Cuiabá, Quarta-Feira, 16 de Julho de 2025
ARMAZÉM ABRAÃO
15.05.2022 | 11h28 Tamanho do texto A- A+

Quarta geração da família Zaque reabre bolicho que marcou época

Estabelecimento foi aberto originalmente na década de 40 pelo imigrante sírio Abraão

MidiaNews

Leonardo Zaque é novo proprietário, com a ajuda do pai, Francisco Zaque

Leonardo Zaque é novo proprietário, com a ajuda do pai, Francisco Zaque

VITÓRIA GOMES
DA REDAÇÃO

Inaugurado nos anos 40 por um imigrante sírio, o Armazém Abraão, que tem o nome de seu fundador, carrega em sua existência décadas de história e regionalidade que sobreviveram ao tempo e hoje fazem parte da tradição cuiabana. Uma história que foi interrompida há quase 30 anos, mas que agora retorna como uma homenagem aos patriarcas da família.

 

Reinagurado recentemente, o armazém agora é comandado pelo bisneto de Seu Abraão Zaque, o cuiabano Leonardo Zaque. No entanto, por muito tempo o local foi conhecido como bolicho do senhor Alberto Zaque, filho de Abraão e o responsável por resgatar o negócio da família nos anos 70.

 

O armazém original surgiu no calçadão da Ricardo Franco, no Centro Histórico, e na época era uma loja padrão da Capital. Após o falecimento de Abraão, o estabelecimento foi vendido pela família, depois fechou e, por alguns anos, permaneceu sem previsão de retomada.

Depois ele reabriu aqui, começou com tudo. Vendia farinha, banana, bola de basquete, ele pendurava tudo, até caixa de isopor e o balcão era fechado de coisas

 

Foi por volta de 1974 que Alberto decidiu reabrir o bolicho, mas  desta vez na Rua 24 de Outubro, também no Centro. Em entrevista ao MidiaNews, Leonardo conta que a loja do avô era única, principalmente pelo acúmulo de objetos.

 

Francisco, filho de Alberto e pai de Leonardo, nunca chegou a trabalhar no negócio, mas relata que o armazém era lotado de itens, tanto nas prateleiras quanto nas paredes. Ele ri ao lembrar do jeito do pai, que vivia comprando coisas para repor o estoque mesmo sem espaço para um grampo de alfinete.

 

“Vendia farinha, banana, bola de basquete... Pendurava tudo, até caixa de isopor. O balcão era fechado de coisas”, conta.

 

Já Leonardo recorda que quando jovem ia para o armazém do avô Alberto depois do horário de aula para ajudá-lo.

 

“Eu ficava aqui quando estava fora do horário de aula. Tentava ajudá-lo, mas era difícil porque era tanta coisa que quando eu pegava algo, o resto caía. Só ele sabia mexer”, relembra.

 

Ao longo dos anos, o local se estabeleceu como um marco de Cuiabá e era onde Alberto passava a maior parte de seus dias. Todos conheciam o armazém e por muitos anos ele se manteve como símbolo da regionalidade.

 

Um dos marcos para a família ocorreu quando os produtores da novela Pantanal, versão de 1990, foi até o bolicho para comprar itens regionais que iriam compor o cenário das cenas. À época ninguém sabia, mas a produção seria um dos maiores sucessos da TV Manchete.

 

Até nos anos mais precários de sua saúde, Leonardo conta que seu avô continuou trabalhando. Porém, em 2013, vencido por uma pneumonia, Alberto faleceu. E sua esposa, após uma lesão no fêmur, também não pôde continuar o negócio da família. Assim, o Armazém Abraão foi novamente fechado. Não em definitivo, como se verá a seguir.

 

Reabertura e novo começo

 

Demorou nove anos para a família entender que seria uma boa escolha voltar com o armazém. A reabertura, além de manter viva a história que começou com Abraão nos anos 40, também faria justiça aos pedidos de Alberto.

 

Reprodução

Armazém Abraão - Antiga

Alberto Zaque, a esposa, Francisco e parentes em frente ao armazém antigamente

“Ele falava que tinha que continuar, dizia que a gente tinha que assumir. Mas é muito difícil, porque você fica preso dez horas por dia e é muito puxado. Ele trabalhava das 6h até as 18h, então eram doze horas seguidas”, relata Francisco.

 

Apesar das dificuldades, Leonardo resolveu reabrir o armazém, até como forma de homenagear avô e bisavô. No entanto, antes que pudessem colocar o plano em prática, ocorreu a pandemia e a inauguração foi adiada por mais dois anos.

 

O tempo foi bom para que a família pudesse reorganizar o armazém, que ainda guardava os itens colecionados por Alberto durante os anos. Das paredes repintadas de verde às relíquias dispostas nas prateleiras, tudo parece diferente do amontoado de antes, mas ao mesmo tempo é familiar a atmosfera nostálgica do lugar.

 

Leonardo afirma que a maioria dos itens foi retirada do estoque infinito do avô. Segundo ele, muitas coisas nem são mais fabricadas para serem repostas.

 

“É bom preservar, mas é difícil de achar quem continua fazendo esses objetos, porque os filhos que ficaram não continuaram no artesanato como seus pais”, relata.

 

Com a reabertura do armazém, muitos cuiabanos da região ficaram felizes e foram visitar a família. A alegria, além de poder ver o local funcionando, é também oportunidade de manter a tradição dos bolichos acesa na Capital.

 

Leonardo está tentando seguir os passos do avô e bisavô e, apesar de não ter nenhum curso especializado na área de vendas, conta o apoio de seus pais para manter o negócio da vida de sua família existindo por mais muitos anos.

 

“Aqui tem o sangue, o legado da família”, garante.

 

Hoje, de segunda a sábado, assim como seu Alberto e seu Abrão há anos atrás, ele levanta para trabalhar atrás do balcão do armazém com o sorriso de quem sabe que carrega a tradição cuiabana.

 

 

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Vandin Aripa  16.05.22 06h53
Um erro: A novela Pantanal, versão de 1990, foi um grande sucesso, mas da TV Manchete. Na Globo esta novela foi reeditada e está em exibição agora em 2022.
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Carmolino   15.05.22 19h19
Que beleza um armazem que retrata uma Cuiabá de outrora.
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Itamar  15.05.22 16h55
Vou visitar. Sou antiquário, amante de coisas antigas.
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waldomiro lopes  15.05.22 11h48
Maravilha, eu morava em um imóvel bem defronte ao estabelecimento comercial do Seu Alberto Zaque, fiz muitas compras alí bem como no armazem do Seu Ataide Taques, ambos baluartes no comercio daquele local, um distante do outro por duas casas.Que saudades destes guerreiros.
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