Cuiabá, Sábado, 12 de Julho de 2025
ALFREDO DA MOTA MENEZES
21.04.2019 | 08h00 Tamanho do texto A- A+

A revolução dos Parecis

Índios de MT podem estar começando uma revolução no meio indígena

Índios Parecis de Mato Grosso podem estar começando uma revolução no meio indígena no país. Estão enfrentando uma batalha porque plantam soja e milho em 10 mil hectares de suas terras. 

 

São três mil índios dessa etnia, distribuídos em 63 aldeias. Possuem 1.3 milhões de hectares de terras. Eles tiram três sacas por hectare do que colhem para, na venda, distribuir dinheiro para todos os índios da tribo. Mais de 180 índios Parecis que trabalhavam como empregados em fazendas voltaram para suas comunidades para plantarem.

 

Funai, Ibama e MPF são contra essa atividade dos Parecis. Baseiam em texto de lei que proíbe o índio explorar suas terras dessa maneira. Que se deve manter a tradição cultural indígena e querem o cumprimento disso. Teve até momento de confronto quando os índios prenderam agentes da Funai para forçarem que esse instituto permitisse que plantassem.

 

Funai, Ibama e MPF são contra essa atividade dos Parecis. Baseiam em texto de lei que proíbe o índio explorar suas terras dessa maneira. Que se deve manter a tradição cultural indígena e querem o cumprimento disso

Esses órgãos mostram que os índios estariam cometendo ainda dois outros atos ilegais: arrendar terras e plantar soja transgênica. Não pode. Tem lideranças indígenas dali que defendem que o melhor caminho para o índio seria plantar e não arrendar. Aprendem mais, escapariam da dependência secular que carregam.

 

Grupos de índios Parecis criaram Cooperativas para que eles mesmos comprem insumos para sua produção e possam vender, sem intermediários, suas safras. Mesmo em Cooperativas não podem ter acesso ao crédito bancário. A lei não permite. Daí que alguns usam o estratagema de intermediação de produtores rurais e até mesmo do arrendamento.

 

Isso tudo acabaria no momento que a tribo se capitalizar ou, em palavras mais diretas, tenha dinheiro suficiente para bancar sua produção para não precisarem de empréstimo bancário. Imagino que as tradings nem pensam em emprestar dinheiro para eles. Medo da gritaria nacional e mundial.

 

Nos EUA, Nova Zelândia, Austrália, lugares de muitos índios, ele podem ganhar dinheiro com suas terras. Plantam, exploram jogos e cassinos ou o turismo indígena. Não ficam dependentes de ajudas governamentais. Aqui a lei impede qualquer movimentação nessa direção.

 

Mas, vem cá, se os Parecis tem 1.3 milhões de hectares, não poderiam usar 5% dessa área para soja e milho e deixariam 95% de reserva? Não se está falando em mexer em terras de tribo indígena no meio da Amazônia, em estágio cultural diferente. Mas no caso dos Parecis, mais aculturados, por que não? Ganhariam algum dinheiro e não precisariam ficar dependentes de ajuda pública.

 

Já se teve movimentação no Congresso para modificar a lei sobre terras indígenas para plantar, arrendar e até mesmo mexe no vespeiro do mineral existente ali.  Não seria interessante este assunto voltar à pauta do Congresso?

 

Será que, se fizer uma pesquisa entre os mais de 800 mil índios do Brasil, a maioria não toparia essa alteração? São relativamente incapazes e não pode ter tal pesquisa com índios? E se fizer a mesma pesquisa entre os demais brasileiros? Você não acha que a maioria daria apoio à revolucionária ação dos Parecis de MT? Esses índios estão fazendo história.

 

ALFREDO DA MOTA MENEZES é analista político.

 

*Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. 

 

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COMENTÁRIOS
2 Comentário(s).

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Ricardo José Lopes Clemente  22.04.19 08h49
Muito mimimi em nossas leis, por isto é que não as cumprem.
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rui alberto wolfart  21.04.19 12h40
Alfredo, a população nas reservas Umutina, Paresi, entre outros, tem suas realidades culturais próprias. Não façamos juízo de valor sobre ninguém. Presunção de superioridade. Aí está o erro, não em sua matéria, mas na tutela da FUNAI sobre seres humanos, que querem determinar o seu curso histórico.
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