Cuiabá, Quarta-Feira, 10 de Setembro de 2025
ROMILDO GONÇALVES
10.07.2010 | 07h49 Tamanho do texto A- A+

O parque está desmoronando!

Fato lamentável: Portão do Inferno corre risco de destruição irreversível

Um importante referencial do polo turístico de Mato Grosso, o "Portão do Inferno" corre perigo de destruição irreversível, sem que o poder público intervenha para evitar esse desastre previsível. ~

Pena, mais um ponto negativo para a enfraquecida política de turismo do estado, não? Atraídos pelas belezas cênicas naturais, a pressão humana pelo turismo contemplativo feito de forma improvisada tem alterado significativamente esse importante ambiente. Pelo que se vê, Mato Grosso não esta preparado para suportar a demanda que ora o atinge, seja em Chapada, no Pantanal, na florestal ou onde quer que seja.

No caso da referida unidade de conservação, passado dezenove anos de sua criação, a exemplo da maioria das unidades federais oficialmente criadas no país, não possui um plano de manejo que defina critérios de uso sistematizado ou regras a ser respeitadas. No conjunto de suas ações o Parque Nacional de Chapada dos Guimarães não suporta a pressão antrópica que ora lhe está sendo imposta.

Outro fator a ser considerado é a fatídica omissão do poder público em não corrigir rotas, não criar infra-estrutura de apoio e logística para atender a real demanda em curso. Esse ambiente de extraordinária beleza, formada por escarpas, serras, morrarias, relevos, cordilheiras, altiplanos, vales, cânions...

Flora e fauna autóctone se encontram entregue as moscas. E assim agredido por ações de vândalos, grileiros, fogo florestal sem controle... Dessa maneira os recursos bióticos e abióticos vão sendo sorrateiramente aniquilados pela omissão do poder público, pena não? Ou falta de respeito?

Um exemplo desse descaso é o que ora se vê no entorno do "Portão do Inferno", ponto referencial dessa unidade. Como constatou o geólogo da UFMT Prudêncio Castro, "nós percebemos aqui vários blocos que já caíram e alguns desmoronamentos recentes" (jornal A Gazeta, 05/07/10).

Pesquisas e sondagens estratigráficas (Almeida, 1948) revelam que a formação do solo chapadense é datada do período devoniano com formação geológica contínua desde o sul de Mato Grosso e Goiás até o norte de Santa Catarina.

Sendo esses sedimentos rochosos constituídos em sua parte basal por arenitos finos, silticos e folhelhos esverdeados caracterizados por uma estratificação cruzada com conglomerados de seixos contendo restos de animais marinhos, com solo frágil não suportando grande pressão antrópica, desgastando-se facilmente.

Os limites destas "séries chapada de cadeias montanhosas" assim definidas por (Almeida, 1954), "são camadas arenosas que constituem a base notável "cuesta" que unem as nascentes dos rios Coxipó-mirins e Cuiabá-mirins formando as serras de São Jerônimo, Atmã, com os nomes locais de Santa Tereza, Chapada, Coroados..."

Portanto, pesquisa é preciso, isto por que a construção de trilhas para visitação pública dentro do parque exige criterioso estudo, uma vez que feitas sem bases científicas facilita a desagregação do solo e consequente surgimento de erosões. Por isso é bom lembrar que sensibilidade desse ecossistema nos impõe um olhar especial da necessidade de preservação do seu conjunto. Caso as autoridades não tomem uma atitude eficaz para conter a desordem ambiental ora em curso nessa unidade, pouco ou quase nada restará em um período de tempo não muito distante.

Queira Deus não aconteça! Porém novas previsíveis e evitáveis tragédias poderão ocorrer a qualquer momento se nada for feito urgentemente. Não podemos e não se devemos pagar para ver. Penso não ser essa a intenção das autoridades constituídas! Todavia a situação exige atitude, respeito e responsabilidade, não?

ROMILDO GONÇALVES é biólogo, mestre em Educação e Meio Ambiente, perito ambiental em fogo florestal e professor pesquisador da Seduc/UFMT.
[email protected]

*Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. 

 

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José das Urtigas  10.07.10 21h26
Muita falação e pouca ação, se de fato corre o perigo, porque os conhecedores, geologos e estudiosos, não acionam o Ministério Público. Preguiça ou conivência. Pobre turismo matogrossence, lançado a própria sorte, não sucumbirá.
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