Cuiabá, Domingo, 22 de Junho de 2025
RIOS EM PERIGO; FOTOS
22.06.2025 | 10h00 Tamanho do texto A- A+

Capacetes que descem de MT viram vasos em quintal pantaneiro

Já são mais de 200 peças arrastadas pela correnteza até a comunidade onde Leonora de Souza mora

José Medeiros

Leonora segurando vaso de planta feito com capacete encontrado em rio

Leonora segurando vaso de planta feito com capacete encontrado em rio

LIZ BRUNETTO
DA REDAÇÃO

Quem mora em grandes cidades costuma não pensar sobre o lixo que produz e, menos ainda, onde ele vai parar quando descartado de maneira irregular. Na região da tríplice fronteira pantaneira - entre Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Bolívia - uma mulher coleciona capacetes que descem pelo Rio Cuiabá e vão parar na bacia do Paraguai, dando a eles um destino inusitado: vasos de plantas.

As pessoas que cuidam do meio ambiente têm que entrar num senso e dividir os lixos que não degradam dos lixos que vão virando esterco

 

Nascida e criada no Pantanal, na margem direita do rio Paraguai, Leonora Ayres de Souza, de 55 anos, já acumula cerca de 70 capacetes em seu quintal. Ela diz, no entanto, que o número passa de 200, entre os que já viu passar pelo rio e os que foram recolhidos por outros moradores.

 

“Dizer correto de onde vêm, a gente não sabe, mas eles descem do Rio São Lourenço. Nunca achamos um capacete descendo pelo rio Paraguai. Então, com certeza, vêm de Cuiabá, Várzea Grande, Barão e Santo Antônio de Leverger. Outro que dá acesso ao rio é o Coxipó da Ponte e o Coxipó do Ouro, que são as cabeceiras”, diz.

 

O Rio São Lourenço, que nasce em Campo Verde, corre em direção ao Pantanal, onde suas águas se encontram com as dos rios Cuiabá e Paraguai.

 

“Vem de algum lugar em que as pessoas jogam o lixo e, quando começa a encher, esse lixo vem para o rio e acaba chegando aqui na bacia do Paraguai, no Pantanal, e a gente cata”, completa.

 

É um dos oito filhos de Leonora quem coleta os capacetes no rio. A ideia, segundo ela, surgiu quando o jovem trouxe para casa o primeiro, com uma espécie de lanterna, que ele usa como luminária.

 

“Aí ele se interessou por coletar. Foi coletando de um em um, de um em um, e hoje temos mais de 70”, diz.

 

O jovem coloca os capacetes enfileirados, pendurados em estacas de madeira. Leonora conta que, durante a noite, quando iluminados, eles causam um efeito óptico e mais parecem olhos.

 

“Eu lavo, cerro e coloco os arames e ganchos. Aí planto as plantinhas daquelas que descem. Fica tipo cabelo, enfeite, e o capacete vira vaso de planta, vaso de flores”, afirma.

José Medeiros

Leonora

Capacetes são coletados na Bacia do Paraguai

 

Ela faz questão de separar os resíduos que coleta, como forma de contribuir com o meio ambiente. "Tem que dividir os lixos. Não adianta dizer que cuida do meio ambiente e deixar o rio poluído".

 

Leonora conta que desce pelo rio todo tipo de lixo, de garrafas PET e capacetes até geladeiras velhas.

 

“Jogam lixo sem saber que as pessoas que vivem aqui bebem essa água. Poluem o rio, matam os peixes e adoecem os seres humanos que necessitam dessa água. Rio poluído é lixo”, denuncia.

 

Bebendo o que adoece

 

Leonora viveu a maior parte da vida na região e cresceu tomando água direto do rio. Com o passar do tempo, hoje a comunidade trata a água usando filtros, mas a poluição já castigou muito os ribeirinhos.

 

“Muita dor no estômago, muita disenteria. Crianças com verminose. Tudo por causa da água suja. Esse rio poluído vai assentando no estômago, no esôfago da pessoa, vai adoecendo o ser humano”, lamenta.

 

Diante desse cenário de descaso das autoridades e da inconsequência da população, Leonora segue fazendo a sua parte e ressignificando o “lixo” que desce rio abaixo.

 

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