Cuiabá, Quarta-Feira, 9 de Julho de 2025
RÉPLICA CUIABANA
21.04.2019 | 09h50 Tamanho do texto A- A+

Igreja do Bom Despacho é inspirada na Catedral de Notre-Dame

Obra recebeu materiais da Europa e foi construída por um arquiteto francês, segundo historiador

Alair Ribeiro/MidiaNews

Arquitetura no estilo neogótico chama a atenção do alto do Morro do Seminário

Arquitetura no estilo neogótico chama a atenção do alto do Morro do Seminário

BIANCA FUJIMORI
DA REDAÇÃO

A tragédia que ocorreu com a Catedral de Notre-Dame, em Paris, despertou curiosidade sobre a Igreja de Nossa Senhora do Bom Despacho, que é conhecida como a "Notre-Dame de Cuiabá".

 

Inspirada na original francesa, o estilo neogótico imponente é a principal característica da igreja, que começou a ser construída em 1918 e foi finalizada em 1920, segundo o historiador e padre Felisberto Samoel da Cruz.

 

“Construir naquele estilo, nessa qualidade, com esses detalhes góticos, para Cuiabá foi um prêmio. É de uma beleza espetacular. Ela está hoje como uma das mais imponentes de Cuiabá”, afirmou o padre.

 

Com janelas predominantes e vitrais desenhados, a luz tem um papel crucial no interior da igreja ao difundir uma aura de misticismo. Os grandes arcos ogivais atraem o olhar para o alto, contrastando com os pequenos ornamentos dos pilares.

 

Bom Despacho foi construída pelo arquiteto francês Leon Joseph Louis Mousnier juntamente com o freire francês Ambrosio Daydei, nos encargos de Dom Carlos Luiz D’Amour, que era o padre da época.

 

“Eles fizeram a réplica porque eram franceses e queriam trazer uma réplica da igreja bonita de lá”, explicou padre Felisberto.

Alair Ribeiro/MidiaNews

Igreja Nossa Senhora do Bom Despacho

O interior da igreja é marcado por grandes arcos ogivais e colunas ornamentadas

 

Porém, a igreja só foi construída devido a uma demanda dos estudantes do Seminário da Conceição, que fica aos fundos da Bom Despacho.

 

“Nós não podemos falar do Santuário se não falarmos do Seminário da Conceição. A princípio, a igreja foi construída em função dos seminaristas. A igreja cresceu junto com o seminário”, explicou.

 

De acordo com o historiador, a construção recebeu muito dinheiro da Europa, que foi financiado pela congregação. No entanto, os cuiabanos também chegaram a contribuir com doações.

 

Parte dos materiais de construção foi trazida de outros países, como os vitrais, que saíram da Bélgica, pois o Brasil não produzia o material.

 

Entretanto, a Igreja do Bom Despacho possuiu suas diferenças com a clássica de Paris. A que mais chama atenção é o fato que a de Cuiabá tem apenas uma torre, enquanto a original é composta por duas.

 

“Isso é porque acabaram não fazendo a segunda torre, não foi concluída a obra. Os freis foram embora de Cuiabá, foram para Cáceres. Ai dividiu a diocese e eles construíram as duas torres lá. Não deu tempo de reproduzir como deveria ser feito”, explicou o padre.

 

Na época em que foi construída, a igreja não era revestida com reboco. Os tijolos maciços alaranjados ficavam à vista. Com o passar do tempo, a modernização foi tomando conta.

 

“Chovia muito não tinha como manter as telhas, tinha muita goteira. Foi muito difícil a manutenção”, explicou o padre.

 

A Igreja do Bom Despacho foi tombada como patrimônio histórico de Mato Grosso em 1977. Porém Dom Milton reverteu o processo de tombamento, pois a manutenção da igreja estava sendo negligenciada pelo governo, conforme padre Felisberto.

 

Em 2004, a igreja passou pela primeira grande reforma, com recurso de R$ 715 mil do Governo de Blairo Maggi. Nessa época, houve a discussão de retirar os arcos góticos de dentro da igreja e esconder tudo com um forro plano.

 

Construir naquele estilo, nessa qualidade, com esses detalhes góticos, para Cuiabá foi um prêmio. É de uma beleza espetacular

“Em uma briga do padre [Dom Milton] com os arquitetos da época, sobre a questão de fazer o forro achatado tirando toda a beleza do teto da igreja, ele conseguiu reverter a situação e desmanchar o forro. Ele fez o forro dando continuação à queda do telhado, sem tirar o esplendor dos traços góticos”, apontou o historiador.

 

Dez anos depois ocorreu a segunda reforma, onde os vitrais foram recuperados, rachaduras foram rebocadas e telhas trocadas.

 

Ao todo, nessa reforma, foram gastos R$ 220 mil, sendo que o Estado contribuiu com R$ 200 mil. O restante do valor foi financiado pela Mitra Arquidiocesana. 

 

História nas paredes

 

Além da grandiosidade arquitetônica, as paredes da igreja já viram muitas coisas. Uma delas é ainda da época de exploração de ouro no Córrego da Prainha, durante o século XIX.

 

O alto do Morro do Seminário abrigava uma pequena capela. Dela restaram alguns túneis que foram utilizados para esconder escravos fugitivos, de acordo com padre Felisberto. Hoje o túnel está fechado, pois abrigava muitos animais, como morcegos e ratos.

 

“Tinha um túnel que o padre escondia os escravos. Eles usavam para fugir. Lá dentro da sacristia ainda tem um túnel, um buraco que descia para o Córrego da Prainha”, contou o historiador.

 

Padre Felisberto ainda afirma que existe ouro embaixo da igreja. Segundo ele, esse fato ainda desperta a imaginação do povo cuiabano.

 

“A Prainha era o córrego que carregava todo o ouro da cidade para a Europa, então ainda tem ouro. Se cavar acha”, disse.

 

Tinha um túnel que o padre escondia os escravos. Eles usavam para fugir

A Igreja do Bom Despacho também chegou a ter um poço artesiano na frente para que as pessoas pudessem pegar água. Em cima, havia uma imagem de Nossa Senhora de Fátima. Hoje ele também está fechado.

 

O seminário também já foi utilizado como enfermaria durante a epidemia de varíola, em 1877.

 

Tragédia de Notre-Dame

 

A famosa Catedral de Nptre-Dame, em Paris, foi atingida por um incêndio nessa segunda-feira (15). Com o fogo, a torre central caiu.

 

O Corpo de Bombeiros realizou uma grande operação para controlar as chamas, que durou cerca de 15 horas de trabalho e mobilizou 400 agentes.

 

Até o momento, as causas do incêndio não foram identificadas. Mas sabe-se que o fogo começou no teto.

 

Restaurar o edifício demandará "anos de obras", estimou o novo presidente da Conferência Episcopal Francesa, Eric de Moulins-Beaufort. 

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Igreja Nossa Senhora do Bom Despacho

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Maria Teresa  21.04.19 11h10
É inacreditável o que vejo: o que foi que aconteceu com o vitral principal da fachada da igreja? É muita falta de responsabilidade realizar um "remendo" tão grosseiro como esse. Espero que a diocese e Dom Milton tomem providências urgentes para reparar esta obra de grande importância para a história de Cuiabá.
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