Cuiabá, Domingo, 6 de Julho de 2025
DESCASO
19.11.2017 | 08h00 Tamanho do texto A- A+

Casarão tradicional de Cuiabá está abandonado e em ruínas

Casa de "Dona Bem Bem" era um referência na cuiabania; projeto de reforma não foi adiante

Alair Ribeiro/MidiaNews

A Casa de Bem Bem está localizada no Centro Histórico de Cuiabá

A Casa de Bem Bem está localizada no Centro Histórico de Cuiabá

BIANCA FUJIMORI
DA REDAÇÃO

A chamada "Casa de Bem Bem", na Rua Barão de Melgaço, era conhecida pelos cuiabanos como um lugar alegre e receptivo em meados dos anos 60 e 70. Porém, o tradicional casarão que chegou a sediar as festas de São Benedito, no centro da Capital, hoje está em ruínas e serve de refúgio para assaltantes e usuários de drogas.

 

"Dona Bem Bem" era o apelido de Constança Figueiredo Palma, uma típica cuiabana de pé rachado e muito carismática que nasceu em 1919 e morreu em 1990, aos 71 anos.

 

Mais nova de 13 irmãos, ela é mãe do ex-prefeito de Cuiabá Rodrigues Palma. 

 

Nesta semana, a reportagem esteve no local e constatou que o imóvel está totalmente destelhado, com as paredes caindo. As portas estão emperradas e podres, e o quintal, uma das atrações do lugar em seus áureos tempos, está tomado por entulhos e mato.

 

Vizinhos do casarão relataram que, por causa do descaso, o lugar está sendo ocupado por usuários de drogas.

 

Um morador de rua, que é conhecido da Praça da Mandioca, estava pegando mangas no quintal quando a reportagem entrou na casa, na terça-feira (14). Também foram encontrados alguns objetos pessoais, como roupas e até mesmo uma garrafa de cerveja.

 

Para Constança Palma, xará e filha de "Dona Bem Bem", o abandono do imóvel é um desrespeito com todos os cuiabanos devido à sua história. “Aquela casa já recebeu muitas pessoas importantes. Minha mãe nasceu, foi criada e morreu lá. Isso não se faz. Temos muito carinho por aquela casa”, disse muito emocionada.

 

A filha mais nova de "Dona Bem Bem" cresceu na casa e conta que o local era repleto de alegria. “A casa estava sempre cheia, desde pessoas importantes até aquela mais simples, porque a minha mãe era querida por todos”, relembrou.

 

O casarão ficou muito conhecido exatamente pela figura de "Dona Bem Bem". “Ela foi uma mulher incrível. Tinha uma simplicidade linda e era sempre muito feliz. A minha mãe sempre foi muito solidária, atendia a todos que precisavam. Sempre dava um jeito de ajudar o outro”, relatou Constança.

 

A antiga proprietária relembra as grandiosas festas de São Benedito que passaram a acontecer no casarão da família. “No final dos anos 60, os festeiros pediram para minha mãe para que pudessem começar a fazerem as comemorações lá. Foram feitas umas sete festas”.

 

Ela conta que as festas duravam dias e traziam gente de todos os cantos da cidade. “A preparação começava um mês antes e as festividades aconteciam por três dias. Aí vinha gente da periferia, da elite, gente de todo jeito”.

 

“Esse lugar faz parte da memória de Cuiabá. É uma vergonha isso que está acontecendo”, protestou Constança.

 

O projeto de revitalização

 

Em 2012, a família Palma assinou um termo de comodato destinando o imóvel à Secretaria de Estado de Cultura para que fosse criado ali o Centro Cultural Nho Nho de Manduca – Casa de Bem Bem.

 

De acordo com o documento a que a reportagem teve acesso, a administração, manutenção e segurança da casa ficaram sob responsabilidade da Secretaria.

 

Constança Palma informou que o imóvel foi destinado à Secretaria porque a família não estava tendo mais condições de cuidar do espaço. “Nós doamos a casa sem receber um tostão, exatamente para conservar a casa porque a gente não estava mais conseguindo”, disse.

 

Contudo, Constança denunciou que o Governo não cumpriu com a sua parte no combinado. “Entregamos uma casa para o Governo e hoje está um tapera”, relatou com lágrimas nos olhos.

 

Ela se diz arrependida de ter feito o acordo. “Se a gente soubesse que chegaria nesse estado, jamais teria entregue a casa”, revelou.

 

Em 2016, a revitalização do casarão passou a fazer parte do PAC Cidades Históricas do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) junto com a Prefeitura de Cuiabá.

 

Segundo o Iphan, o projeto foi orçado em R$ 2.150.648,25 e deveria ser executado pela empresa X Nova Fronteira Construções, que ganhou a licitação da Prefeitura.

 

Constança acusa os órgãos públicos de negligência. “O Governo, o Município e Iphan são incompetentes e irresponsáveis porque deixaram nesse estado. E a gente fica com cara de besta”, lamentou.

Alair Ribeiro/MidiaNews

Casa de Bem-Bem

 A casa está sem telhado e parte das paredes já cederam com o tempo

 

O outro lado

 

A assessoria da Secretaria de Estado de Cultura negou ter qualquer responsabilidade na manutenção da Casa de Bem Bem.

 

A Secretaria informou que, em 2012, após o termo de comodato, assinou um termo de permissão de uso de bem imóvel com o Instituto Ciranda. Segundo a assessoria, esse contrato dava permissão de uso para a realização de ações culturais por cinco anos.

