LISLAINE DOS ANJOS E DÉBORA SIQUEIRA
DA REDAÇÃO
O ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro, 62, negou, durante interrogatório no Tribunal do Júri, no começo da tarde desta quinta-feira (24), que tenha encomendado o assassinato do fundador do jornal
Folha do Estado, Domingos Sávio Brandão. O crime foi executado na tarde de 30 de setembro de 2002, no bairro Consil, em Cuiabá.
De acordo com a denúncia, lida pelo juiz Marcos Faleiros, que conduz o Júri, o empresário foi assassinado a mando do ex-bicheiro.
O crime, de acordo com a denúncia feita pelo Ministério Público, foi cometido pelo cabo Hércules, com participação de Fernando Belo e Célio Alves e intermediado por João Leite.
Arcanjo nega saber quem matou Sávio Brandão (Atualizada às 14h53)O juiz Marcos Faleiros leu os direitos de Arcanjo de ficar calado e de auto incriminar-se.
Arcanjo diz que está sofrendo muito e quer que tudo se resolva pela família dele e de Sávio Brandão e que vai cooperar com a Justiça.

"Falar que eu era bicheiro? Não estava mentindo. Falar que eu era 'Al Capone'? Brasil não tem 'Al Capone'. Também não me atingia. Falar que eu era garimpeiro? Também não me atingia"
Ele afirmou que, antes de ser preso morava na rua 43 no bairro Boa Esperança, e que foi empresário, sendo proprietário de piscicultura, hotel, factoring e fazenda.
Arcanjo disse que “teve boa infância”, tendo perdido a mãe na juventude. Em Mato Grosso, ele afirmou ter sido policial e que mexeu com garimpo, jogo do bicho e contravenção.
Arcanjo falou que parou de se envolver com cassinos e jogo do bicho depois da Operação Arca de Noé.
Ele contou que fez segundo grau para ser promovido na polícia, onde permaneceu de 1972 a 1979. Arcanjo disse que teve uma frota de táxi. Arcanjo disse, ainda, que nunca tinha sido preso.
“Foi uma vez só e continuo até agora”, disse.
Faleiros lembrou à Arcanjo que ele foi denunciado pelo crime de mando da morte de Sávio Brandão e citou a denúncia. Arcanjo disse que a denuncia não é verdadeira.
“Não fui eu e não tenho nada a ver com isso”.
Segundo Arcanjo, no dia do crime, ele chegou mais cedo em casa e lá estava quando foi informado da morte.
“Valdomiro Ribeiro me ligou e contou do caso, porque eu tinha uma rádio na época”, disse.
Aos jurados, Arcanjo disse que Hércules foi induzido a acusá-lo, tendo recebido dinheiro do Célio Wilson (promotor e secretário de Segurança Pública na época).
“Não tenho as mãos sujas de sangue. Não sou santo, mas não tenho homicídios. Eu era contraventor”, afirmou.
Arcanjo disse ainda que, na época, que se ofereceu para depor.

"[...] eu não tenho envolvimento com a máfia italiana. Isso para mim é coisa de cinema"
“Me coloquei à disposição da Justiça logo em seguida”, disse.
Questionado se tinha algum problema com Sávio Brandão ou com as matérias veiculadas pelo jornal, Arcanjo negou.
"Falar que eu era bicheiro? Não estava mentindo. Falar que eu era 'Al Capone'? Brasil não tem 'Al Capone'. Também não me atingia. Falar que eu era garimpeiro? Também não me atingia", disse.
O ex-bicheiro afirmou que não conhecia o cabo Hércules e que apenas ficou sabendo detalhes da morte de Sávio e da participação do pistoleiro por meio da imprensa.
"Eu não o conhecia. Vim conhecê-lo pela imprensa. O Ministério Público tentou nos ligar, mas não conseguiu. Não temos ligação alguma", disse.
Promotor João Gadelha questiona Arcanjo; ex-bicheiro fala sobre empréstimo da AL (Atualizada às 15h24)O magistrado leu o depoimento de Arcanjo dado em 2002, quando ele admitiu ter relação com caça-níqueis. Ele confirmou o que já tinha falado antes.
O promotor João Gadelha questionou o ex-bicheiro sobre o relatório da ABIN, que falava sobre a organização de Arcanjo e ramificações dele com a máfia siciliana e empréstimo do ex-governador Dante de Oliveira de R$ 7 milhões junto as factorings de Arcanjo para pagar funcionários.

