20.07.2009 | 08h:03

OPERAÇÃO PLUMA


Justiça Federal revela raio-X da bandidagem fardada

Para juiz Julier Sebastião, envolvimento de oficiais em atos criminosos mancha a imagem da PM

O envolvimento de oficiais da Polícia Militar no esquema criminoso de grilagem de terras e exploração de áreas indígenas, desarticulada durante "Operação Pluma", pela Polícia Federal no início do mês, na avaliação do juiz federal, Julier Sebastião da Silva, é "um fato preocupante". "Não só para a Justiça Federal, mas é preocupante para todos que têm consciência do papel da Polícia, do Estado e da Segurança Pública", afirmou o magistrado, em entrevista exclusiva ao MidiaNews.

Denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF) como integrantes do esquema criminoso, sete oficiais da Polícia Militar são acusados de atuar como "braço armado" da quadrilha que agia no Vale do Araguaia (Leste de Mato Grosso), com a expulsão de assentados em local destinado à reforma agrária.

Conforme as denúncias, os militares agiam com ameaças e a prática de violência física. Além disso, eles tão estariam envolvidos em tráfico de drogas e de armas, pistolagem, entre outros crimes.

Os oficiais usavam a estrutura da Polícia Militar e atuavam ameaçando as pessoas, inclusive, com suspeita de homicídios. Estão entre os acusados: coronel Adaildon Evaristo de Moraes Costa, tenente-coronel Elierson Metello de Siqueira, major Wlamir Luis da Gama Figueiredo, capitão Robson Oliveira Curi, capitão Antônio de Moura Netto, subtenente Alberto da Cunha e Oliveira; e o soldado Alessandro Farias Lima.

Para Julier Sebastião , o envolvimento dosmilitares no esquema criminoso, além de manchar a imagem da corporação, já que comandantes são apontados como lideres na organização criminosa, revela falhas no sistema de Segurança Pública. "Necessariamente, a melhoria da Segurança Pública passa pela melhoria das polícias, ou seja, não vai melhorar a Segurança se não melhorar seus integrantes. Nesse aspecto, é preocupante o fato em si", analisou.

Segundo o juiz federal, esse tipo de envolvimento acaba gerando um desconforto na sociedade em geral, que acaba ficando refém de um grupo que, como suas ações criminosas, só desabonamo trabalho da Polícia Militar, que tem papel de grande relevância no dia-a-dia da sociedade. "Desconforto, não só pelo envolvimento de agentes da Segurança Pública em organizações criminosas, como é o caso, mas pelo fato em si da segurança ser a preocupação número um da sociedade mato-grossense", considerou Julier.

Em relação à grilagem de terras, o juiz observou que, do ponto de vista formal da instituição federal, há um procedimento de investigação instaurado, com a presença de agentes públicos envolvidos no esquema, e aguardará o término dos trabalhos. "No momento, temos uma investigação policial ainda não concluída e não recebi a conclusão das investigações. Só depois disso, teremos a dimensão se existe ou não prejuízo para União", disse.

Militares

Na ordem de importância dos militares no crime organizado, aparece o ex-comandante do 2º BPM de Barra do Garças (509 km a Leste de Cuiabá), o coronel Elierson Metello de Siqueira. Ele daria, segundo denúncia do MPE, respaldo à ação dos subordinados, mediante pagamento financeiro. Ele teria adquirido vários bens ao longo do tempo que chefiou o 2º BPM. Foi investigado que Metello teria patrimônio incompatível com seu salário, sendo dono de imóveis em Barra do Garças, duas casas em bairros nobres de Cuiabá e diversos carros de luxo.

A operação policial para a desocupação da Fazenda Bridão Brasileiro, em dezembro de 2002, teria rendido ao coronel Metello aproximadamente R$ 120 mil, conforme revela investigação do Ministério Público. Metello também teria "disponibilizado PMs para serviço de vigilância emdiversas casas comerciais, dentro as quais a Skol, Posto do Alencar [de propriedade do seu sogro, o ex-deputado e atual conselheiro do Tribunal de Contas, Alencar Soares] e Cartório do 1º Ofício, mediante pagamento de propina por parte de empresários", aponta o MPF.

