Cuiabá, Quarta-Feira, 18 de Junho de 2025
"GELADEIROTECA"
21.02.2016 | 17h47 Tamanho do texto A- A+

Universitário transforma geladeira velha em biblioteca

Cerca de 300 livros compõem projeto de incentivo ao conhecimento

Reprodução

Geladeira em frente a residência tornou-se referência de conhecimento em bairro carente

Geladeira em frente a residência tornou-se referência de conhecimento em bairro carente

VINÍCIUS LEMOS
DA REDAÇÃO

Uma geladeira colorida em frente a uma casa, no bairro São Matheus, em Várzea Grande, traz consigo conhecimento e cultura. Dentro do antigo eletrodoméstico, um mundo de sabedoria é criado a partir dos mais de 300 livros que estão ali, obtidos através de doações.

 

A “Biblioteca Livre” surgiu na região periférica com o objetivo de incentivar a leitura aos moradores. A ideia do projeto ocorreu depois de uma conversa entre um universitário e seu pai, que sempre sonharam em levar conhecimento a pessoas que não tinham acesso a livros.

 

Oferecer livros pra quem quiser ler, sem se importar com os títulos e dando facilidade para que as pessoas consigam levar a obra para casa. Este é o propósito da iniciativa.

 

Criador da “Biblioteca Livre”, o estudante de jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Lázaro Borges, é apaixonado por leitura desde a infância e queria que os moradores do bairro onde vivia com os pais também desenvolvessem a mesma paixão. O pouco incentivo à leitura naquela região o deixava preocupado.

 

Eu sempre quis fazer algo no São Matheus, a ideia da Biblioteca Livre era um esboço de um sonho antigo que, aos poucos, foi tomando forma

“Eu sempre quis fazer algo no São Matheus. A ideia da Biblioteca Livre era um esboço de um sonho antigo que, aos poucos, foi tomando forma”, diz.

 

A concretização do desejo de auxiliar na educação dos moradores do bairro periférico teve ajuda do pai do estudante, o trabalhador autônomo Ederjunior Lino Borges. Lázaro afirma que a participação do pai foi fundamental para que pudesse dar seguimento ao projeto.

 

A ideia de reformar uma geladeira velha e transformá-la em um acervo de livros marcou o início da ação de inclusão literária. Para conseguir as obras que fazem parte do projeto, o universitário pediu doações a amigos e conhecidos.

 

Ele sempre acreditou que o poder dos livros é transformador para o futuro de qualquer pessoa. O estudante viu na biblioteca pública a chance de retribuir a conquista de ter sido aprovado no curso de jornalismo na UFMT.  

 

“A periferia é esquecida. Ninguém se lembra do subúrbio. As pessoas acham que só tem um monte de pobre que só pode trabalhar e trabalhar, mas as pessoas amam ler, elas só não têm acesso a nada. Nunca tiveram nenhuma oportunidade”, explica.

 

A responsável por fazer os empréstimos da biblioteca livre é a mãe de Lázaro, a dona de casa Dorcelina Gomes, que ficou conhecida pelas crianças do bairro como a “Tia dos Livros”.

 

Para pegar emprestada uma das obras literárias, o leitor somente precisa preencher uma ficha com seus dados principais. A partir de então, é possível começar a alugar os livros. Cada empréstimo pode ser feito durante uma semana, com a possibilidade de ter o prazo estendido.

 

Reprodução

Biblioteca Livre

"Biblioteca Livre" tem atraído crianças e adultos em região onde não há acesso à leitura

“Na Biblioteca Livre, não há a burocracia e a chatice que as bibliotecas institucionais têm. Qualquer pessoa pode alugar um livro. A “geladeiroteca” abre por volta das 7h da manhã e, geralmente, fica aberta até 22h”, conta.

 

Futuro

 

O universitário explica que a paixão pela literatura surgiu a partir de incentivos da mãe, que sempre motivou o filho a investir nos livros. No entanto, as dificuldades para ter acesso às obras, quando ainda era criança, fizeram com que o jovem se sentisse motivado a facilitar o acesso de outras pessoas à biblioteca.