"Ele [sargento Jesus] era meu amigo. Ele tinha uma empresa de assessoria jurídica e cobrança e prestava serviço para outras factorings e para a minha também"
“Há muitos boatos sobre a minha pessoa. Isso [relatório da Abin] não procede. Não estou falando que não aconteceu, que não publicaram. Mas eu não tenho envolvimento com a máfia italiana. Isso para mim é coisa de cinema”, afirmou.
Arcanjo negou ter emprestado dinheiro para pagar salário de servidores do Estado e que o empréstimo feito à Assembleia Legislativa "não tinha nada a ver" com isso.
“O empréstimo da Assembleia Legislativa era pessoal para eles. Não tem nada a ver com o governo”, disse.
Arcanjo nega ameaças à Sávio e confirma amizade com sargento Jesus (Atualizada às 15h30)O ex-bicheiro negou ter feito qualquer ligação à Sávio Brandão ameaçando-o por matérias publicadas pela Folha do Estado.
"Nunca liguei para ele e não tinha o telefone dele. Porque eu não me sentia ofendido", disse.
Questionado por Gadelha se conhecia o sargento Jesus, ele confirmou.
"Sim. Ele era meu amigo. Ele tinha uma empresa de assessoria jurídica e cobrança e prestava serviço para outras factorings e para a minha também", disse.
Arcanjo negou saber se, depois da morte do sargento Jesus, quem começou a fazer as cobranças para a sua factoring foi João Leite - apontado como intermediador da morte de Sávio Brandão.
"Não sei. Porque eu era dono da factoring. Mas lá trabalhavam várias pessoas", afirmou.
Questionado pela acusação sobre por que não processou a Folha do Estado pelas acusações feitas contra ele, como prevê a lei, Arcanjo se rebateu:
"Como é que eu vou processar alguém se eu não me sentia ofendido? Falar que eu sou garimpeiro, bicheiro, agiota? Não me senti ofendido”, disse.
Arcanjo se diz vítima de "inveja", por ter "subido na vida" (Atualizado às 15h38)Questionado pela promotoria da razão pela qual ele acredita que lhe foi atribuída a culpa pela morte de Sávio Brandão, Arcanjo disse que foi vítima da inveja alheia e por isso sofre perseguição até hoje.
“A inveja é uma coisa ruim, não tem outra explicação. Sou uma pessoa de origem humilde, ex-policial, garimpeiro e bicheiro que deu certo. As pessoas não aceitam. O cara 'tá' subindo [na vida] e querem pisar nele. Quem vai querer um policial? Se eu fosse um loiro de olhos azuis... Agora, um negão desse aqui?", questionou.
Arcanjo afirmou que Nilson Teixeira, gerente de sua factoring, foi à Folha do Estado porque quis.
“Ele era amigo do Sávio, não mandei ninguém ir lá”.
Quando o promotor João Gadelha questionou sobre o bilhete encontrado na casa dele, durante a Operação Arrego, em 2007, direcionado à ex-mulher dele, Sílvia Shirata, dizendo que “estavam colhendo o que haviam plantado”, Arcanjo negou que tenha feito isso.
O ex-bicheiro pediu para ter acesso ao bilhete, o pegou para análise, e negou que tenha sido escrito por ele. Arcanjo ainda desafiou o promotor João Gadelha a fazer um teste da caligrafia.
Questionado sobre o tempo que está preso, Arcanjo respondeu:
"Estou preso há 10 anos, 6 meses e 14 dias, somando o Brasil e Uruguai. Só no Uruguai eu passei 35 meses [preso]", afirmou.
Na sequência, foi encerrado o interrogatório.
As partes, agora, se preparam para o debate.