Juro por Deus que tentei outros assuntos, mas não deu. Parece que na minha cabeça a Copa já começou e não consigo pensar por mais de três minutos em outro assunto que não seja futebol. Passei o final de semana largado no sofá da sala, com os olhos pregados na telinha. Me faltaram forças até mesmo para ir até a cozinha e abrir mais uma cerveja.
Me lembro do Jorge Moreno, jornalista cuiabano hoje um cabra poderoso na Globo, que era meu vizinho e tentava me dissuadir do gosto pelos esportes, em meados dos anos 70. Jorge sugeria que eles, os esportes, atrapalhariam minha evolução cultural. "Pé de atleta a gente cura, mas cabeça de atleta não tem cura", costumava dizer o Moreno. Sei não, mas tenho certeza de que minha vida seria muito chata sem a presença dos esportes. Primeiro, praticando-os, até os trinta e pouco... E depois, apenas assistindo pela televisão, porque é muito mais seguro.
Pelas minhas retinas passaram várias partidas de futebol e programas esportivos de análises, comentários etc e tal. Gols de tudo quanto é jeito. Mas o que mais me deixou perplexo de tudo que vi em relação ao futebol foi o comentário do nosso centro avante, Luís Fabiano que, espero, faça muitos gols na África do Sul: "A bola é sobrenatural". Vários jogadores criticaram a bola, mas Fabiano foi o mais original. Me fez lembrar até do grande dramaturgo e também cronista esportivo, Nelson Rodrigues, segundo o qual, o futebol é ‘a pátria de chuteiras'.
Eu sequer sabia que a bola desta Copa seria diferente. Mais leve, devo acreditar. Foi o que deduzi dos comentários dos nossos craques. Disseram que quando batem na bola esperando obter um tipo de efeito, que a fará fazer uma curva ao longo de sua trajetória, a pelota oscila na direção várias vezes.
Imagino que o novo balão de couro tenha lá a sua semelhança àquelas antigas bolas de borracha, denominadas ‘dente de leite', que ‘vareiam' até não poder mais. ‘Vareiam', do verbo ‘vareiar', a grande contribuição do Didi Mocó Colesterol Zacarias Mussum, para a língua portuguesa.
Fico com pena dos goleiros. Uma profissão onde não se pode falhar. E me bate aquele saudosismo de um tempo que não cheguei a viver. Aqui na redação do DC tem gente que diz que eu assessorei Moisés, aquele personagem bíblico, mas é mentira. Eu falo é dos tempos do Didi, o inventor da folha seca, aquele chute que faz curva, e entra bem no ‘ângalo' (como diriam cuiabaníssimos), ou onde a coruja dorme, como frisam alguns narradores futebolísticos. E que venha a Copa.
LORENZO FALCÃO é editor do DC Ilustrado, caderno de Variedades do jornal Diário de Cuiabá.
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2 Comentário(s).
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Roberto A 01.06.10 10h32 | ||||
detesto futebol, mas infelizmente o povo ama, e pior ainda, o governo ama ainda mais, pois o povo não lembra do que realmente importa. tempo de copa... | ||||
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Elzis Carvlho 01.06.10 09h25 | ||||
Muito boa a sua observação. Confesso que ri muito, quando o Luiz Fabiano disse que a bola é "sobrenatural". Para ele - goleador nato - vai ser uma maravilha, mas para muitos goleiros uma tragédia. Entretanto em um dos treinos da seleção canarinho vi o Kaka cobrando uma falta e adivinha onde foi parar? É isso mesmo, a pelo menos uns seis metros do gol, por isso os jogadores estão reclamando muito. | ||||
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