Cuiabá, Segunda-Feira, 23 de Junho de 2025
MARIA AUGUSTA RIBEIRO
20.12.2024 | 05h30 Tamanho do texto A- A+

Meninas viciadas em pornografia

A influência e os impactos no comportamento infantil

Um dos temas mais alarmantes dos últimos tempos é o vício de meninas em pornografia, uma questão que levanta preocupações profundas sobre o desenvolvimento emocional, psicológico e comportamental das jovens ao acessar a internet.

 

Estudos mostram que o acesso a conteúdos pornográficos está cada vez mais fácil e recorrente entre crianças, inclusive meninas, que, anteriormente, não eram o público majoritário para esses materiais.

 

De acordo com um levantamento do Journal of Adolescent Health, o número de meninas que relatam exposição a conteúdos pornográficos antes dos 13 anos subiu consideravelmente na última década. Esse aumento está vinculado ao crescimento das redes sociais, plataformas de vídeo e conteúdos de fácil disseminação, que muitas vezes aparecem de forma acidental ou com baixa supervisão dos pais.

 

Gail Dines, socióloga e pesquisadora em pornografia, alerta que os danos psicológicos do consumo precoce de pornografia promove uma visão distorcida das relações sexuais e afetivas, além de reforçar padrões de comportamento prejudiciais para a construção de uma autoestima saudável.

 

A exposição a conteúdos pornográficos na infância pode gerar o que muitos pesquisadores denominam de “desvios comportamentais”, uma série de reações e atitudes influenciadas pelo tipo de conteúdo consumido.

 

Crianças e adolescentes que consomem pornografia desde cedo tendem a apresentar comportamentos mais agressivos, problemas de relacionamento e uma objetificação de si mesmas e de outras pessoas.

 

Esse consumo influencia diretamente a formação da autoimagem e da identidade sexual de meninas. Essa  visão distorcida de si mesmas, com foco excessivo na aparência e no valor sexual,  passa a ser confundido com aceitação e afeto.

 

Isso é especialmente preocupante porque meninas em fase de desenvolvimento estão construindo suas identidades e, ao assimilar ideias inadequadas sobre o próprio corpo e a própria sexualidade, podem comprometer a autoestima e o bem-estar a longo prazo.

 

Outro ponto importante é a relação entre consumo de pornografia e o aumento de comportamentos hiper-sexualizados. Meninas que consomem conteúdos adultos com frequência tendem a reproduzir atitudes e expectativas que não condizem com a fase de desenvolvimento infantil. Esses desvios comportamentais incluem desde tentativas de imitar o que foi visto até o desenvolvimento de atitudes de risco, como uma sexualização precoce de si mesmas, o que pode atrair situações de exploração e assédio.

 

O vício em pornografia durante a infância e adolescência está associado a problemas de saúde mental que podem se agravar com o passar dos anos. A exposição repetitiva a conteúdos explícitos estimula o cérebro a liberar grandes quantidades de dopamina, o neurotransmissor relacionado ao prazer.

 

Com o tempo, essa sobrecarga afeta o desenvolvimento do sistema de recompensas do cérebro, tornando difícil encontrar satisfação em atividades comuns e saudáveis, como hobbies ou interações sociais.

 

Segundo estudos do Centre for Mental Health Studies, crianças e adolescentes que consomem pornografia de forma compulsiva têm maiores taxas de ansiedade e depressão. Essa relação se deve, em parte, à sensação de culpa e vergonha associada ao comportamento, além das cobranças internas e da pressão para corresponder a padrões irreais de beleza e desempenho vistos nesses conteúdos.

 

Como a Sociedade e a Família Podem Ajudar?

 

É crucial que a sociedade, incluindo educadores, familiares e profissionais de saúde mental, compreendam os riscos do consumo de pornografia para meninas e tomem medidas para combater esse problema.

 

A falta de diálogos abertos sobre sexualidade e o controle ineficaz do que as crianças acessam na internet são fatores que contribuem para a exposição precoce e para o vício em conteúdos adultos.

 

A educação sobre o uso responsável da internet e dos dispositivos digitais é um ponto de partida.

 

Crianças e adolescentes devem ser ensinados a entender os perigos do consumo de pornografia, assim como devem ser orientados sobre temas de sexualidade de forma adequada para a idade.

 

Sempre falo aos pais você esta pronto para falar sobre pornografia com seu filho ou filha? Se a resposta for negativa ainda e muito cedo para dar uma tela na mão deles.

 

Dentro do lar, a supervisão do que é acessado na internet, aliada a um diálogo aberto, são medidas essenciais.

 

Estabelecer um ambiente onde as meninas se sintam seguras para discutir o que veem e questionar padrões é um dos caminhos mais eficazes para a construção de uma autoestima positiva e saudável.

 

O vício em pornografia entre meninas é um problema que deve ser enfrentado com seriedade e responsabilidade. Compreender os danos que o consumo precoce de pornografia causa no desenvolvimento das meninas é o primeiro passo para que a sociedade desenvolva estratégias de prevenção e educação que as protejam. Sem isso, o impacto do vício poderá gerar problemas psicológicos, sociais e emocionais, comprometendo o futuro e o bem-estar de uma geração.

 

Para mitigar esses efeitos, é essencial que família, escola e profissionais da saúde mental trabalhem em conjunto, promovendo o fortalecimento da saúde emocional e da autoestima das jovens.

 

Criar ambientes onde o dialogo é seguro sobre o uso consciente da internet pode ajudar meninas a crescerem livres de padrões nocivos, permitindo que se desenvolvam em sua totalidade e autonomia, sem se verem presas a uma realidade de consumo desnecessário e prejudicial.

Maria Augusta Ribeiro especialista em netnografia e comportamento digital

*Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. 

 

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