Cuiabá, Domingo, 13 de Julho de 2025
EDUARDO CHILETTO
30.04.2019 | 07h30 Tamanho do texto A- A+

Construir ciclovias é valorizar vidas

Infelizmente, são poucas as cidades que investem na infraestrutura necessária

Quantos ciclistas e “bicicleteiros” precisarão morrer em Cuiabá por atropelamento antes que o poder público tome providências e construa ciclovias? A campanha Maio Amarelo tem a proposta de chamar a atenção da sociedade para os altos índices de mortes e feridos no trânsito, mas não faz sentido promover um movimento como este sem buscar ações práticas para enfrentar o problema.

 

Mesmo o Brasil sendo o terceiro maior produtor mundial de bicicletas, com uma produção anual que chega a 4 milhões de unidades e uma frota aproximada de 70 milhões de bicicletas, infelizmente, são poucas as cidades que investem na infraestrutura necessária que ofereça segurança e mobilidade aos ciclistas.

 

Em Mato Grosso, por exemplo, mais de 40% das bicicletas compradas são utilizadas como meio de transporte urbano. No entanto, com prefeituras descompromissadas, a política de mobilidade urbana vai à contramão dos outros estados e se mantém com pouca ou nenhuma infraestrutura necessária para segurança dos ciclistas e pedestres.

 

A ineficiência atingiu seu ápice com as “obras da Copa”, quando praticamente todas as intervenções urbanas de Cuiabá e Várzea Grande se preocupavam exclusivamente com aqueles que estão dentro dos seus automóveis ou onde eles iriam estacionar. Aliás, nunca existiu nos projetos urbanísticos a preocupação com pessoas que andam de bicicleta ou a pé, mesmo que elas sejam as verdadeiras responsáveis pela história e cultura da nossa cidade.

 

A ineficiência atingiu seu ápice com as “obras da Copa”, quando praticamente todas as intervenções urbanas de Cuiabá e Várzea Grande se preocupavam exclusivamente com aqueles que estão dentro dos seus automóveis ou onde eles iriam estacionar

As gestões municipais, com seus projetos faraônicos inspirados em obras europeias ou asiáticas – vide “Porto Maravilha”- inclusive cortou árvores da mata ciliar do Rio Cuiabá para parecer, quem sabe, o Rio Sena ou Tâmisa daqui a poucos anos.

 

Mas esqueceu de pesquisar que a realidade nesses países é outra hoje e a venda de bicicletas ultrapassou a de carros em praticamente toda a Europa. Um fenômeno atingiu 25 dos 27 países membros da união europeia! A constatação afeta inclusive países tradicionalmente voltados aos automóveis, como Alemanha e Itália.

 

Infelizmente esta tendência ainda não alcançou Cuiabá, onde os incentivos ao uso das bicicletas são ínfimos ou mesmo inexistentes, comparando a outras cidades, como Rio de Janeiro, São Paulo e Florianópolis ou às europeias, a exemplo de Amsterdã, Paris e Copenhagen.

 

Historicamente, com o advento da construção de Brasília, nossa capital sofreu grandes transformações arquitetônicas e urbanísticas, dentre elas, a infâmia que foi a derrubada de um grande e valioso patrimônio histórico, a Igreja Matriz. Mas quem sabe nos dias atuais a prefeitura ambicione novamente ser uma Brasília, só que para coisas relevantes:

 

“Distrito Federal já tem a maior malha cicloviária do Brasil. Cidade pode ser uma das líderes mundiais, com mais de 600 km de faixas exclusivas para as bicicletas”. Ou “Malha cicloviária das capitais cresce 133% em 4 anos e já passa de 3 mil quilômetros. São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília concentram maior expansão”.

 

A capital federal de fato se tornou referência no assunto em pouco tempo e fica atrás apenas de Nova York (Estados Unidos), que possui com 670 km, e à frente de Copenhague (Dinamarca), Paris (França) e Amsterdã (Holanda), que têm, respectivamente, 350 km, 394 km e 400 km, de acordo com a ONG Mobilize Brasil.

 

Já que os ilustres gestores públicos buscam ‘importar’ soluções em detrimento às propostas locais. Seria uma boa opção direcionar a administração para ações que valorizem pessoas, transeuntes e ciclistas, ao invés de apenas carros. Você não acha que seria mais inteligente e elegante reproduzir o que é bom?

 

Aliás, tenho um convite a todos: refletir sobre a cidade que queremos para nossos filhos e netos, ou seja, para as próximas gerações. Porque as mudanças que desejamos só serão possíveis quando vidas humanas estiverem efetivamente em primeiro lugar, nas agendas da gestão pública.

 

EDUARDO CHILETTO é arquiteto e urbanista e presidente da AAU-MT.

*Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. 

 

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Rubens Mauro  30.04.19 17h39
Acredito que ciclovia é bem menos importante do que promover a implantação de tubulações de água tratada e rede coletora de esgotos com Estações de tratamento de residuos solidos para preservação dos córregos, rios e mares que estão acabando
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