ideia, segundo o pesquisador, é trabalhar com a revista justamente para contrapor essa visão limitante, que não contempla o caráter multifacetado do continente.
“A revista tem um outro ponto de partida, o de que ali tem um gênio. O Pantera Negra é o primeiro super-herói africano da história a ter superpoderes. Dentro do mundo ficcional, não é comum encontrar super-heróis negros, são poucos se comparados ao universo de super-heróis brancos”, explica.
“Isso tira a referência dos alunos e de nós mesmos, de olhar a história dos povos negros sempre com uma visão marginalizada”, complementa.
O intuito, no entanto, como alerta o mestrando, não é propor o afrocentrismo - corrente que reivindica o continente africano como berço das civilizações.
“A ideia é mostrar a África com novos olhares, novas narrativas. Mostrar que temos uma identidade, mas que temos conexões com eles, somos seus herdeiros. É mostrar que eles têm sua história tão rica e tão plural quanto a nossa”, diz.
O emprego de novas ferramentas no ensino aprendizagem
Além de professor, Renato, de 34 anos, é coordenador da Escola Estadual Professora Elizabeth Maria Bastos Mineiro.
Ele conta que desde o começo do mestrado pretendia trabalhar com alguma mídia da indústria cultural. Isso porque nas vezes em que implementou essas ferramentas em sala, obteve resultados positivos.
“As minhas aulas eu sempre incrementava com filmes, revistas, desenhos...”, recorda.
Segundo Renato, utilizar mídias presentes no cotidiano dos alunos os aproxima do conteúdo a ser estudado.
“Hoje em dia, há uma vertente dentro do campo de ensino que trabalha com histórias em quadrinhos. Ela é uma narrativa ficcional, mas ao mesmo tempo é subsidiada de fatos históricos”, explica
“O Pantera Negra, por exemplo, surge em um momento de crise social por causa da luta dos movimentos de direitos civis e sociais dos afroamericanos. Aquele momento em si é pinçado para a revista”, complementa o docente.
“A cultura africana faz parte das nossas tradições, somos afrodescendentes. Temos que valorizar e conhecer essa cultura, valorizar o nosso passado. Nossa nação é assentada por afrodescendentes. Se não conhecermos a nossa história, não iremos superar os nossos problemas étnicos e raciais”, diz.
O personagem Pantera Negra, interpretado no cinema pelo ator Chadwick Boseman
Guia didático
Além de desenvolver a pesquisa, Renato produziu um guia didático com os resultados da sua investigação. Nela, é possível encontrar parte da história do Pantera Negra associado a eventos históricos do continente.
O material intitulado “Conhecendo a história da África com o HQ Pantera Negra”, é ilustrado e dividido em quatro capítulos.
Apresenta temáticas como o Imperialismo, a invasão dos europeus no continente e a Etiópia como um dos países que nunca foi dominado pelos europeus. A proposta é pensar em uma África para além do senso comum.
“A ideia é trabalhar esse guia didático em sala de aula assim que a pandemia acabar. Será possível ver quais são os resultados práticos dele. Depois pretendo construir uma tese de doutorado e avançar nesse processo”, finaliza o docente.
Confira o guia didático AQUI.
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1 Comentário(s).
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José 03.05.21 11h15 | ||||
Infelizmente tais ideias não trazem unidade, mas sim maior segregação, pois está enraizada na divisão, forçando uma exaltação de grupos. A mal resultado dessa ideia está nítida nos resultados sociais que vivemos É hora de investir em preceitos de respeito, amor ao próximo e resposabilidade para com todos, sem especificação ou divisão, é a liberade com responsabilidade para todos e entre todos, ai sim haverá uma luta por igualdade. Se o princípio raiz não for que a minha liberade está limitada pelo amor, não haver resultado eficaz! | ||||
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