Débito ou Crédito?

Vivemos em um mundo cada vez mais apressado, dominado pelas aparências, pelos prazeres imediatos e pela ilusão de que o sucesso se mede apenas por conquistas materiais.

No entanto, por trás dessa corrida cotidiana, existe uma pergunta silenciosa que insiste em ecoar na consciência de todos nós: o que estamos fazendo aqui, afinal?

Estamos acumulando débitos ou créditos espirituais? A vida terrena não é uma viagem turística. Estamos, cada um de nós, matriculados na escola da evolução espiritual. Viemos ao mundo vestidos temporariamente com a veste física, esse corpo que nos permite interagir com o plano material, mas que um dia ficará para trás. O que permanecerá? O que levaremos conosco quando a cortina da existência física se fechar?

Nada do que vivemos é aleatório. Estarmos aqui, agora, enfrentando os desafios que a vida nos apresenta, é parte de um planejamento superior, feito para nosso crescimento.

Cada dor, cada alegria, cada encontro e desencontro, tudo tem um propósito maior. E esse propósito é burilar a alma – como se burila o diamante bruto até que ele brilhe com sua verdadeira luz. Mas o burilamento exige coragem.

Exige autoconhecimento, renúncia, perdão, humildade, fé e amor. Exige que nos afastemos dos instintos inferiores e busquemos a luz da compaixão, da caridade, da honestidade e do serviço ao próximo.

Ao contrário das moedas que giram no mercado, os créditos espirituais não se acumulam em contas bancárias. Eles se depositam no invisível, no sutil, nos registros da nossa consciência e nas leis perfeitas da espiritualidade.

Cada ato de bondade, cada gesto de perdão, cada oração feita com sinceridade, cada vez que controlamos a raiva, que estendemos a mão, que enxugamos uma lágrima alheia – tudo isso é crédito espiritual. E ele não se perde. Ele nos acompanha, nos fortalece, nos eleva.

Por outro lado, quando escolhemos o caminho da indiferença, da vaidade, da mentira, do orgulho, da vingança ou da injustiça, vamos nos afastando da nossa essência divina. Criamos débitos. E esses débitos não são castigos, mas lições adiadas, experiências que precisarão ser revistas, revisitadas, compreendidas e superadas.

A espiritualidade não julga, mas educa. A cada dia, a vida nos oferece novas oportunidades de recomeço, novos capítulos para escrevermos com mais lucidez, mais consciência, mais amor.

A grande pergunta: o que estou fazendo com a minha vida? Este artigo não tem a pretensão de trazer respostas prontas. Ele é um convite. Um chamado ao silêncio interior. Um lembrete amoroso de que estamos aqui para aprender, servir, amar e crescer.

O que você tem feito com a sua existência? Quais valores tem alimentado? Quais marcas tem deixado? Em que você tem acreditado? A quem você tem perdoado? Que luz você tem espalhado?

O saldo final da nossa passagem por esta vida será construído com as escolhas de cada dia. Que a sua conta espiritual esteja sempre repleta de créditos de amor, de paz, de luz e de evolução.

E que, ao final da jornada, você possa olhar para trás e dizer com serenidade: “eu fiz a minha parte. 

Gisele Nascimento é advogada especialista em direito previdenciário e escritora.