MAURO ZANATTA
DO VALOR ECONÔMICO, EM BRASÍLIA
Em sua terceira tentativa nas urnas, o empresário industrial Mauro Mendes (PSB), 48 anos, foi eleito, neste segundo turno, prefeito de Cuiabá com quase 170 mil dos 397.626 votos da capital de Mato Grosso - ou 54,65% dos votos válidos. Seu adversário, o médico e vereador Ludio Cabral (PT) obteve 45,35% das preferências, ou pouco mais de 140 mil votos. Em alta, a abstenção subiu de 16,5% para 18,8%.
Dono do maior patrimônio declarado entre todos os candidatos nas capitais, com R$ 116,8 milhões, Mendes tentou ser prefeito em 2008 e governador em 2010. Perdeu as duas. Mudou de partido, de aliados e, finalmente, venceu uma disputa duríssima, a mais renhida desde a velha rixa entre UDN e PSD, antes da ditadura militar.
Mas rachou a aliança nacional entre PT e PSB e abalou o grupo no poder em Mato Grosso. Teve apoio de Blairo Maggi (PR), mas lutou contra o governador Silval Barbosa (PMDB) e o presidente da Assembleia Legislativa, José Riva (PSD).
Alvo da tese da necessidade do alinhamento político entre as esferas de governo, Mendes convenceu os eleitores que terá apoios para superar um histórico de desavenças irreconciliáveis entre prefeito e governador.
"A campanha fica para trás. O que passou, passou. Agora, vamos cuidar da transição para fazer um grande trabalho", disse ao Valor. "Lula mesmo falou que não discrimina partido. A presidente Dilma disse que não importa cor da camisa, importa competência e vontade de trabalhar".
Favorito desde o início de agosto, quando superava 50% na preferência captada por pesquisas eleitorais, Mendes viveu altos e baixos nesta campanha. Acusado de praticar a "campanha do milhão", disputou voto a voto com um adversário apoiado pelas máquinas políticas do Estado e do governo federal.
Cuiabá viveu, pela primeira vez em seus quase 300 anos, uma refrega de caráter nacional. Os principais atores da política brasileira jogaram pesado no triunfo em uma das cidades-sede da Copa de 2014. O ex-presidente Lula e o governador pernambucano Eduardo Campos (PSB) subiram em palanques diferentes. A presidente Dilma Rousseff gravou mensagens de apoio a Ludio Cabral e vários dos seus ministros participaram da disputa diretamente.
Passada a eleição, os problemas vão assoberbar o novo prefeito. "A saúde aqui é triste. Não tem hospital público, nem estadual ou municipal, só um pronto-socorro. No saneamento. houve privatização e ele terá que administrar a concessão, cobrando prazos e ações", prevê o analista Alfredo Mota Menezes.
E na frente política, contaminada desde já pela sucessão estadual de 2014, Mauro Mendes terá que costurar uma reaproximação do governador, dos donos do poder e dos candidatos ao Palácio Paiaguás. "Na política, tem um entrevero com o governador, mas ambos devem se aproximar, até porque 2014 está aí", diz Menezes.
As peças já começaram a se movimentar. Silval não pode ser reeleito. Maggi jura não querer voltar ao cargo. O senador Pedro Taques (PDT) e o vice-governador Chico Daltro (PSD) estão no jogo.
Cotado, Mendes reafirma que não será candidato. "Isso foi plantado pelos adversários. Não existe. Vou cuidar da cidade nos próximos quatro anos. É meu compromisso e vou honrá-lo. Sou um homem de palavra".