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LUTA PELA VIDA
06.03.2016 | 16h48 Tamanho do texto A- A+

Uso de lenço ajuda no tratamento de mulher com câncer

Com a perda dos cabelos, por exemplo, elas buscam alternativas para manter a autoestima

Marcus Mesquita/MidiaNews

Marilene Soares é uma das mulheres que são atendidas pelo Hospital de Câncer MT

Marilene Soares é uma das mulheres que são atendidas pelo Hospital de Câncer MT

AIRTON MARQUES
DA REDAÇÃO

Enfrentar o diagnóstico de um câncer não é tarefa fácil para nenhuma mulher.

 

Diante das incertezas do futuro e de um tratamento altamente agressivo, muitas pacientes se veem desmotivadas e com a autoestima baixa. Quadro que acaba prejudicando a recuperação durante o percalço do combate à doença.

 

No período do tratamento, em que a maioria das pacientes enfrenta os efeitos colaterais da quimioterapia (queda de cabelo, ferida nas bocas, náusea, dores e vomito), atos, que para muitas pessoas são considerados sem tanta importância, podem colaborar para que a recuperação seja mais rápida.

 

Ligada a questões estéticas, a perda de cabelo durante o tratamento contra o câncer incomoda muitas mulheres. Mas o uso de lenços e perucas surge como uma alternativa para que a autoestima feminina não seja prejudicada.

 

Com as opções para disfarçar a queda dos fios, as mulheres que moram na capital e região optam, na maioria das vezes, pelos lenços, que além de serem mais propícios ao clima desértico, dão um colorido na vida de quem precisa ser forte, para enfrentar uma situação tão adversa.

 

Estava no Ceará visitando meus pais quando descobri. [...] Nem sinto falta do cabelo. Vim de lenço, pois evita os curiosos quando ando pela rua. Ficam olhando, mas para mim não quer dizer nada

Marilene Soares, de 51 anos, desde o ano passado, realiza um tratamento contra o câncer de mama. Após passar por uma cirurgia para retirar o nódulo cancerígeno, ela está em sua terceira sessão de quimioterapia.

 

Já sem os cabelos, ela adotou os lenços, que são usados apenas nos momentos em que está fora de casa, para tentar afastar os olhares de curiosos.

 

“Estava no Ceará, visitando meus pais, quando descobri. Apareceu um nódulo e quando vi já estava grande. Nem sinto falta do cabelo. Vim de lenço, pois evita os curiosos quando ando pela rua. Ficam olhando, mas para mim não quer dizer nada”, afirmou Marilene, durante mais uma sessão de quimioterapia, no Hospital de Câncer, em Cuiabá.

 

“Depois da primeira sessão, na segunda semana eu fiquei carequinha. Eu já tinha visto outras pessoas usarem. Mas minha filha chegou a mim e disse: ‘Ah mãe, não vai comprar um lencinho para a cabeça? Vai ficar bonito’. Tenho dois lenços e uso apenas para sair. Esse que estou usando agora foi o meu filho quem me deu”, disse ao MidiaNews, com um sorriso entre os lábios.

 

A paciente afirma que a descoberta do câncer chegou a lhe causar desespero, mas que, com o passar dos dias, ela conseguiu enfrentar a doença com a esperança pela sua melhora.

 

“Quando a gente descobre, o impacto é grande, mas depois a gente assimila e entrega nas mãos de Deus. Segue a vida. Chorar e se desesperar para quê? Não vai resolver”, afirmou.

 

Campanha Lenços e Laços

 

Sabendo que muitas mulheres ficam abaladas quando, após um diagnostico positivo para câncer, se deparam com um tratamento que causa a queda de cabelo e outras transformações em seu corpo, representantes da IMSA Brazil (International Federation of Medical Students Associations of Brazil), na Faculdade de Medicina da Universidade de Cuiabá, desenvolveram a Campanha Lenços e Laços, em parceria com o Hospital de Câncer Mato Grosso.

