Belchior
Nascida em 27 de outubro de 1935, Dalva Maria de Barros traçou, por meio de linhas, curvas e cores, o destino das artes plásticas mato-grossenses. Por meio do Ateliê de Arte Livre da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), compartilhou ensinamentos sobre expressão artística com nomes que hoje compõem a história da arte no Estado.

Com base na contribuição dela para a construção da identidade artística em Mato Grosso, o colecionador Murilo Espínola organizou, em seu acervo particular, uma homenagem a Dalva, que completa 90 anos nesta semana.
A exposição informal traça um caminho que conta a história da arte mato-grossense consolidada pelos passos de Dalva. Logo na entrada, uma comparação com o jogo infantil amarelinha, criada por Gervane de Paula, representa os “pulos” das artes que conectam nomes como Adir Sodré, Dirce Nestor, Benedito Nunes, Gervane de Paula e Dalva.
“A Dalva foi responsável pelo Ateliê de Arte da Universidade Federal. No ateliê havia vários alunos, e o Gervane fez essa obra como uma homenagem a ela, colocando o nome de alguns alunos que eram mais próximos. A partir desse registro do Gervane, eu fiz essa montagem e configuração da exposição”, explica Murilo Espínola.
Yasmin Silva/MidiaNews
Ao lado da amarelinha dos artistas, há também uma versão infantil, criada por Gervane, que liga a criança à artista Dalva. Nascida em Diamantino (a cerca de 182 km de Cuiabá), em uma fazenda da família na comunidade chamada Estivado, ela cresceu sob a influência das paisagens locais e do desejo de pintar.
Obstinada em aprender sobre as artes, a mato-grossense passou por um curso livre de pintura na FAAP em São Paulo (Fundação Armando Álvares Penteado) e frequentou a Escola de Belas Artes, no Rio de Janeiro, antes de retornar a Mato Grosso, onde foi convidada por Aline Figueiredo e Humberto Espíndola para ministrar aulas de desenho no Ateliê de Arte da UFMT.
Retratos de Humberto e Aline também estão presentes na exposição para exemplificar a importância dessa parceria.
“Eu faço um parêntese aqui [nas pinturas de Aline e Humberto], porque são dois grandes responsáveis por tudo o que a gente tem na arte em Mato Grosso. A Aline Figueiredo e o Humberto, junto com essa homenagem à Dalva, representam toda essa história hoje materializada”, explicou Murilo.
Foi no ateliê onde Dalva fortaleceu os laços de amizade com outros artistas, até então emergentes, com quem desenvolveu obras emblemáticas para a história do Estado.
Para representar essa amizade, Murilo apresenta fotografias de Dalva no ateliê e ao lado dos amigos, como Adir Sodré e Gervane de Paula.
Yasmin Silva/MidiaNews
“Esse retrato aqui mostra algumas pessoas do ateliê e amigos em uma das reuniões que faziam. Aqui estão: Dalva, Regina Pena, Márcio Aurélio, Vitória Basaia, Adir, Gervane...”, contou Murilo.
Dalva e obras
Além de quadros, Murilo exibe no ateliê fotografias de Dalva, esboços de desenhos, pinturas em aquarela e obras finalizadas da artista. Entre os destaques está uma pintura "Anjos da Guarda" (2020) inspirada em “Operários”, de Tarsila do Amaral, que retrata profissionais da saúde durante a pandemia.
Entre as obras que atuam como marcos históricos, há retratos de figuras importantes para a história brasileira, como o Marechal Rondon (pintado em 2016) e o cantor Belchior, de 1994.
“O Belchior tinha essas crises existenciais dele, e um dos lugares de fuga era a Chapada. Ele era muito amigo do Adir. A Dalva fez esse retrato para ele, mas ele não voltou, e o quadro ficou com ela”, relatou Murilo.
No acervo virtual de Dalva, produzido por meio do projeto “Sempre Dalva”, lançado em 2022, a artista explica o processo de criação dessa obra:
“O Belchior era muito educado e pousou direitinho para mim. Eu fiz o desenho, mas na hora só deu para riscar, não deu tempo de pintar, porque ele não demorou lá em casa. Conversou e foi embora, mas o quadro ficou bonito”, relembrou Dalva.
Yasmin Silva/MidiaNews
Apesar da homenagem ter sido realizada em seu escritório, com obras do acervo pessoal, Murilo destaca o desejo de produzir uma exposição aberta ao público no próximo ano.
“A ideia era fazer tudo em uma galeria, com mais obras e uma exposição formal, mas houve uma homenagem no Sesc no início do ano [ em abril de 2016] e outra em Brasília [na exposição [ 'Lírica, crítica e solar: artes visuais em Mato Grosso'] do Sebrae, onde ela também foi homenageada”, explicou.
Diante das exposições já realizadas, Dalva pediu ao amigo o adiamento do projeto:
“Ela me disse: ‘Murilo, até o ano que vem eu vou ter 90. Só depois de 91 que não dá mais para comemorar os 90’. Então, claro, não tinha como não atender. Eu até poderia ter feito a exposição, mas não faria isso sem ela”, concluiu Murilo.
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