Morreu na noite desta terça-feira (28), em Cuiabá, aos 89 anos, o coronel José Meirelles, ex-prefeito da Capital.
Segundo informações de familiares, ele foi internado na manhã de ontem no Hospital Jardim Cuiabá porque estava com hemorragia em decorrência de um aneurisma abdominal que se rompeu.
Meirelles chegou a passar por uma cirurgia ontem à tarde, mas sem sucesso. Ele morreu à noite.
O coronel assumiu a Prefeitura de Cuiabá em 1994, quando o então gestor municipal, Dante de Oliveira, deixou o comando do Palácio Alencastro para disputar eleição para governador do Estado.
A notícia da morte foi veiculada no programa
Resumo do Dia, na noite desta terça-feira. O coronel deixou mulher e oito filhos, entre eles a atriz Totia Meirelles.
O corpo do ex-prefeito está sendo velado na Capela Jardins. O enterro será às 16h, no cemitério Parques Bom Jesus de Cuiabá.
Engenheiro, Meirelles comandou a abertura da BR-163 em Mato Grosso, de Cuiabá a Santarém, no Pará. Ele teve ainda participação decisiva na colonização da região Norte do Estado, ao lado de Ênio Pipino e outros desbravadores
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Confira um texto sobre a entrada de José Meirelles na política, escrito pelo jornalista Eduardo Gomes, em 2001, para o Diário de Cuiabá:
Coronel Meirelles, uma vida guiada pela razão e retidão
EDUARDO GOMES
Homem de forte temperamento, mas sempre disposto a ouvir a voz da razão, o coronel José Meirelles recuou diante do conselho expressado por uma frase dita por sua mulher, Zulmira: “Não faça isso, senão você nunca mais se reencontrará”. Ele não questionou, desistiu da idéia de renunciar à prefeitura de Cuiabá e continuou prefeito até o fim do mandato, enfrentando aquilo que chama de fisiologismo da Câmara.
Em 1992, o coronel Meirelles foi eleito vice-prefeito de Cuiabá pelo PSDB na chapa encabeçada por Dante de Oliveira, então no PDT. Dois anos depois Dante renunciou para concorrer e vencer a eleição ao governo e Meirelles assumiu a prefeitura. Naquele momento o país fazia a transição do Cruzeiro para o Real. Isso dificultava a administração e, para complicar, o caixa do município estava em frangalhos.
Prefeito, Meirelles encontrou duas barreiras de difícil transposição: a surda pressão do empresariado e a escancarada faca que a Câmara apontava ao seu peito. Desencantado com as injunções e com a classe política, decidiu que renunciaria. Zulmira o impediu de levar adiante esse plano.
Experiência no campo político nunca deu certo para Meirelles. O governador Carlos Bezerra (PMDB 87/90) o nomeou presidente da estatal Cemat. No cargo, arrumou inimigos poderosos por suas idéias de administração descentralizada e moralizadora.
À época, a Cemat era o principal cabide de empregos do governo. Meirelles criou desconforto na estatal ao anunciar que descentralizaria a administração da empresa, criando núcleos regionais. Sem saber, com isso, cavou sua cova.
O golpe final contra ele foi dado pela então secretária de Obras – à qual a Cemat era subordinada – Inês de Oliveira, irmã do atual governador Dante de Oliveira.
Meirelles vestiu a camisa da eletrificação rural. Para tanto, planejou implantar redes de distribuição com posteamento de madeira. Isso foi a gota d’água. Inês vetou a proposta; ele ainda resistiu, mas foi vencido pela palavra final de Bezerra, que avalizou o posicionamento da secretária, afinal ninguém menos que Armando de Oliveira, irmão dela e de Dante, era o grande beneficiado na venda de postes de concreto à Cemat.
Nem mesmo Meirelles sabe explicar como a política entrou por suas veias. “De repente eu estava na Adesg (Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra) batendo no governo, falando a língua do MDB”, tenta se explicar o coronel.
Quando deixou a ativa do Exército, em 76, Meirelles foi convidado a se filiar ao MDB por padre Raimundo Pombo e Vicente Bezerra Neto. Aceitou com naturalidade e passou a atuar nos bastidores, porque entendia que “milico não deve se meter em política enquanto candidato”.
Em 86, o PMDB conquistou o poder em Mato Grosso. Situacionista, Meirelles foi aproveitado pelo partido na área social e assumiu a Legião Brasileira de Assistência, a LBA. Sua atuação junto ao movimento comunitário o credenciou a disputar a prefeitura, em 88. Foi lançado candidato a prefeito com chances de vitória, mas a fragmentação da oposição, com ele, Serys Slhessarenko (PT) e Roberto França (PTB), facilitou a eleição de Frederico Campos (PFL).
Hoje, distante do burburinho político, Meirelles trabalha no voluntariado da assistência social na Creche São Francisco de Assis e reúne dados para um livro ainda sem título, que pretende escrever.
Sua grande paixão, depois da família, é falar sobre a construção da rodovia BR-163, a Cuiabá-Santarém, obra que executou no trecho de 1.100 quilômetros, de Posto do Gil à serra do Cachimbo (PA), no período de 1971 a 73, época em que comandava o 9º BEC.
Discreto, sem vaidade, disciplinado militarmente, não se cansa de dizer que simplesmente cumpriu uma missão na BR-163. Credita o mérito da obra ao Exército. Mesmo assim, seus antigos comandados e seus ex-funcionários civis o chamam respeitosamente de “Pai da Cuiabá-Santarém”.
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