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06.10.2019 | 08h57 Tamanho do texto A- A+

Fogo na Amazônia foi ateado por interesses que destroem, diz papa

Francisco celebrou neste domingo a missa de abertura do Sínodo da Amazônia

Reprodução

O papa Francisco, que celebrou, no Vaticano, a missa de abertura do Sínodo da Amazônia

O papa Francisco, que celebrou, no Vaticano, a missa de abertura do Sínodo da Amazônia

DA FOLHAPRESS

O papa Francisco celebrou nesta manhã de domingo (6), na Basílica de São Pedro, no Vaticano, a missa de abertura do Sínodo da Amazônia, que reúne bispos e outros convidados de nove países do bioma para debater temas da Igreja Católica na região e a situação do meio ambiente e dos moradores locais, incluindo os povos indígenas.


Em sua homilia, que durou cerca de dez minutos, o papa criticou o fogo que "devastou recentemente a Amazônia", pediu que a igreja não se limite a uma "pastoral de manutenção" e que o sínodo tenha inspiração para "renovar os caminhos para a igreja" na região.


Papa Francisco junto a representantes das comunidades indígenas.

 

"O fogo ateado por interesses que destroem, como o que devastou recentemente a Amazônia, não é o do Evangelho. O fogo de Deus é calor que atrai e congrega em unidade. Alimenta-se com a partilha, não com os lucros. Pelo contrário, o fogo devorador alastra quando se quer fazer triunfar apenas as próprias ideias, formar o próprio grupo, queimar as diferenças para homogeneizar tudo e todos", afirmou o papa, no trecho mais explícito sobre as queimadas nas últimas semanas na região.


Antes, ele atribuiu a destruição aos "novos colonialismos" que "querem avançar apenas suas próprias ideias e queimar o diferente para padronizar tudo e todos ", alertou. Em referência aos "novos caminhos" para a ação da igreja na área, pediu "prudência audaciosa" para que "não se apague o fogo da missão".

O fogo ateado por interesses que destroem, como o que devastou recentemente a Amazônia, não é o do Evangelho


"A igreja não pode de modo algum limitar-se a uma pastoral de manutenção para aqueles que já conhecem o Evangelho de Cristo. O ardor missionário é um sinal claro da maturidade de uma comunidade eclesial", disse. 


A assembleia que começa amanhã no Vaticano vai debater a possibilidade de ordenar homens casados como sacerdotes, a criação de ministérios oficiais para as mulheres e a incorporação de costumes dos povos indígenas em rituais católicos.


Diante de basílica lotada, um grupo de índios brasileiros ligados ao Cimi (Conselho Indigenista Missionário) participou da cerimônia, levando até o papa o material do ofertório. Além dos representantes indígenas, participaram da cerimônia solene mais de 200 prelados entre bispos e cardeais, além de numerosos indígenas da Amazônia.


No final, o mesmo grupo abriu faixas dentro da basílica, com dizeres em português e em italiano "contra o roubo e a devastação e invasão dos territórios indígenas".


As sessões do sínodo terão como ponto de partida o "instrumentum laboris", ou instrumento de trabalho. Ele foi divulgado em junho deste ano e é um diagnóstico da situação da Amazônia. Foi elaborado a partir de encontros com a população local, por meio de rodas de conversa e seminários, organizados desde que o papa convocou o sínodo, em 2017. Foram quase 90 mil pessoas ouvidas oficialmente.


Também no "instrumentum laboris" é levantada a questão de uma teologia indígena, "que permitirá uma melhor e maior compreensão da espiritualidade indígena, para evitar que se cometam aqueles erros históricos que atropelaram muitas culturas originárias". 

Querem avançar apenas suas próprias ideias e queimar o diferente para padronizar tudo


Tudo isso tem atraído críticas da ala conservadora da igreja, que faz coro com os que veem com desconfiança o viés ambientalista deste sínodo, incluindo o governo Jair Bolsonaro (PSL), aumentando a expectativa pelo sínodo e seus resultados. 


Na prática, nas próximas três semanas, bispos e demais convidados estarão reunidos para debater temas comuns aos nove países, aqueles sintetizados no "instrumentum laboris". O papa é o presidente do sínodo. Simultaneamente aos debates, uma comissão especial prepara o texto de síntese, que, nos últimos dias, será submetido à assembleia para votação.


O documento aprovado é entregue ao papa, que decide como usá-lo em sua exortação apostólica, em que indica diretrizes para o clero. As duas últimas exortações pós-sinodais foram publicadas cerca de cinco meses depois de cada assembleia.


Entenda o Sínodo O que é sínodo


O Sínodo dos Bispos é uma reunião episcopal de especialistas. Convocado e presidido pelo papa, discute temas gerais da Igreja Católica (como juventude, em 2018), extraordinários (considerados urgentes) e especiais (sobre uma região). Instituído em 1965, acontece neste ano pela 16ª vez.
Especial Amazônia


Anunciado em 2017 pelo papa Francisco, o Sínodo da Amazônia trata de assuntos comuns aos nove países do bioma, organizados em dois eixos: pastoral católica e ambiental. Depois de meses de escuta da população local, bispos e demais participantes se reúnem entre 6 e 27 de outubro, no Vaticano.


Para que serve


O sínodo é um mecanismo de consulta do papa. Os convocados têm a função de debater e de fornecer material para que ele dê diretrizes ao clero, expressas em um documento chamado exortação apostólica. As últimas duas exortações pós-sinodais foram publicadas cerca de cinco meses depois de cada assembleia.


Quem participa


O Sínodo da Amazônia reúne 184 padres sinodais (como são chamados os bispos participantes), sendo 58 brasileiros. Além dos bispos da região, há convidados de outros países e de congregações religiosas. Também participam líderes de outras comunidades cristãs, da população e especialistas –no total, há 35 mulheres. O papa costuma presidir todas as sessões.


Principais polêmicas


Este sínodo tem recebido críticas do governo brasileiro, incomodado com o viés ambiental e pressionado pela situação na Amazônia, e da ala conservadora da igreja, que vê como inapropriado o debate sobre a ordenação de homens casados como sacerdotes, a criação de ministérios oficiais para mulheres e a incorporação de costumes indígenas em rituais católicos.




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