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A Igreja Nosso Senhor dos Passos, no Centro Histórico de Cuiabá
Construída na primeira metade do século 18, a Igreja Nosso Senhor dos Passos, em Cuiabá, está fechada há meses por risco de desabamento.
Localizada na despretensiosa Rua 7 de Setembro, no Centro Histórico da Capital, a igreja se destaca com uma torre solitária.
Sua fachada, no entanto, sofre com as ações do tempo. Em visita a igreja no início deste mês, a reportagem notou grandes rachaduras tomando conta da parte da frente do imóvel.
Com poucos ornamentos na parte externa, as grandes janelas e um portal imponente feitos em madeira rústica estão rodeados pelas rachaduras.
Com a temporada de chuvas se aproximando, a força do vento e a infiltração contribuem com o processo de degradação do imóvel tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan). Algumas fissuras indicam que logo pedaços da fachada podem cair.
Apesar disso, o ambiente interno ainda é conservado pela Igreja Católica. Com imagens de santos em pequenos nichos parcialmente ovais e ornamentados, grandes arcos dando o formato da capela, o ambiente exalta a arquitetura barroca.
No altar, a grande imagem de Jesus, o Nosso Senhor dos Passos, carregando a cruz se torna símbolo da resistência ao tempo.
Perda para os cuiabanos
Para Francisco das Chagas, criador do grupo Cuiabá de Antigamente e entusiasta da história cuiabana, a igreja se manter fechada representa uma perda para a Capital.
Mesmo com as atividades religiosas restritas por conta da pandemia de coronavírus, Francisco afirma que o local deveria estar aberto para que sua beleza barroca seja contemplada pelos visitantes.
“É uma sensação muito ruim. Ela está tão bonita por dentro, tão preservada interiormente. Ela é linda, toda ornamentada, com imagens antigas, lustres de prata. É muito bonita e não merecia estar fechada”, defende.
História inusitada
Apesar de hoje ter uma fachada grandiosa e acompanhar uma torre com um sino, a Igreja Nosso Senhor dos Passos nem sempre foi assim.
Ainda no começo do século 18, segundo Francisco das Chagas, o português José Manoel, que morava em Cuiabá, foi acometido por uma doença chamada por catalepsia e foi enterrado vivo.
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Grandes rachaduras apontam risco de desabamento de fachada
“As pessoas achavam que ele estava morto porque essa doença deixa você ‘morto’ por horas. Dentro da sepultura, ele despertou”, conta Chagas.
No caixão, o português prometeu a Nosso Senhor dos Passos que, se saísse vivo, iria esmolar pela cidade para construir a igreja em homenagem ao santo.
“A partir disso, ele recebeu o apelido de Manoel Cova. A primeira igrejinha do Senhor dos Passos foi construída por esse senhor que sobreviveu”, diz Francisco.
Na época, era apenas uma simples capela virada de costas à região da Prainha, hoje Avenida Tenente Coronel Duarte, onde nasceu Cuiabá. A Rua 7 de Setembro se chamava Rua do Oratório por conta da capela.
“Essa rua, a 7 de Setembro, na época da construção da capela se chamava Rua do Oratório porque era o espaço que Manoel Cova construiu a igrejinha e ficou tipo um oratório mesmo”, explica.
Em 1899, o bispo de Cuiabá, Dom Carlos Luis d’Amour, remodelou e ampliou o templo religioso.
“Ela recebeu essa frente bonita, recebeu a torre, outros sinos. Tem um sino que homenageia o arcebispo da época e é o sino mais antigo”, afirma o historiador amador.
No início da década de 50, um fato marcou a história do imóvel.
“Por conta do primeiro incêndio de Cuiabá, que aconteceu em 1952, em um posto de gasolina que existia aqui do lado da igreja, ele danificou muito a lateral da igreja. O padre fez também uma grande reforma”, revela Francisco.
A última grande reforma ocorreu em 2006 pelos governos Federal e Estadual e custou R$ 398 mil aos cofres públicos.
Outro lado
A reportagem entrou em contato com o Iphan, visto que é um bem tombado, mas não obteve resposta.
Comentários (7)
Essa igreja é do período colonial, vai deixar cair mesmo, é história de um povo que vai deixar de existir, pois já somos menos que outros. Nós os cuiabanos somos povo em extinção, assim como sua arte/cultura. .
enviada por: jucá Data: 26/10/2020 10:10:33
acho que a questão de religião deve ser deixada de lado, pois é um prédio histórico. uma nação que não preserva sua história não terá um bom futuro, pois deixa claro que não valoriza suas coisas. todo o centro histórico está abandonado. é tão interessante quando se faz uma caminhada naquela região e se imagina quantas pessoas ao longo desses anos ali viveram. mas parece que só temos olhos para o agora, o imediato, estamos voltamos só para nossos próprios umbigos. pena!
enviada por: alexandre Data: 26/10/2020 09:09:59
A Arquidiocese precisa restaurara Igreja, e não os gestores (Município, Estado e União/IPHAN), assim como a Gráfica Pepe, que tem dezenas de Herdeiros porém preferem que desabe do que gastar 1 milhão pra restaurar! Criticar o governo é mais fácil né...
enviada por: João Felipe Data: 26/10/2020 09:09:36
Vamos fazer uma campanha para reformar , depois que cair não tem mais jeito. Ela está ligada à catedral , vamos salva esse patrimônio.
enviada por: Humberto Data: 26/10/2020 08:08:02
Porque não tombam logo?
enviada por: Paulo Data: 25/10/2020 11:11:28
E assim, nossas referências históricas, nosso patrimônio vai se acabando em escombros e deteriorando no esquecimento e no descaso de nossos gestores. Já perdemos tantos, agora mais recente - Casa de Bembem, Casa de dona Pêpe, e agora a igreja Nosso Senhor dos Passos, lamentável tudo isso... Centro histórico em ruínas
enviada por: Pedro Paulo Nonato Data: 25/10/2020 11:11:09
Creio ser interessante a opinião do bispo D.Milton,pois,mesmo tombado,é um prédio da igreja católica.
enviada por: Degas Data: 25/10/2020 10:10:31