Em A República, Platão retrata uma da mais intrigante inquietação da humanidade - a ideia de justiça. Dialogando especialmente com Trasímaco, Sócrates tenta convencê-lo do que seja e da vantagem em ser.
Afirma Trasímaco:’Mas quando um homem, além da fortuna dos cidadãos, se apodera das suas pessoas e os escraviza, em vez de receber esses nomes ignominiosos, é considerado feliz e afortunado, não apenas pelos cidadãos, mas também por todos aqueles que sabem que ele cometeu a injustiça em toda a sua extensão; com efeito, não receiam cometer a injustiça os que a reprovam: receiam ser vítimas dela’.
E continua: ’Por isso, Sócrates, a injustiça levada a um alto grau é mais forte, mais livre, mais digna de um senhor do que a justiça e, como eu dizia a princípio, a justiça significa o interesse do mais forte e a injustiça é em si mesma vantagem e lucro’.
Mais adiante, quando Sócrates pergunta se a injustiça seria perversidade de caráter, Trasímaco responde que não, mas prudência.
Sócrates resume, então, a ideia central de Trasímaco: ’o justo não prevalece sobre o seu semelhante, mas sobre o seu contrário; o injusto prevalece sobre o seu semelhante e o seu contrário’.
O argumento de Trasímaco era sofista, prático, queria vencer o embate, mas não descortinar a verdade. Sócrates buscava a verdade, o verdadeiro sentido do justo, a explicação e alcance, e não o viés pragmático e de sobrevivência social.
Adimanto acrescenta algo: ’se eu for justo sem o parecer, não tirarei disso nenhum proveito, mas sim aborrecimentos e prejuízos evidentes; se eu for injusto, mas gozando de uma reputação de justiça, dirão que levo uma vida divina. Portanto, visto que a aparência, como o demonstram os sábios, violenta a verdade e é senhora da felicidade, para ela devo tender inteiramente’.
Realmente, as pessoas, enquanto ignorantes, são levadas pela necessidade, e a aparência parece representar mais felicidade, tendo sua representação máxima nas convenções sociais. Pratica-se a injustiça para sobreviver na ideia de manada, de busca da aceitação pelo grupo e de espaço social, ainda que a extrema injustiça consistir em parecer justo não o sendo.
Em arremate, por vergonha alheia, de Sócrates: ’a mentira nos discursos nada mais é que uma imitação do estado da alma, uma imagem que se produz mais tarde, e não uma mentira absolutamente pura’.
O estado da alma, nessa quadra rasteira e ilusória, não se aconselha no bem e dele não se tem origem. O bem é princípio primeiro, não é passageiro, e, por ser perfeito, emana somente perfeição.
E conclui Sócrates: ’E Deus é essencialmente simples e verdadeiro, em atos e palavras. Deus não muda de forma e não engana os outros, nem por simulacros, por discursos e nem pelo envio de sinais, no estado de vigília ou nos sonhos’.Se quiseres se desculpar, invente outros deuses, pois, O Verdadeiro e que dá sentido a tudo que há de bem e de bom, não se deixa enganar.
É por aí...
GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO é juiz de Direito em Cuiabá.
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1 Comentário(s).
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Carlos Nunes 07.03.16 08h33 | ||||
Pois é, li alguns livros, chamados esotéricos, que descrevem como é a Justiça Divina...e no final dizem que a da Terra devia ser pelo menos um cópia da de cima, e não é ainda. Nessa descrição, dizem que 8 seres cósmicos presidem a Justiça Divina, são seres que vivem no seio de DEUS, e expressam a sua vontade. O mais conhecido é a senhora da Justiça, aquela retratada nos Tribunais, tendo a balança e os dois pratos na mão. Um prato simboliza tudo o que a pessoa fez de Bom (os seus créditos) e outro tudo o que fez de mal (os seus débitos). A alma, sempre antes de cada reencarnação e depois dela, é medida, para ver até aonde avançou (evolução) ou recuou (involução)...essa contabilidade crédito/débito é infalível. Ao lado da senhora da Justiça, está a senhora da Verdade, quando a alma chega perto dela, não pode mentir nem se quiser...só A VERDADE, nada mais do que a Verdade prevalece. Como seria bom que a Justiça da Terra, tão discutida pelos filósofos gregos, optasse só pela VERDADE. Que nada, dizem que para muitos a Verdade é a que menos interessa, um processo bem montado encobre muitas vezes a Verdade, e o bandidão escapa impune como inocente...geralmente a peso do dinheiro. Isso está mudando pouco a pouco. | ||||
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