 

Conforme a Secretaria, caberia ao Instituto Ciranda todos os custos inerentes à manutenção do imóvel e reparação de danos. 

 

A Secretaria disse que o termo não foi renovado por conta da obra de restauração do projeto do Iphan com a Prefeitura.

 

Já a assessoria do Iphan passou todo o encargo das obras para a Prefeitura.

  

Já a Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Turismo (SMCET) alegou que as obras de revitalização seriam de responsabilidade da empresa X Nova Fronteira.

 

A reportagem não conseguiu contato com a empreiteira.

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COMENTÁRIOS
12 Comentário(s).

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Çei  21.11.17 00h33
Vale milhões e foi doado? Aham..
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Edmar Augusto  20.11.17 09h39
É uma lástima para nós Cuiabanos. Estamos sendo lesados em nosso maior bem. Sem nossa história e sem respeito a nossos antepassados estamos sendo relegados a uma mera existência tosca sem marcas na história da humanidade. Ali era um local mágico, uma casa repleta de amor, felicidade e carinho. Eram pessoas do bem que tratavam a todos os seus visitantes com respeito, um bom cafezinho e bolo de arroz. A melhor data do ano, a festa de São Benedito, .aberta a todos com comes e bebes, um verdadeiro farturão como se diz por aqui. Não tenho mais palavras para expressar o sentimento de amor e saudades daqueles dias felizes de minha adolescência. Mas faço aqui meu desafio a todos os Cuiabanos que escrevam um pouco mais sobre os sentimentos e emoções daquele "lugar mágico" chamado Casa de Bem Bem.
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Benedito costa  20.11.17 09h21
O ex prefeito Mauro Mendes havia conseguido um valor de 10milhoes junto ao ministerio da cultura pra tecupetar.os presisos historicos do centro de cuaiaba. Cade essa grana. Esse casarao de dona Bem Bem que eu a conheci e fui em festas no local, precisa de ser resgatado urgentemente dado aos acontecimentos hostoricos e socias de cuiaba. Questao de iptu a lei protege com o beneficio da isençao. Falta o Iphan que so tem burocratas que sao contra o crescimento e adoram o comunismo mostrar interesse e executar o serviço. Em cuiaba tem um cidadão que compra esses imoveis antigo e revitaliza e dixa os imoveis uma belezura, esse empresario que faz deveriam dar todo apois financeiro e logistico pra ele que ajuda e entende so assunto. Pra quem nao sabe é o Ricardo de Arruda filho de um ex prefeito. A casa de Bem Bem ate onde sei ,pertence a familia do ex prefeito rodrigues palma.
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Benedito Addôr  20.11.17 08h54
Continuando meu comentário anterior, não poderia deixar de registrar o assassinato da minha vizinha, MARIA RITA DOS SANTOS RODRIGUES (Dona Rita), humilde lavadora de roupas, moradora da área frontal à Igreja do Rosário há mais de 40 anos. Em julho/2012, pelo Decreto nº 1.252, o Governador tornou de Utilidade Pública para efeito de desapropriação apenas o Centro Comercial Morro da Luz. É isso que diz o Decreto, imóvel confrontante a pista de subida, a área frontal é pista de descida, pista de subida fica atrás. Entretanto Secopa começou a enviar Ofício aos moradores e comerciantes, que teriam que sair por causa do VLT, e a promover visitas. Em outubro/2012, encontrei Dona Rita na porta de sua casa, muita nervosa, e indaguei o que havia acontecido. Ela respondeu que pessoal do governo a havia visitado, e dito que a casa não era mais dela. Procurei tranquiliza-la, mas sendo hipertensa, não aguentou a pressão psicológica, e no dia 16/10/2012, teve um gravíssimo AVC, ficando paralisada em cima de uma cama, ligada a um home care, até março/2015 quando veio a falecer. Na época que fizeram a visita inadequada e criminosa à Dona Rita, nenhuma casa da área frontal à Igreja do Rosário, tinha sido sequer declarada de Utilidade Pública para efeito de desapropriação. Somente foram declaradas de Utilidade Púbica em 21/dezembro/2012, através do Decreto n. 1.510, onde tratou da pista de subida e da pista de descida. Esse Decreto foi feito um mês após uma Reunião entre a Secopa e o IPHAN, em 22/novembro/2012, onde esboçaram o projeto de demolição das casas. Enquanto isso, passava a nível mundial a propaganda oficial do VLT, demonstrando que as casas da área frontal à Igreja do Rosário, não atrapalhavam a rota do VLT. Essa propaganda pode ser visualizada na íntegra, em matéria do site hipernoticias, intitulada "Morador argumenta em vídeo que Ilha da Banana não atrapalha rota do VLT". Dona Rita foi assassinada, e é a mártir da Ilha da Banana, pois em mais de 2 anos que ficou paralisada em cima de uma cama, tinha graves infecções internas, devido aos aparelhos diversos que lhe mantinham a vida. Semanalmente tinha que ser conduzida ao Hospital para tratar das inflamações.
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Ari Albuquerque   19.11.17 23h06
Sou a favor da demolição do casario antigo de Cuiabá... deixaria no máximo 15 ou 20 casas realmentes bonitas e atrativas... quem defende não quer morar, ter um empreempreendimento ou mesmo fazer compras na região.
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