 

A gente tem o intuito de conscientizar as pessoas que a autoestima é importante para combater o câncer e tentar ajudar as mulheres a superarem a doença

De acordo com um dos organizadores da campanha, o estudante do 4º semestre de Medicina, Hayrã Felipe, a ação tem como objetivo ajudar a resgatar a autoestima e a esperança de mulheres que estão passando por essa situação.

 

“O objetivo da campanha é elevar a autoestima das mulheres que estão passando pelo câncer. A gente tem o intuito de conscientizar as pessoas que a autoestima é importante para combater o câncer e tentar ajudar as mulheres a superar a doença", afirmou o estudante.

 

“O câncer não é para ser lembrado apenas uma vez no ano. Tem que ser debatido o ano inteiro. Vimos algumas campanhas que já são realizadas no Hospital de Barretos e decidimos trazer para a capital”, completou.

 

Segundo o organizador, a campanha vem arrecadando lenços, por meio de doações. Após o período de arrecadação, serão doados às mulheres em tratamento.

 

“Foi feita a coleta de lenços e logo em seguida vamos fazer a doação do material arrecadado para estas mulheres. Arrecadamos mais de 200 lenços e esperamos atender no mínimo 100 . Esperamos fazer esta campanha outras vezes. A sociedade aceitou muito bem e está nos ajudando”, esclareceu o estudante.

 

Aproveitando a comemoração do Dia Internacional da Mulher, a entrega será realizada nesta segunda-feira (07), em um evento realizado no Hospital de Câncer, na Avenida Historiador Rubens de Mendonça (Av. do CPA), na Capital.

 

“Durante esta entrega, vamos promover um dia de beleza. Vão ser feitas fotos com essas mulheres, para que guardem como recordação”, disse Hayrã Felipe.

 

Para quem busca informações, pode tirar suas dúvidas sobre a campanha e participar da ação, por meio da página oficial no Facebook (clique aqui).

 

Marcus Mesquita/MidiaNews

Josenyth Arantes

Josenyth Arantes: "O lenço não é só um adereço, é uma proteção do calor. Além de elevar a autoestima da mulher"

O uso do lenço

 

De acordo com a coordenadora da área de serviço social do Hospital de Câncer, Josenyth Arantes, o uso do lenço vai além da pura e simples questão estética.

 

“Com esse calor cuiabano, dificilmente as pacientes usam peruca. A autoestima fica lá embaixo. Então, o lenço não é só um adereço, é uma proteção do calor. Além de elevar a autoestima da mulher”, afirmou.

 

A coordenadora também declarou que a campanha “Laços e Lenços” irá trazer grande benefício para as mulheres com câncer.

 

“Essa é a oportunidade delas saberem que não existe apenas o lado trágico. É o lado de humanizar o tratamento do paciente, sem falar apenas do lado da doença, mas que também é importante dela estar bem consigo mesma. Da autoimagem”, disse Josenyth Arantes.

 

“Fiquei encantada com a iniciativa, pois foi tomada por estudantes de medicina, que normalmente não veem este lado da humanização. Foi muito bom saber que os futuros médicos estão voltados para a humanização e não só pela técnica da doença”, completou.

 

A coordenadora ainda declara que, fora destas campanhas, a sociedade pode continuar realizando a doação de lenços para as mulheres em tratamento no hospital.

 

“Cabeça erguida”

 

Entre milhares de histórias de luta contra o câncer, não é difícil nos depararmos com relatos como a de Marisete Inocêncio, que aos 46 anos de vida passa por tratamento desde 2014.

 

Passando por mais uma sessão de quimioterapia, ela fala que a descoberta da doença – o primeiro na faringe e depois nos pulmões – mudou totalmente a sua vida.

 

Após tantas dificuldades, resolveu enfrentar a doença com a “cabeça erguida”.

 

“Quando descobri a doença a minha vida mudou. Passei a dar valor a cada coisa mínima. Na primeira vez foi um baque. Entrei em desespero, pois falaram que perderia todos os meus dentes. Cheguei a tentar me matar”, desabafou.