Outro envolvido é o coronel Adaildon Evaristo de Moraes Costa, ex-comandante da PM de Mato Grosso, acusado de promover invasões a fazendas pertecentes apessoas que moravam fora do Estado. Ele pediria dinheiro para fazer a desocupação e garantir a segurança do patrimônio. Ele é suspeito de ter recebido 400 cabeças de gado de um traficante, identificado como Marquezan, para facilitar o transporte e envio de drogas na região de Cáceres, além de desviar verbas de alimentação e combustíveis da PM.

A denúncia da MPF destaca que dois filhos do coronel Adaildon teriam feito uma viagem para a Disney, nos Estados Unidos, paga por terceiros. "São mais de 30 fazendas invadidas na região nesse esquema de cobrança de segurança pela PM. Sebastião Zoseto deu R$ 40 mil para o cabo Rubão e levou num saco de dinheiro para o coronel Adailton, provavelmente dentro de um ano e pouco", revela denúncia.

O subtenente da PM Alberto da Cunha e Oliveira, apontado como homem de confiança do coronel Metello, teria repassado, no início de 2003, aproximadamente R$ 90 mil para o oficial, referente a pagamento por serviços prestados pela quadrilha, na fazenda Bridão Brasileiro.

O soldado da PM Alessandro Farias Lima, segundo relatório do MPE, é apontado como executor do assassinato de Rogério Farias de Lima, a mando de Altamiro Schneider, conhecido como "Nego Schneider", pistoleiro acusado de vários homicídios e apontado como responsável por contactar os proprietários de fazendas, exigindo 20% do valor da área para desocupá-las.

O capitão Antônio de Moura Netto é apontado pelo Ministério Público Federal como responsável pela violenta desocupação da Fazenda Bridão Brasileiro, em dezembro de 2002, atendendo às determinações do chefe da organização criminosa, Gilberto Luiz Rezende, o "Gilbertão".

Robson Oliveira Curi, capitão da Polícia Militar, braço direito do coronel Adailton, teria conhecimento de todas as armações e levava vantagem financeira. "Curi realizava operações de desarmamento nas fazendas, mas nunca pegava nada, pois avisava os pistoleiros, numa clara demonstração de que fazia, na verdade, policiamento de interesse pessoal e da fazenda", diz parte do relato do MPE.

O major da PM Wlamir Luis da Gama Figueiredo era a pessoa encarregada da arrecadação e repasse de propina recebida pelos serviços criminosos comandados por Metello.

Atuação

O grupo atuava de três formas: grilando área da reserva indígena xavante maraitsede, expulsando assentados por meio da Reforma Agrária e falsificação de títulos e intimava pequenos proprietários a deixar suas terras e elas eram vendidas. Dentre as fazendas onde a grilagem acontecia estão a Bridão Brasileiro e a Bordolândia.

Envolvidos

Operadores
Gilberto Luiz de Rezende
Ademilson Luiz de Rezende
Altamiro Schneider
Camilo de Leite Brasileiro Pereira
Luiz Carlos Machado

Financiadores
Adário Carneiro Filho
Jurandir de Souza Ribeiro

Suporte Técnico
Antônio César Rocha Felipe
Josemar Pereira dos Santos
Maria Elisabeth G. Carvalho
Maristela Maranhão Fonseca

Policiais Militares
Elierson Metello de Siqueira
Adailton Evbaristo de Moraes Costa
Adalberto da Cunha e Oliveira
Alessandro Farias Lima
Antônio de Moura Netto
Robson Oliveira Curi
Wlamir Luis da Gama Figueiredo

Fazendeiro
Romão Ribeiro Flor

Grileiro
José Carlos Moraes


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