Cuiabá, Segunda-Feira, 7 de Julho de 2025
OPERAÇÃO LAVA-JATO
21.04.2017 | 10h48 Tamanho do texto A- A+

Odebrecht rebaixa executivos e vende patrimônio para se recuperar

Especialistas defendem que a construtora demorou demais para reformar as regras internas

Reprodução

Fachada da sede da Odebrecht na Zona Oeste de São Paulo

Fachada da sede da Odebrecht na Zona Oeste de São Paulo

RÁDIO CBN

‘Aqui não tem braços cruzados e nem olhos fechados’. As palavras são da nova xerife da Odebrecht. Olga Pontes assumiu a área de compliance da empresa com o objetivo de garantir que o pedido público de desculpas saísse do papel para virar realidade.

 

 Ela conta que o investimento na área, que inclui treinamento em ética para evitar novos crimes, passou de R$ 11 milhões em 2015 para R$ 64 milhões em 2017.

 

Embora os presidentes das empresas do grupo Odebrecht tenham sido trocados, algumas peças do xadrez só mudaram de lugar. É o caso de 26 dos 77 executivos envolvidos na Lava-jato. Eles perderam cargos e status, mas continuaram na empresa como assessores especiais.

 

A empreiteira perdeu mais da metade dos funcionários em pouco mais de um ano. Mesmo assim, Olga acredita que a insegurança dos trabalhadores seja comum em todo o país. ‘Há mais de um ano, 180 mil integrantes. Hoje somos 79, quase 80 mil integrantes. Uma pessoa na Odebrecht, assim como uma pessoa numa empresa que não esteja na Odebrecht, a insegurança pela instabilidade profissional existe’, diz.

 

Para continuar funcionando, a construtora vai ter que pagar uma multa de US$ 2,6 bilhões ao Brasil, Suíça e Estados Unidos. Parte desse dinheiro deve vir da venda de parte do patrimônio da empresa, como a Odebrecht Ambiental, que vai garantir R$ 2,8 bilhões.

 

Mas o buraco é bem mais fundo. A dívida da empresa alcançou R$ 76 bilhões e um processo que corre na Controladoria Geral da União pode até suspender acordos com governos por dois anos, além de complicar ainda mais o acesso ao crédito, especialmente em bancos públicos. Das 29 empresas processadas na CGU pelo envolvimento na Lava-jato, seis já foram punidas.

 

Pra ganhar uma sobrevida, a recuperação judicial pode entrar nos planos. Acontece que isso não é nem de longe garantia de sucesso, como explica o economista da Serasa, Luiz Rabi.

 

‘De cada quatro apenas uma se recupera. Três vão para falência. Ou seja, a taxa de sucesso em uma recuperação judicial não chega a 25%, é de 23%. É um grau de eficiência muito baixo, é como se numa nota de 0 a 10 você tirasse 2,5’, diz.

 

Para fazer a reforma dos processos internos, a Odebrecht se inspirou na Siemens, que criou um sistema de compliance exemplar depois de um escândalo de corrupção em 2006 - que envolvia justamente o pagamento de propinas para ganhar concorrências públicas em vários países do mundo.

 

 Wagner Giovanini foi o responsável por arrumar a casa da gigante da tecnologia aqui no Brasil. Para ele, a recuperação da Odebrecht será complicada.

 

 ‘Eu acredito que é possível, mas vai ser muito mais difícil do que foi pra Siemens. Porque a Siemens ela foi muito mais ágil do que a Odebrecht para reconhecer os erros. Tiramos toda a alta direção da empresa que estava envolvida em qualquer tipo de problema e a Siemens abriu a organização inteira no mundo inteiro para fazer investigações do passado. Todas as empresas deveriam fazer isso’, diz.

 

Na comunicação, mais desafios. Entre eles, recuperar a credibilidade dentro e fora dos muros da construtora. A professora da ESPM, Claudia Bredarioli trabalhou na comunicação da Brasken, braço petroquímico do grupo Odebrecht. Ela diz que embora as empresas do grupo estivessem preparadas para lidar com a crise, eles erraram ao dar meias desculpas.

 

 ‘Logo que o Marcelo Odebrecht tinha sido preso, a Odebrecht lançou um comunicado que o título inclusive era 'A Odebrecht errou'. Se a gente olha hoje para aquele mesmo comunicado parece piada. Tudo o que veio depois e o que se descobriu depois é muito mais grave do que aquilo que a gente sabia quando o Marcelo foi preso’, diz.

 

Embora tenha tido a reputação destruída pela Lava-jato, a Odebrecht ainda continua grande. A receita bruta, que foi de R$ 90 bilhões em 2016 e os negócios em 25 países parecem ser a única base sólida da empreiteira para se levantar do tombo e começar a pensar o amanhã.

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