Quem viveu os anos dourados da TV aberta sabe: novela boa tinha nome e sobrenome. Aguinaldo Silva. De ‘Tieta’ a ‘Senhora do Destino’, de ‘Vale Tudo’ a ‘Fina Estampa’, era ele quem escrevia os capítulos que hipnotizavam o país.
Agora, cinco anos após o fim de seu contrato com a Globo, encerrado em 2020, Aguinaldo está de volta. E, com ele, o barulho. A expectativa. O saudosismo. É como abrir um baú de memórias e reencontrar aquele cheirinho de novela das 9 que parava o Brasil.
Mas também é sobre risco. E sobre tempo. Porque o mundo não é mais o mesmo. A TV perdeu o trono para as telas dos bolsos e, hoje, uma novela precisa de muito mais do que reviravoltas para conquistar o público. Precisa de verdade. E precisa agregar muitos outros elementos, uma alquimia quase mágica, imprevisível e deliciosamente ousada.
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Nos bastidores, a avaliação é realista. Apesar de uma discreta melhora nos índices desde o fim da novela turca ‘Força de Mulher’, exibida pela Record, executivos da Globo reconhecem que o remake de ‘Vale Tudo’ dificilmente alcançará a audiência e a repercussão projetadas no início.
Isso, por sua vez, acaba colocando uma pressão ainda maior sobre Aguinaldo Silva, que internamente vem sendo apontado como um trunfo estratégico para elevar os índices da faixa das 21h.
A nova aposta, ‘Três Graças’, estreia em outubro. A trama se passa em São Paulo e acompanha três gerações de mulheres lidando com fé, corrupção, desigualdade e os choques entre tradição e realidade.
No elenco, nomes como Sophie Charlotte, Dira Paes, Murilo Benício, Juliana Alves, Grazi Massafera e Enrique Díaz terão a missão de conduzir a trama com a carga emocional que ela exige. Mas permita-me, Aguinaldo, usar este espaço para um pedido: que esta novela realmente abrace o nosso novo Brasil com sensibilidade.
Falo aqui com quem admiro. Com quem moldou a minha relação e de milhões de brasileiros com a ficção. Mas também com quem precisa ouvir. Os dados mais recentes do IBGE, divulgados em 2025 com base no Censo de 2022, revelam um país que vem se reconectando com a fé e de forma cada vez mais diversa.
Em pouco mais de uma década, por exemplo, os evangélicos cresceram quase 18 milhões em números absolutos, sendo o grupo religioso com maior avanço proporcional no Brasil.
Isso diz muito. A fé deixou de ser aquela caricatura de uma beata fanática. É busca. É identidade. É resposta ao caos. O público quer se ver na tela com dignidade, e não como piada. Entende?
Sei que sua novela terá um núcleo religioso forte, com Enrique Díaz dando vida a um pastor evangélico e Sophie Charlotte como uma católica fervorosa. Que essas figuras tragam humanidade, e não apenas estereótipos. Que tenham alma.
E já que estamos falando de representação, precisamos falar de Crô. De Téo Pereira. Ícones de outros folhetins escritos por você. Personagens que marcaram época e entraram para a história. Mas em 2025, a comunidade LGBTQIAPN+ espera que vá além.
O tempo do gay caricato, feito apenas para arrancar risos, ficou para trás. Hoje, ser gay na ficção também é ser protagonista, contraditório, apaixonado, ferido, inteiro.
O público ainda quer rir, mas quer também se enxergar. Quer se reconhecer. Quer ser retratado com o mesmo cuidado com que você escreveu tantas heroínas inesquecíveis.
Representatividade é isso. Não basta estar na trama. É preciso estar por inteiro, com camadas, contradições, força, dor e beleza. Você já escreveu, como poucos, a alma do Brasil. Agora, a missão é maior: escrever a alma de um novo Brasil. Faça valer, Aguinaldo. A televisão ainda pode, sim, ser espelho. Mas só conseguirá esse feito quem encarar o reflexo sem desviar os olhos.
“Vale Tudo”? Ou Vale Nada?
Em setembro, quando o remake de Vale Tudo já vai estar em sua reta final, a Globo vai aproveitar o embalo da sua novela das nove para embalar a nova temporada do Vai que Cola.
A ideia? Brincar com a rivalidade clássica entre Raquel (Taís Araujo) e Maria de Fátima (Bella Campos), traçando um paralelo bem-humorado com os personagens do humorístico.
Segundo a Folha de S. Paulo, um dos episódios da 13ª temporada vai se chamar Vale Nada. Um título que, aliás, já entrega o tom da sátira. A proposta é boa! Mostra que a Globo segue apostando no crossover entre o drama e o riso para conquistar diferentes públicos.
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