Em Mato Grosso, o sobrepeso entre homens e mulheres adultos exige uma discussão urgente, defende a médica endocrinologista Priscila Cosac Rocha. No ano passado 72,32% das mulheres e 66,32% dos homens pesavam mais do que o recomendado no Estado, de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (Ses-MT).
A questão, no entanto, não pode ser resolvida com uso de medicamentos de efeito rápido – como Mounjaro e Ozempic – sem mudança de rotina e acompanhamento médico, de acordo com a médica.
“Não são medicamentos para serem utilizados somente com finalidade estética ou como uma solução rápida para perda de gordura localizada. Trata-se de um tratamento a ser feito de forma crônica, associado a mudanças alimentares e prática regular de atividades físicas e sempre com acompanhamento médico e multiprofissional. Não são medicações isentas de contraindicações, de efeitos colaterais”, afirma.
Ela destaca que os remédios não são recomendados para todas as pessoas com sobrepeso que desejam emagrecer, já que podem culminar em consequências e piora da saúde.
Uma dessas consequências é o chamado efeito sanfona, ela explica. “Cada vez que um paciente com obesidade perde peso e volta a ganhar, ele volta com a composição corporal pior, com uma porcentagem maior de gordura corporal”.
Todos os medicamentos para tratamento de sobrepeso e obesidade tem indicações e contra indicações. Se manuseados sem assistência profissional, causam riscos como arritmias cardíacas, aumento da pressão arterial, intoxicações e distúrbios psiquiátricos.
Priscila salienta que cada paciente deve ter o próprio tratamento, até porque as causas para obesidade e sobrepeso são diversas.
Entre elas estão causas genéticas, problemas hormonais, sedentarismo, má alimentação, questões psicológicas, uso de determinados medicamentos e sono inadequado. Além disso, as mulheres têm maior facilidade de engordar por fatores como as alterações hormonais bruscas, causadas pela gestação, menopausa e doenças como a síndrome do ovário policístico, que afeta apenas mulheres.
A obesidade pode trazer graves consequências ao corpo humano. A endocrinologista cita como exemplos alguns tipos de câncer (de cólon, mama e endométrio sendo alguns deles) infarto, acidente vascular cerebral (AVC), insuficiência cardíaca, diabetes tipo 2, hipertensão arterial, asma, infertilidade, depressão e ansiedade.
Ainda, o sobrepeso, mesmo que ainda não seja obesidade, aumenta as chances de doenças crônicas, cansaço excessivo, dores articulares e dificuldades para dormir e engravidar.
“Além disso, o campo emocional pode levar a baixa autoestima, ansiedade e depressão. Não é uma questão estética. A gente já pode ter nessa etapa um comprometimento real da qualidade de vida e o aumento do risco para diversas condições graves”, disse.
A médica afirma que o sobrepeso é um alerta para um grande problema de saúde pública.
“Mais de um bilhão de pessoas no mundo convivem com obesidade e isso, além dos prejuízos individuais, traz uma sobrecarga do sistema de saúde, aumento dos custos de tratamento devido à maior prevalência de doenças associadas. Esse número é sim preocupante e a discussão de políticas públicas nesse sentido se faz cada vez mais urgente”, alerta.
Como minimizar o problema
O tratamento para a obesidade não é resolvido com dietas muito restritivas que, em geral, não são sustentadas por muito tempo, ou com ações radicais. Alimentação equilibrada e prática de atividades físicas são as principais soluções para um emagrecimento saudável.
A médica destaca ainda que mesmo quando uma pessoa não tem muito tempo em sua rotina, qualquer exercício físico é melhor do que nada.
“Existe um conceito chamado snacks de exercícios, que são pequenos blocos de exercícios intensos e rápidos, como fazer polichinelos ou agachamentos por um minuto algumas vezes por dia. Essas pequenas frações de exercícios já mostraram nos estudos benefícios na saúde cardiovascular e metabólica. Qualquer coisa é melhor do que nada. Se possível, é bom tentar manter uma atividade regular, pelo menos duas vezes por semana”, destacou.
Além disso, a médica afirma que o poder público também deve tomar iniciativas que auxiliem na mitigação do sobrepeso.
“Como exemplo, criar espaços públicos seguros e acessíveis para a prática de atividades físicas; estimular programas de alimentação saudável e de atividades físicas nas escolas, nos locais de trabalho e nas comunidades; reduzir o estímulo publicitário ao consumo de alimentos ultraprocessados; melhorar o acesso a profissionais como nutricionista e psicólogo nas unidades de saúde para que a gente possa garantir a prevenção, mas também o tratamento contínuo desses pacientes”, afirma.
Sobrepeso em crianças
Em Mato Grosso, o sobrepeso atingia 10,92% das meninas e 12,45% dos meninos em 2024, de acordo com a Ses-MT.
As crianças com sobrepeso têm maiores chances de se tornarem adultos obesos e de desenvolverem doenças precocemente, como hipertensão, colesterol alto e diabetes tipo 2, de acordo com a médica. Além disso, o excesso de peso compromete o sono da criança e, consequentemente, o crescimento e desenvolvimento.
A melhor forma de evitar isso é a alimentação saudável em casa e incentivo de atividades físicas, não sendo diferente da proposta aos adultos.
“É importante que isso seja feito de forma lúdica, com brincadeiras, com atividades ao ar livre, esportes coletivos, sempre de acordo com a idade da criança. E aqui é muito importante a limitação do tempo de telas. Uma criança com menos tempo de telas é uma criança com mais tempo livre para se exercitar”, afirma.
Priscila ainda diz que a obesidade é difícil de combater por ser uma doença crônica, progressiva, recidivante, multifatorial e complexa.
“Crônica porque não tem cura, tem controle. Progressiva, porque tende a sempre piorar se não for corretamente abordada. Recidivante, porque mesmo que o paciente perca peso, o seu corpo sempre vai lutar para voltar ao maior peso que já teve na vida. Multifatorial, porque tem vários fatores causadores. Complexa por tudo isso, por envolver questões genéticas, hormonais, ambientais, emocionais e sociais”.
“Então não é preguiça, não é desleixo, não é vergonha buscar ajuda e nem fazer tratamento. Nós precisamos olhar para esses pacientes com empatia, com cuidado e com ciência. E lembrar que o objetivo desse tratamento deve ser restabelecer a saúde, e não é só sobre um número na balança”, finalizou.
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