 

“As bibliotecas, ao mesmo tempo que oferecem algo grátis, têm um ar cansativo e chato, como se ler fosse uma coisa de gente requintada. Perambulei por diversas bibliotecas até entrar na faculdade, mas na UFMT encontrei a mesma coisa: uma biblioteca e uma academia burocrática, elitizada, mesquinha e antipopular”, conta.

 

Ao lado da namorada, a também estudante de Jornalismo na UFMT, Ana Flávia Corrêa, que ajudou no desenvolvimento da “Biblioteca Livre”, Lázaro pretende expandir o projeto. Os dois compartilham o amor pelos livros e a vontade de levar conhecimento a pessoas que não têm acesso.

 

“Se alguém quiser fazer algo desse tipo, faça. Não espere dinheiro de governo nem de ninguém. Uma Biblioteca Comunitária é a coisa mais fácil do mundo. Com cerca de 50 livros e um sistema simples de cadastro você já pode começar”, diz.

 

“O Brasil precisa tanto de bibliotecas quanto de hospitais. Não adianta cobrar leitura das pessoas se elas não têm como conseguir livros. Isso precisa ser fácil”, completa.

 

Leitores

 

Os maiores frequentadores da biblioteca são crianças e adolescentes. Entre os leitores assíduos, Lázaro destaca a história de uma garota que mora em outro bairro e anda cerca de dois quilômetros para alugar livros.

 

O Brasil precisa tanto de bibliotecas quanto de hospitais. Não adianta cobrar das pessoas leitura se elas não tem como conseguir livros, isso precisa ser fácil

“A Ana Clara mora no bairro Eldorado, que é relativamente distante do São Matheus. Para alugar os livros, ela sempre vai de bicicleta e tem de atravessar uma rodovia bastante movimentada, tudo isso porque perto da casa dela não há nenhuma biblioteca”, comenta.

 

Os adultos, no entanto, também têm começado a se interessar pelo projeto. Uma mulher que mora em uma região distante do São Matheus tornou-se leitora assídua dos livros.

 

“Ela mora em uma fazenda. Como não pode vir sempre à cidade, acaba pegando muitos livros e pede um prazo maior para devolver. Ela adora literatura brasileira e tem lido muita coisa ultimamente”, relata.

 

Doações

 

A “Biblioteca Livre” precisa de doações de novos livros ou gibis. Para ajudar no projeto, Lázaro pede que entrem em contato com ele a partir do e-mail: [email protected].

 

Além das obras literárias, ele também conta que precisa de madeiras, pois pretende expandir a biblioteca e criar uma pequena construção ao lado da sua casa, onde ficará a sede do projeto.

 

“A estrutura física vai ser um ‘puxadinho’, ao lado da casa, onde a gente vai guardar os livros e ter um espaço para aulas. A longo prazo, queremos criar uma espécie de Escola Livre no bairro, com aulas de teatro, redação, pintura, entre outras atividades“, planeja.

 

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COMENTÁRIOS
7 Comentário(s).

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luciléa costa  25.02.16 18h44
são de pessoas assim que nosso Brasil está precisando.Parabéns fiquei muito feliz de ler essa reportagem.
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josias lemes  22.02.16 10h57
Uma idéia muito proveitosa ainda mais quando se trata de educação inclusiva. Parabens aos idealizadores.
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Rosana Abutakka  22.02.16 10h48
De fato, as bibliotecas, em grande parte, e de modo histórico, são espaços desenhados para as classes mais abastadas e de intelecto favorecido. Sua estrutura, burocracia e o próprio clima ali existente, faz com os menos favorecidos não sintam parte daquele universo. É preciso desburocratizar esses espaços, abrir suas portas de verdade para a sociedade que tem o desejo de conhecer novos mundos por meio da leitura. Aculturar-se. Quem sabe bibliotecas itinerantes? Mas, pobre povo, quem nem saúde tem, nem educação tem, que dirá cultura e erudição. Livros? Leituras? Para quê tudo isso? É mais cômodo e menos perigoso dar-lhes pão e circo, assim continuarão sendo o que são, “um pobre povo”.
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katia barbosa  22.02.16 10h27
parabéns pela iniciativa,precisamos de mais pessoas comprometida com a sociedade.Neh vereadores!!!
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rubia carla  22.02.16 10h06
Fiquei encantada com a atitude desse jovem, de se preocupar com outras pessoas,com a cultura..excepcional.
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