Cuiabá, Sábado, 21 de Junho de 2025
ARCANJO E "QUERUBIN"
17.05.2017 | 08h05 Tamanho do texto A- A+

Polícia investigou e grampeou suposta amante de ex-secretário

Inquérito foi aberto após delegado relatar telefonema citando Taques e Arcanjo

MidiaNews

O delegado Flávio Stringueta, da Polícia Civil: denúncia anônima e investigação

O delegado Flávio Stringueta, da Polícia Civil: denúncia anônima e investigação

DOUGLAS TRIELLI E LUCAS RODRIGUES
DA REDAÇÃO

A Polícia Civil de Mato Grosso investigou e grampeou, com autorização da Justiça, Tatiana Sangalli, suposta ex-amante de Paulo Taques, ex-secretário de Estado Chefe da Casa Civil. Ela também foi interceptada ilegalmente pela Polícia Militar, por meio de um esquema conhecido como "barriga de aluguel". 

 

O MidiaNews teve acesso à investigação da Polícia Civil, batizada de Operação Querubin, que começou em 25 de março de 2015, quando o delegado Flávio Henrique Stringueta, então titular da GCCO (Gerência de Combate ao Crime Organizado) relatou, em uma portaria, que recebeu uma ligação anônima de um telefone público (65-3685-1635), em seu aparelho celular funcional.

 

O denunciante relatou "fatos sérios que poderiam envolver o governador Pedro Taques, atribuídos ao comendador João Arcanjo Ribeiro". Segundo o delegado, na ligação, a pessoa disse que Arcanjo estaria arquitetando ações de vingança contra Taques, com o intuito de acabar com a vida dele.

 

"Dando sentido dúbio a essas palavras, não se sabe se colocando fim à sua vida ou fim ao seu mandato eletivo, ou carreira política", disse o delegado.

 

Na portaria, o delegado disse que o denunciante lhe falou que pessoas ligadas a Arcanjo mantinham contato com o primeiro escalão do Governo, principalmente com a Casa Civil, onde estaria conseguindo informações privilegiadas para alcançar seus objetivos.

 

Na ligação, a pessoa afirmou a Stringueta que a filha de Arcanjo, chamada Kelly, se encontrava com frequência com Tatiana Sangalli, ex-funcionária da Sinfra e da Secretaria de Transportes - e que, por sua vez, era amiga de uma funcionária da Casa Civil, chamada Caroline, com quem se encontrava regularmente para buscar informações sobre a rotina e agenda de Paulo Taques e do governador.

 

O delegado relatou ainda que Tatiana, segundo a denúncia, teria proximidade com José Marcondes Muvuca, adversário histórico e inimigo de Taques, e mantinha um namoro com Fernando Bacarin.

 

Reprodução

Tatiana sangalli

Tatiana Sangali: escuta autorizada

Em seguida, ele determinou o início da investigação, com diligências para se descobrir o local onde fica o telefone público de onde partiu a ligação; quem foram as pessoas que visitaram Arcanjo nos últimos dois anos; além de diligências para levantamento de informações sobre Tatiana Sangalli, Muvuca, Caroline e Kelly.

 

Grampos e relatório parcial

 

No dia seguinte, em 26 de março, Stringueta solicitou à juíza Selma Arruda, da Vara de Crime Organizado de Cuiabá, a interceptação de conversas dos telefones de Tatiana, Caroline e Fernando Bacarin.

 

"Informações que dizem respeito a João Arcanjo Ribeiro, com interesse de vingança contra o governador Pedro Taques, não podem ser desprezadas jamais. É de conhecimento de todos a atuação do governador que levaram Arcanjo ao seu exílio carcerário e à sua derrocada, não sendo de se duvidar que este mantenha grande mágoa contra aquele", escreveu o delegado no pedido.

 

"E não há outro modo de se chegar à verdade senão pela via da interceptação, pelo menos por ora, pois o que temos são apenas os nomes e telefones das pessoas. Ademais, não podemos demorar a agir, pois não sabemos qual a intenção dos agentes criminosos e riscos que o governador está correndo", relatou.

 

Após a autorização para as interceptações, a Diretoria de Atividades Especiais da Polícia Civil fez um relatório parcial da operação, datado de 13 de abril de 2015.

