Somente 16 dos 29 denunciados pelo Ministério Público Estadual (MPE) como integrantes de uma máfia especializada em aplicar golpes financeiros no setor de hortifrutigranjeiro, a Organização Uemura, foram interrogados neste domingo (7) pelo juiz da 15ª Vara Criminal de Cuiabá, José Arimatéia Neves da Costa. Os trabalhos de oitiva, que começaram na quinta-feira (4), eram para ser finalizados neste domingo.
A expectativa era que todos os 29 denunciados fossem ouvidos no domingo, mas 13 solicitaram adiamento das audiências, entre eles, o acusado pelo MPE como líder do grupo, o empresário Júlio Uemura, seus parentes e o ex-deputado estadual Walter Rabello (PP). O ex-parlamentar e apresentador de TV é acuusado de fazer tráfico de influência, utilizando de sua autoridade política em beneficio do grupo criminoso.
Parte do "braço armado" da Organização Uemura foi identificada na manhã de domingo pelas duas testemunhas-chaves" do caso, o empresário Claudiomiro Alexandre de Lima, o Miro, e sua esposa Maria Lucinéia Rosa de Lima, a Néia. "Identifiquei as pessoas que iam pegar meus cheques, que, na época, emprestava para o Júlio Uemura. Enquanto estava no controle, o Júlio me dava o dinheiro para depositar em minha conta", afirmou.
Miro informou que os valores dos cheques emprestados para Uemura, supostamente, aplicar golpes na praça chegam à cifra de R$ 1,2 milhão. Após ser utilizado pelo bando, Miro conta que os cheques não foram mais cobertos e as ameaças começaram. "Nas ameaças, ficava claro que ele [Júlio] não precisava mais de mim. Ele queria que eu assinasse um documento afirmando que as dívidas eram minhas. Eu falei que não iria assinar o documento, pois seria assinar a sentença da minha morte. Foi que começaram as ameaças", contou.
Perseguição e ameaças
O empresário contou que o "braço armado" perseguiu sua família, chegando ao ponto de incendiar sua casa e o barracão, ameaçar seu filho, utilizar armamento pesado e bombas para amedrontar-los.
Segundo o MPE, o grupo era formado pelo ex-policial civil Ailton Fernandes de Oliveira, o Berimbau, Onésimo Martins de Campos, o "Poconé", Francisco Lourenço, o "Chicão", o cobrador que se passava por policial, Edivaldo Tavares Vilela, o "Corda", e os policiais civis Erivaldo Vicente Pereira Junior, José Ferreira dos Santos e Ronaldo Alves de Oliveira.
"Um dia antes de eles incendiarem minha casa, pedi para o Júlio tirar o Berimbau da minha casa, disse que estava prejudicando minha família e que eu não agüentava mais as pressões. Ele respondeu que, se eu achava que não estava bom agora, depois de seis meses, eu iria a loucura. Dei queixa na Delegacia, mas eles ligaram lá e o pessoal nem ligou para mim", desabafou Miro, ao lado da esposa e dos dois filhos. A família de Miro estava escoltada por, pelo menos, dois militares, que faziam sua segurança durante todo momento.
Risco de morte
Miro, em entrevista, afirmou que espera que seja feita Justiça e disse que sua família corre risco real de morte. "Meu coração está aberto. Seja o que Deus quiser. Minha família esta aqui comigo e não posso ter medo algum, porque se eu tivesse fugido era arriscado. Ele [Júlio] me mataria. E como fiquei também, é arriscado ele me matar. Então, seja o que Deus quiser. Espero Justiça. Ele sempre falava que aqui não tinha Justiça e quem tinha dinheiro aqui mandava", declarou.
Claudiomiro contou que conheceu Júlio Uemura em 2004 e revendia produtos da empresa dele, com sede no bairro do Porto. Depois de dois anos, Miro afirma que começou emprestar cheques para Uemura. Segundo ele, o volume aumentou e isso até era motivo de orgulho, já que os compromissos eram honrados e tinha em Uemura um empresário rico e poderoso. "Como eu iria questionar o homem que se dizia mais rico de Mato Grosso? Aquilo pra mim era um orgulho, eu idolatrava ele. No fim, acabou dando isso", lamentou.
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