A quem possa desconhecer, a “Síndrome de Pollyanna” baseia-se na história da personagem Pollyanna, do romance homônimo de Eleanor H. Porter. Já no parto, a garota fica órfã de mãe. Aos 11 anos, de pai. Daí em diante, passa a ser “cuidada” por uma tia tão rica quanto megera, que lhe impõe castigos e humilhações, a começar pelo quarto, que ficava no sótão da mansão.
Pouco antes de morrer, o pai pede que a filha exercite sempre o “Jogo do Contente”: procurar extrair algo de bom e positivo em tudo, mesmo nas coisas mais desagradáveis.
Pois bem. Não para si, como ocorre na síndrome em pauta, mas para o outro, Michel Temer, no último dia 30/07, no Rio, durante uma inauguração de linha do metrô, querendo elogiar a recuperação de um câncer por parte do governador daquele estado, Luiz Fernando Pezão, disse o seguinte:
“Quero registrar a alegria de reencontrar o Pezão. Eu até dizia a ele: que interessante Pezão, há coisas que parecem maléficas e que vêm para o bem. Porque vou até tomar a liberdade de um comentário pessoal. Você está melhor do que antes, está mais bonito. Então eu acho que (o câncer) acabou sendo uma coisa útil para o Pezão”.
Em momentos tais, a “seleta” plateia – sempre paga para aplaudir a idiotice que for dita – aplaudiu e achou graça da observação infeliz de Temer. Infeliz porque com doença não se brinca. Com o câncer, menos ainda.
Ele é traiçoeiro. Depois da constatação de um, a pessoa se torna autovigilante ininterrupta. A qualquer sinal estranho em seu corpo, um novo temor de um novo tumor aflora; e apavora.
Fiquei estarrecido com Temer. Na esteira de seus antecessores, como diz tolices também. Jamais o câncer é uma coisa maléfica que vem para o bem. Jamais é útil, a quem quer que seja. Falo como um aprendiz – não na carne, mas no sangue – desse novo conhecimento que eu não queria. Também luto para controlar um linfoma, ainda que de zona marginal esplênico. Mas é câncer. Era melhor não lhe ter.
Ao tê-lo, minha rotina foi modificada: consultórios; secretárias; médicos; laboratórios; exames; hospitais; clínicas; enfermeiros; psicólogos; nutricionistas; farmacêuticos; remédios na hora certa; infusões; efeitos colaterais, dos previsíveis aos imprevisíveis. Sem falar do susto e da angústia dos familiares e dos que te querem bem.
Além disso tudo, a consciência de que uma indústria faminta se apodera de todos os que vivenciam a doença. Para um grupo seleto de brasileiros, cerca 30% da população, os planos de saúde reinam. Todos ficam à mercê de seus tempos para liberações de tudo; e nem tudo é liberado. Em muitos casos, até porque nem precisaria mesmo.
Particularmente, no desespero, paguei – e tinha de ser à vista – dois mil e quinhentos reais por um procedimento tão dolorido quanto desnecessário. Vivi essa triste experiência com a primeira médica que me atendeu. Por insistência dos familiares e amigos, livrei-me de outros e novos “erros” seus.
Mas pior do que isso é saber que, de nosso povo, 70% dependem do atendimento do SUS, a cada dia mais sucateado, em prol do setor privado da saúde, ou da caridade alheia, que financia bons hospitais especializados. O resultado é previsível: para um doente de câncer nas brenhas dos sertões ou nas abandonadas periferias das grandes cidades, a morte da maioria, sem a menor assistência, é sentença anunciada.
Para essas cruzes anônimas, Temer jamais poderá dizer o que disse a Pezão. Aos desvalidos, o “Jogo do Contente” não tem a menor graça. Não lhes é útil.
ROBERTO BOAVENTURA DA SILVA SÁ é professor de Literatura/UFMT e dr. em Jornalismo/US.
Comentários (2)
Complementando meu comentário anterior, às pessoas que ficaram interessadas no assunto, indico o Livro: FISIOLOGIA DA ALMA, de Ramatís, aonde existem 7 capítulos dedicados à analise espiritual do Câncer, sendo que o primeiro que o aborda é intitulado: "Considerações sobre a Origem do Câncer."
enviada por: Carlos Nunes Data: 04/08/2016 17:05:45
Bem, pode ser que o Temer seja "espírita" e veja longe...Segundo o Ramatis, meu autor favorito espiritualista, o câncer não é um mal - e lá na Atlântida, um continente que ficava entre o Brasil e a África, e desapareceu, milhões de Almas encarnadas, pintaram e bordaram, e geraram uma energia negativa, que ficou impregnada na Alma de todo mundo. Nesta encarnação de agora, a Alma joga tudo pra fora, servindo o corpo físico como mata-borrão, daí aparece o câncer, uma revolução das células, para acertar as coisas, e coloca-las em ordem. No final é uma limpeza, é evidente que a pessoa morre (bem pra morrer, basta estar vivo), mas do outro lado, a Alma já está limpinha. Precisava entender que aqui só estamos de passagem...é a Alma que evolui, aperfeiçoa. Pode cremar o corpo físico, jogar as cinzas ao mar, que a Alma continua. Felizmente já existe cura, para diversos tipos de câncer, se tratados de imediato, o que significa que a pessoa já reencarnou, já teve câncer em outra vida, e agora só ficou alguma coisa da energia negativa, os últimos filamentos. O homem tem que deixar a visão estritamente materialista, trazida pela religiões cegas, que tornaram o homem cego para realidades maiores...só acreditando naquilo que vê, e os sentidos sentem. Analisando friamente as palavras do Temer, tintim por tintim, é evidente que ele disse, em poucas palavras, tudo o que eu analisei acima: há coisas que parecem maléficas e que vêm para o bem / eu acho que o câncer acabou sendo uma coisa útil para o Pezão.
enviada por: Carlos Nunes Data: 04/08/2016 09:09:56