A chacina de Sinop, em que sete pessoas foram assassinadas a tiros em um bar da Cidade, marcou o feriado de carnaval deste ano de uma forma sangrenta.
O crime comoveu Mato Grosso e virou pauta nacional pela quantidade de vítimas e a motivação torpe do crime: a derrota de um dos atiradores em partidas apostadas de sinuca. A matança aconteceu na tarde do dia 21 de fevereiro.
Getúlio Rodrigues Frazão Junior, de 36 anos, ganhou as partidas contra o seu adversário e foi uma das vítimas.
Ele estava acompanhado da filha de 12 anos, Larissa Frazão de Almeida, que foi morta ao ser atingida por um tiro nas costas enquanto tentava fugir.
Maciel Bruno de Andrade Costa, de 35 anos, era dono do bar em que tudo aconteceu e também foi assassinado.
As demais vítimas eram espectadores e foram identificadas como Orisberto Pereira Sousa, 38, Adriano Balbinote, 46, Josué Ramos Tenório, 48, e Elizeu Santos da Silva, de 47 anos.
Edgar Ricardo de Oliveira, de 30 anos, foi o assassino que perdeu as partidas de sinuca, totalizando um montante de aproximadamente R$ 4 mil. Ele, com a ajuda do comparsa Ezequias Souza Ribeiro, de 27 anos, voltou ao bar armado e juntos mataram as sete vítimas de forma fria.
Crime gravado
As câmeras de segurança do estabelecimento registraram a matança. As imagens mostraram uma ação rápida e inescrupulosa da dupla, que não deu chance de defesa às vítimas.
Na gravação é possível ver que um dos atiradores, armado com uma pistola, encurrala as pessoas contra a parede.
Na sequência, o segundo assassino aparece, portando um espingarda calibre 12. Neste momento, ele atira contra as vítimas.
Após os quatro primeiros homens serem mortos à queima-roupa, um quinto homem, de camiseta vermelha, ainda tenta correr junto com a adolescente, que vai na frente, mas cai na rua. O assassino os alcançou e atirou contra eles, que já estavam do lado de fora do bar.
Antes de deixar o estabelecimento, um dos atiradores pega uma quantia em dinheiro, que estava em cima de uma das mesas de sinuca. A dupla fugiu do local em uma Chevrolet S10.
Morte em confronto e prisão
O Governo de Mato Grosso, por meio da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), chegou a criar uma força-tarefa para intensificar a caçada contra os assassinos.
No dia seguinte ao crime, Ezequias foi localizado pelo Bope (Batalhão de Operações Especiais) a cerca de 15 quilômetros do Centro de Sinop, em direção ao Aeroporto, em uma área de mata. Ele morreu após entrar em confronto com os policiais.
Diante da caçada que se iniciou em busca dos assassinos e após a morte do comparsa, Edgar se entregou à Polícia na manhã do dia 23 de fevereiro, acompanhado de um advogado.
Famílias desoladas
Alguns dos familiares falaram sobre a dor da perda de seus entes queridos após as trágicas mortes.
Reprodução
Getúlio Rodrigues e a filha foram mortos na chacina
O pedreiro Getúlio estava prestes a fincar raízes em Sinop quando o crime aconteceu.
Ele saiu de sua cidade natal, Governador Nunes Freire (MA), há cerca de três anos em busca de melhores condições de vida para a família.
No dia do massacre ele estava acompanhado, além da filha, da esposa e do sobrinho, que por muito pouco também não foram assassinados.
“Essa tragédia destruiu a nossa família, acabou com a nossa felicidade”, afirmou Deusinha Sousa Frazão, irmã de Getúlio.
Getúlio mantinha as despesas da família de longe, até ter condições de trazê-la ao Mato Grosso. Nas férias escolares, elas visitavam o patriarca em Sinop.
“Dessa vez estavam decididos a construir a moradia deles para lá. Elas foram para ficar, já tínhamos até programado a transferência da menina”.
O filho do comerciante Josué Ramos Tenório, Cícero Dias, afirmou que o pai só parou no bar para assistir a um jogo de futebol pela TV, que ele e não sabia nada sobre as partidas de sinucas apostadas momentos antes do crime.
Tenório morava em Rondonópolis e estava na cidade a trabalho - ele tinha uma distribuidora de alimentos e vendia frutas com a família.
Como frequentemente estava no município, ele tinha amizade com Maciel Bruno, dono do bar.
“Ninguém merece ser tratado igual um animal que vai para um abatedouro, que foi o que aconteceu lá”, disse Cícero.
A esposa do comerciante usou as redes sociais para falar da sua indignação diante do crime.
“Malditos assassinos, esses covardes se revestiram de um poder dado por uma arma maldita. Eles foram lá se achando os donos da vida e deceparam a vida de sete pessoas covardemente”, afirmou Mariza Dias.
“Meu esposo tinha muita vida, era saudável, era feliz [...]. Ele não merecia passar por aquilo. Nos foi tirado de uma forma brutal, cruel, sem chance de defesa”, completou.
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O comerciante Josué Ramos Tenório, vítima da chacina
Réu
Em março, a Justiça acatou a denúncia do Ministério Público Estadual e tornou o Edgar réu pelo crime. A decisão foi da juíza Rosângela Zacarkim dos Santos, que ainda converteu a prisão temporária dele em preventiva.
Na decisão, a magistrada citou a periculosidade de Edgar e gravidade dos fatos para manter a prisão dele.
"Portanto, é certo o perigo gerado pelo estado de liberdade do denunciado, posto que os dados fáticos são suficientes para demonstrar que o caso em apreço vai além da normalidade do tipo penal em comento, constituindo fundamentação idônea para a decretação do custodiado preventivamente", cita em trecho da decisão.
Ele responde por sete homicídios qualificados (motivo torpe, emprego de meio cruel, por meio que resultou perigo comum e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima) e por ter matado uma vítima menor de 14 anos.
Para a promotora de Justiça Carina Sfredo Dalmolin, os crimes cometidos são de uma "brutalidade fora do comum".
Alegou “chacota”
A última manobra da defesa para tentar diminuir sua pena de Edgar aconteceu em julho, quando foi feito junto à Justiça o pedido de afastamento de quatro qualificadoras dos crimes.
Dentre elas, a defesa afirmou ser extremamente questionável a qualificadora de motivo torpe, uma vez que, segundo o advogado, o acusado no momento em que praticou o crime, encontrava-se sobre "estado de fúria".
Conforme a defesa, Edgar disse que "as vítimas começaram a falar sobre sua atual mulher, pois perceberam que ao falar das ex-companheiras não conseguiam atingi-lo emocionalmente. Que chegaram a comentar ‘será que esse filho é dele, será que não é meu não?’, referindo-se à gravidez da sua atual esposa”.
“Feitas as considerações acima, é evidente que o acusado estava apenas exercendo o seu papel de chefe de família e defendendo a honra da sua esposa após ser alvo de diversas 'chacotas' por parte das vítimas, motivo pelo qual ficou dominado por uma violenta emoção, devido à injusta provocação das próprias vítimas, com exceção da criança de 12 (doze) anos”, escreveu a defesa.
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