Cuiabá, Terça-Feira, 17 de Junho de 2025
BOMBARDEIO DE FIOS
24.12.2023 | 08h00 Tamanho do texto A- A+

Professora se realiza ensinando crochê em comunidade carente

Técnica manual atrai pessoas de todas as idades; além de ser fonte de renda, ajuda na ansiedade

Giordano Tomaselli/MidiaNews

Alice Pereira confeccionando uma peça de crochê

Alice Pereira confeccionando uma peça de crochê

GIORDANO TOMASELLI
DA REDAÇÃO

A professora cuiabana e especialista em arte manualista Alice Pereira, de 41 anos, levou aos moradores do bairro Parque Geórgia, em Cuiabá, o projeto “Bombardeio de Fios”, que ensina a técnica do crochê a e propaga essa arte manual secular.

Nesse momento, eu fiz uma peça e expus no muro da minha casa, tendo em vista que a gente não podia sair

 

Alice, que aprendeu a fazer crochê aos seis anos, se encantou na época da pandemia pelo movimento “Yarn Bombing”, ou no português “bombardeio de fios”, que consiste em exibir nas ruas peças coloridas oriundas da arte do crochê. O movimento vai na contramão do senso comum de que o crochê é algo para dentro de casa e sim muito mais que isso.

 

“O ‘Yarn Bombing’ é um projeto que eu conheci na época da pandemia, em que as pessoas inicialmente na Europa, produziam e esse material todo era exposto nas ruas. Nesse momento, eu fiz uma peça e expus no muro da minha casa, tendo em vista que a gente não podia sair”, conta.

 

Ela submeteu a ideia de fazer oficina e ensinar a técnica a mais pessoas a um edital da Secel-MT (Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso) e teve o projeto aprovado. Depois, escolheu o Centro de Cultura do Parque Geórgia, bairro da periferia de Cuiabá, para desenvolver a ação.

 

Alice já acompanhava as ações sociais do Centro pela internet, mas nunca teve a oportunidade de fazer qualquer trabalho antes lá. Segundo ela, cerca de 25 pessoas participam ativamente das oficinas, sem contar as crianças, que também demonstraram interesse e aprenderam o básico.

Giordano Tomaselli/MidiaNews

Especial Crochê

O Centro de Cultura do bairro Parque Geórgia

O presidente do Centro, Claudio Dias Filho, de 47 anos, explica a importância da existência do espaço para a população do bairro. “Somos um grupo, um coletivo,  humanitário, social e cultural que funciona de forma voluntária. Trabalhamos pensando nessa questão da democratização da cultura, da comunicação, de incentivo à leitura e a educação popular”, afirma.

 

Com o fim do projeto “Bombardeio de Fios”, ele enxerga um legado positivo deixado para a comunidade. “Trouxe um maior envolvimento da comunidade, as pessoas estão mais empolgadas com essas atividades e com a conclusão do projeto”.

 

O Centro funciona em um terreno no cruzamento de duas ruas sem pavimentação asfáltica. Tem um pequeno espaço aberto com cobertura e um pequeno espaço interno, entre eles uma sala pequena onde há uma apertada biblioteca. No dia em que a reportagem esteve no local, voluntários se dedicavam a terminar a ação final do projeto, a montagem de uma árvore de natal de crochê.

 

Ilda Avelar, de 46 anos, é uma das oficineiras mais empolgadas. “Não sabia nada de crochê, mas estou encantada porque o crochê te deixa em outra dimensão, me transformou. Isso aqui é perfeito para quem é ansioso e eu sou muito. E agora ele me deixou uma paz gigantesca”, diz ela, que tem como meta agora aprender a fazer cropeds.

 

“Eu não me vejo mais sem o crochê, estou totalmente dependente. Se você tiver a oportunidade que eu tive de aprender, não perca tempo”, completou.

 

A arte manual pode servir também de fonte de renda extra. Não faltam relatos de mulheres que conseguiram sua independência financeira com a venda das peças.

 

Uma delas é a professora de história Eliane dos Santos, de 34 anos, que não só conseguiu ter uma renda da sua produção do crochê como hoje vive disso, tendo até abandonado a sala de aula para se dedicar integralmente à sua produção.

 

Giordano Tomaselli/MidiaNews

Especial Crochê

Eliane, Ilda e Alice "crochetando"

Foi uma amiga que viu as produções da professora e deu a ideia de criar um Instagram para divulgar as peças. Além disso, Eliane passou a dar oficinas e buscou se profissionalizar para conseguir extrair da arte a sua renda total, e não só extra, como era no início.

 

“Comecei a dar oficinas e aí eu fui me profissionalizar fazendo um curso de empreendedorismo para saber quanto tempo demora para se fazer uma peça, a questão de precificar, etc”.

 

Apesar da dificuldade maior para manter uma disciplina trabalhando de casa, hoje ela tem horários bem mais flexíveis e pode passar mais tempo com a filha e não pensa em retornar às salas de aula.

 

“Eu sempre falo que se você se organizar, você consegue viver do crochê. Quero ajudar outras ‘Elianes’ que estão por aí, outras mães que têm a necessidade de estar mais próximo dos filhos, mas também ter uma renda financeira, né? E quando elas veem que eu vivo disso, elas veem que é possível”.

 

Alice Pereira ainda garante que crochê não é “coisa da vovó” e sim para todos. “É voltado para quem tiver desejo, para todo mundo. Não é só para baixa renda, não é só para mulheres, não é só para adultos. Temos aqui crianças de seis a senhoras de 80 anos, além de que também temos homens na turma”, diz.

 

O projeto “Bombardeio de Fios” chegou ao fim no dia 16 de dezembro, apresentando para a comunidade do Parque Geórgia uma árvore de natal confeccionada toda de crochê. A iniciativa pode ser só o começo para novos projetos envolvendo artes manuais nessa e em outras comunidades periféricas da Capital, provando o impacto positivo dessa técnica na vida das pessoas.

 

“Este projeto se encerra agora, mas eu vejo enquanto uma semente plantada. A intenção é continuar com oficinas, por isso vamos seguir procurando outros editais ou patrocínio para comprar o material e continuar nossa produção”, finalizou.

 

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