 

Marcus Mesquita/MidiaNews

Marisete Inocenço

Marisete Inocêncio: "Enquanto você tem Deus no coração, tudo é ‘mil maravilhas’"

“Mas depois resolvi enfrentar com a cabeça erguida, pois deve ser assim. Eu estou assim, mas tem mulheres em situações piores do que a minha. Muitas são abandonadas pelos maridos, assim como eu fui. Mas você tem que colocar Deus em primeiro lugar e lutar. É você que tem que se amar. É você que tem que se dar o valor”, afirmou Marisete.

 

Quanto o uso de perucas ou lenços, por conta da perda de cabelo, a paciente diz que não se preocupou com a questão estética, mas afirma que sofre preconceito na rua.

 

“Não me preocupei. Não quis usar peruca, nem lenço ou chapéu. É o meu jeito, nem quando era nova usava maquiagem. E me sinto bem assim. Eu senti muito preconceito das pessoas. Quando estou no ônibus, as pessoas dão uma olhada para mim e chegam a se afastar. Quando ando na rua, as pessoas me olham de cima a baixo, por conta da minha falta de cabelo. Mas eu não ligo”, disse.

 

“São pessoas que não têm amor. Acabou o amor ao próximo. Acham que nunca passarão pelo mesmo, mas isso pode acontecer. Enquanto você tem Deus no coração, tudo é ‘mil maravilhas’”, finalizou.

 

O câncer

 

O Brasil deverá registrar neste ano 596.070 novos casos de câncer. Entre os homens, são esperados 295.200, e entre as mulheres, 300.870. A informação é do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca).

 

O tipo de câncer mais incidente nas mulheres será o de pele não-melanoma (94.910 casos). Depois desse, para as mulheres as maiores incidências serão de cânceres de mama (57.960), cólon e reto (17.620), colo do útero (16.340), pulmão (10.860), estômago (7.600), corpo do útero (6.950), ovário (6.150), glândula tireoide (5.870) e linfoma não-Hodgkin (5.030).

 

Hospital de Câncer

 

Desde 1999, o Hospital de Câncer de Mato Grosso atende a demanda de pacientes com forte suspeita ou diagnóstico de câncer e oferece serviço resolutivo de qualidade nos diversos níveis de complexidade, priorizando o atendimento multiprofissional.

 

A grande maioria dos pacientes (97%) é atendida por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), sendo que somente em 2013, foram realizados cerca de 60 mil atendimentos.

 

Atualmente o hospital é referência no tratamento de câncer em Mato Grosso.

 

Foi considerado como porte “A” entre os Centros de Alta Complexidade em Oncologia (Cacons) do país, de acordo com a portaria nº 2947, publicada em dezembro de 2012 pelo Ministério da Saúde.

 

A instituição dispõe de alta tecnologia, tanto na área de diagnóstico como de tratamento e oferece atendimento em praticamente todas as especialidades da oncologia. Possui 126 leitos, divididos entre enfermaria de clínica médica, cirúrgica, pediátrica e UTI. Além disso, está capacitado para a realização de cirurgias de pequeno, médio e grande porte em diversas áreas.

 

Por ser uma instituição privada e filantrópica, o hospital depende de parcerias e do apoio para manter seu funcionamento. É uma luta diária para fazer o bem em prol daqueles que mais precisam.

 

Os gastos para manter a instituição circulam na casa dos R$ 2,5 milhões mensais. Infelizmente, os recursos recebidos não são suficientes e o déficit chega a R$ 600 mil por mês.

 

O Hospital de Câncer de Mato Grosso busca, por meio de suas ações, mobilizar a sociedade para esta causa, na tentativa de realizar um sonho: garantir um atendimento totalmente humanizado no combate ao câncer.

 

Muitos dos projetos que o Hospital de Câncer possui estão à espera de parcerias e doações para serem colocados em prática.

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