A contribuição do artista João Sebastião Francisco da Costa (1949-2016) para as artes visuais no Brasil, será apresentada no livro da animadora cultural e crítica de arte Aline Figueiredo em 22 de setembro, a partir das 19 horas, no Sesc Arsenal.
A autora, além do lançamento, apresentará uma palestra situando a obra do artista no contexto da arte mato-grossense e brasileira. A homenagem póstuma a João Sebastião como “Mestre da Cultura Mato-grossense” foi viabilizada em projeto proposto por Aline por meio de edital pela Lei Aldir Blanc, contando ainda com a parceria da Entrelinhas Editora.
Impressiona e impacta, de entrada, a capa do livro com o retrato do artista João Sebastião transmutado em onça – musa de uma vida inteira. Uma foto que é uma obra de arte e foi realizada por Aline Figueiredo em 1974, durante um ensaio com o artista que se preparava para um desfile no Carnaval Cuiabano.
O livro estava com os textos prontos e imagens selecionadas quando surgiu a oportunidade de Aline Figueiredo apresentar o projeto de publicação no Edital Mestres da Cultura, pela Lei Aldir Blanc, que viabilizou parte dos recursos para a publicação, juntamente com a editora.
A pesquisa, a elaboração dos textos e organização da obra, que consumiram quase 18 meses, e a produção de imagens, foi totalmente financiada pela autora, que abraçou a proposta da editora.
“Foram muitas as dificuldades para a publicação do livro. Sem auxílio do artista, levantar informações sobre todas as fases de sua obra e localizá-las junto aos seus proprietários foi um capítulo à parte. Por ser uma publicação de arte, a obra requer design gráfico diferenciado, boa produção fotográfica, papel de qualidade, provas de cor, impressão e acabamentos de excelência. Todos os custos são altos e os projetos culturais não disponibilizam recursos suficientes para uma produção desse nível”, explica a editora Maria Teresa Carrión Carracedo, da Entrelinhas.
Aline Figueiredo, que conviveu com o artista desde a década de 1970, quando eram jovens, registra no livro:
“A pintura de João Sebastião Francisco da Costa tem a chave de um baú iconográfico a transitar entre o popular e o erudito com uma plástica ao mesmo tempo bruta e sofisticada. Um forte sentimento antropológico recende da obra e reacende a sensibilidade da cultura popular e erudita de brasilidade. João Sebastião pinta tudo junto. Na sua retina pagã o sagrado e o profano se confundem".
"No sincretismo religioso da sua pintura estão as festas de santos e seus reis festeiros; as bandeirolas de São João, o Batista; São Sebastião, amarrado e lancetado em troncos de árvores que atestam as ações das motosserras; São Francisco, o protetor dos animais, entre onças, tatus, cobras e lagartos. E sobra também para São Gonçalo, o santo violeiro e casamenteiro das velhas, inclusive faz referências à cerâmica da comunidade de São Gonçalo Beira Rio, berço da história mato-grossense onde a ata de fundação de Cuiabá fora assinada.”
E destaca o pioneirismo de João Sebastião na crítica aos costumes e preconceitos de sua época:
Reprodução
O livro “João Sebastião: Baú iconográfico” é publicado pela editora Entrelinhas
“O artista defendeu, ao longo de sua obra, uma pintura consciente dos valores da negritude e das minorias. Mostra Jejé, o nosso colunista, carnavalesco, negro e homossexual; lembra de Maria Taquara, a lavadeira prostituta negra que desbancou Cuiabá lá nos anos de 1950. Na época da ditadura apresentou na Bienal Mitos e Magias de São Paulo, em 1978, um varal onde se estendiam cinco lençóis com mapas de cinco “brazis” vampirizados pelo poder. Vale notar que a obra não perdeu sua atualidade temática e política, pois mais de 40 anos depois o nosso Brasil ainda está em maus lençóis. Também, quando as propagandas exibiam o slogan: “O Brasil é feito por nós”, ele mostrava em uma grande tela um travesti, com uma penteadeira e o retrato do namorado.”
O projeto “O baú iconográfico de João Sebastião” no edital Mestres da Cultura pela Lei Aldir Blanc foi proposto por Aline Figueiredo. Teve a coordenação geral de Willian Gama e produção executiva de Amanda Gama. André Balbino Ferreira foi o assistente da autora na elaboração do livro, que contou com a assessoria jurídica de Murillo Espínola e Willian Gama. As fotografias das obras do artista foram realizadas por Aline Figueiredo, Anderson Ortiz, Protásio de Moraes e Ricardo Carracedo.
“Em três ocasiões que encontrei João Sebastião em exposições de artes visuais, ele me disse que tinha um sonho – que era publicar um livro sobre a sua obra. Antes, já havia externado isso para Aline. E eu dizia a ele que sim, que iriamos publicar! Com este lançamento estamos muito felizes aqui na editora, Aline, Humberto e sua equipe, pois conseguimos realizar o seu desejo,” conta a editora Maria Teresa Carrión Carracedo, da Entrelinhas.
Serviço
O que:
Lançamento do livro “João Sebastião: Baú iconográfico”, de Aline Figueiredo, pela Entrelinhas Editora, e palestra da autora situando a obra do artista no contexto da arte mato-grossense e brasileira
Onde e quando:
No dia 22 de setembro, a partir das 19 horas, no Teatro do Sesc Arsenal, bairro do Porto, em Cuiabá
Características do livro e valor do investimento no lançamento:
Livro de arte em capa dura no formato 21,5 x 27,5 cm; 144 páginas em policromia e papel couche (R$ 160,00).
Contato com a editora Entrelinhas: (65) 98404 2697
Entre no grupo do MidiaNews no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).
0 Comentário(s).
|