Já ouvi muitas vezes brasileiros dizendo que o Brasil é um país muito rico, citando nossas reservas minerais, nossa mata exuberante e nossa natureza e ecossistemas a título de exemplo dessa riqueza, concluindo ainda ser incompatível tantos pobres num país tão rico, e que isso só pode ser possível porque somos explorados comercial e financeiramente.Entretanto, essa percepção tem um vício de origem: riqueza é uma coisa; recursos, outra.
A maioria do que se costuma citar como riqueza não passa de recursos, que é o que a natureza nos proporciona e que têm o potencial de serem transformados em riqueza. Mas somente a ação do homem produz riqueza. Prova disso que o indicador que mede a riqueza é o PIB – Produto Interno Bruto. Assim, produto, e não recurso, é igual a riqueza.
Tomemos uma manga na sua árvore situada em um sítio nos arredores da cidade: ela é um recurso. Mas somente quando um homem, ou mulher, a apanhar, conferir que está em condições de ser consumida, a transportar para um centro de comercialização, aí então, ela se tornará produto, e se tornará riqueza.
Um exemplo dramático para ilustrar esse ponto é o Japão: destruído pela guerra que terminou em 1945, não apenas não tem recursos naturais como a natureza representa desafios constantes ao país, assolado por terremotos, maremotos, vulcões, onde se espremem 126 milhões de pessoas numa área correspondente ao estado de Mato Grosso do Sul, e mesmo assim, até recentemente era o segundo PIB do mundo, tendo sido ultrapassado pela China em 2010. O primeiro é os Estados Unidos.
A importância dessa distinção conceitual é para entendermos que somente os brasileiros são responsáveis pela produção de riqueza do nosso país, e que nossa pobreza tem a ver com a nossa baixa produtividade, e nossas políticas de privilégios, que são altamente excludentes. Tanto a falta de produtividade quanto as políticas equivocadas são assuntos que nos dizem respeito de forma direta, por isso, vamos a eles:
No ramo da construção civil, um trabalhador brasileiro produz 25% em relação a um americano, e quando um brasileiro emigra e vai trabalhar na construção civil daquele país, passa a produzir como um trabalhador local, o que demonstra que temos deficiências na forma como organizamos o nosso trabalho. Não tenho os dados de pesquisas a respeito de atividades administrativas, mas tenho muita experiência em organizar essa área e por isso posso afirmar que, em se tratando de micros e pequenas empresas, a tragédia é a mesma: serviços incompletos e sem qualidade; prazos descumpridos; desorganização e extravio de documentos; falta de relatórios para tomada de decisão; gastos com horas extras sem a correspondente melhoria nos resultados; eventualmente, desvios de recursos que não são pegos imediatamente devido à falta de um sistema de controle interno minimamente eficiente.
Tanto numa quanto em outra situação ficam evidentes que o conjunto de conceitos, métodos e ferramentas que já foram desenvolvidos para organizar o trabalho humano e estão à nossa disposição, não estão sendo utilizados. Como diz o mestre Vicente Falconi: há dois tipos de conhecimento dentro de uma empresa – o conhecimento padrão e o conhecimento criativo. O conhecimento padrão pertence à empresa, e o conhecimento criativo pertence às pessoas.
Mas quando a empresa não tem documentado o conhecimento padrão, ele também passa a pertencer às pessoas, e cada vez que a empresa perde uma delas, parte do seu conhecimento vai embora junto. E cada vez que uma nova pessoa entra na equipe, como o conhecimento não está sistematizado, dificilmente ela vai aprender do jeito certo, e os procedimentos vão se deteriorando.
Não dar importância e atenção a isso é uma das causas da nossa falta de produtividade. E para quem ainda tem dúvidas a respeito, uma reflexão: o que é uma marca de importância para o cliente senão uma empresa que conseguiu definir e manter um padrão uniforme e permanente no seu produto final?
E só há uma forma de produzir um bem ou um serviço de forma padronizada – com procedimentos operacionais-padrão. Se cada um fizer do jeito que achar melhor, cada bem ou serviço vai sair de um jeito diferente. Esse método de trabalho faz tanta diferença que se tornou um bem em si: o que é uma franquia senão a venda dos procedimentos operacionais-padrão de um negócio?
Fica a reflexão e o convite para explorarmos mais as condições que emperram a nossa produtividade, e em algum momento, as políticas geradoras de pobreza e exclusão, a despeito de suas “boas intenções”. Como dizia o meu guru, Henry Maksoud, o Brasil precisa de uma revolução: uma revolução de idéias!
MARIA INÊS SCHEFFER é empresária em Cuiabá
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