 

O grampo no telefone de Caroline, servidora da Casa Civil, revelou que ela pouco usou o celular, e quando o fez foi para tratar de assuntos ligados ao trabalho.

 

A interceptação das conversas de Bacarin, feitas em dois celulares,  também mostraram que ele "não tratava nada que interessasse à investigação", usando o celular apenas para falar com sua namorada Tatiana. Pouco tempo depois, o namoro terminou e não houve mais contato entre ambos.

 

Em relação à Tatiana, o relatório preliminar apontou apenas que ela "é bem relacionada no meio político e social" - e citou uma conversa entre ela e Muvuca, sem aparente relevância.

 

GCCO CAPA AMENTE DE PAULO TAQUES

 

 

 

Em seguida, o relatório sugere a exclusão do grampo em relação aos números de Bacarin, dada a irrelevância para a investigação, e a prorrogação em relação aos aparelhos de Tatiana e Caroline.

 

No mesmo dia, em 13 de abril, o delegado Stringueta solicitou à juíza Selma Arruda a prorrogação da escuta dos aparelhos de ambas.

 

Em outro pedido, o delegado solicitou o monitoramento do aparelho celular do então novo namorado de Tatiane, o músico Montenegro. A Justiça também autorizou o grampo em seu telefone.

 

Casamento com Arcanjo

 

Em 28 de abril, foi feito um segundo relatório parcial, em que, segundo o Núcleo de Inteligência Policial da GCCO, Tatiana revela a um amigo, apelidado de Dudu, que irá se casar com o "Homem de Preto", que viria a ser João Arcanjo Ribeiro.

 

Na ligação, Dudu orienta Tatiana como fazer uma procuração, a uma terceira pessoa, para que seja formalizada a união estável com o "homem de preto".

 

"Tatiana também comenta o fato com uma amiga. No diálogo, o alvo deixa explícito que será a dona do Empreendimento Colibri, notadamente a marca registrada dos negocios de João Arcanjo Ribeiro".

 

Em outra conversa, com uma mulher não identificada, Tatiana reitera a fala do casamento. "E aí minha irmãzinha. O homem de preto vai casar comigo".

 

GCCO DUDU CASO AMANTE DE PAULO TAQUES

 

 

Sem áudios tentando contra Taques

 

Nas conclusões da investigação, a Polícia Civil enumera algumas conclusões, após as interceptações feitas por meio do sistema Guardião.

 

Entre elas: "Tatiana vai casar com João Arcanjo Ribeiro"; "Ainda não foi possível discernir qual o objetivo do referido matrimônio, uma vez que Tatiana vai residir em Goiânia com outro homem chamado Montenegro"; e "Tatiana levará sua família (mãe e filho) para Goiânia, temendo pela integridade desses"; e "Mesmo com a ciência das condições físicas de Arcanjo, Tatiana ainda não teve contato com o mesmo".

 

Outra conclusão da investigação é que "a partir da finalização em cartório da união estável, Tatiana estará apta a visitar Arcanjo no presídio, o que deve ocorrer no próximo mês".

 

O relatório da GCCO também mostra que "não tem registro de áudios de Tatiana tentando contra o governador Pedro Taques ou sua administração".

 

O último ítem mostra que "Tatiana tem ressentimentos em face de Paulo Taques e articula ações a fim de perturbar sua relação com sua esposa (casamento)".

 

Ao MidiaNews, Stringueta afirmou que essa investigação foi relativamente rápida, durando apenas 45 dias, "onde averiguamos que na verdade Tatiana não tinha intenção de atentar contra o governador".

 

"A intenção dela era mais em incomodar o ex-secretário Paulo taques", afirmou o delegado.

 

GCCO PORTARIA AMANTE DE PAULO TAQUES

 

 

 

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Fernando  17.05.17 10h57
Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses: I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal; II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis; III - o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção. Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a situação objeto da investigação, inclusive com a indicação e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade manifesta, devidamente justificada.
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Adário  17.05.17 09h21
A polícia civil criou uma justificativa mais plausível para interceptar telefones de pessoas que a polícia militar. Mas está claro o abuso, uma denúncia anônima de um telefone público (que pode muito bem ter sido realizada por um policial civil ou pessoa ligada a Paulo Taques) não justifica a escuta.
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