Este final de semana é a última oportunidade para assistir à peça “Bereu”, que está sendo encenada no Cine Teatro Cuiabá. Uma das atrações está no elenco - parte é formada por mulheres egressas do sistema prisional.
"Bereu" significa bilhete, carta, a comunicação que é feita tanto dentro dos presídios, de um raio para o outro, como para fora também.
O espetáculo conta a história da vida de cada uma das detentas e tambem a da personagem Priscila, que informou os agentes sobre um celular que estava sendo usado dentro do presídio e acabou sendo vingada por isso.
A iniciativa é do Grupo Cena Onze, que realiza oficinas na Penitenciária Feminina Ana Maria do Couto May. A peça tem a direção de Flávio Ferreira e Janaina Borges.
Cena da peça "Bereu", que chega ao final neste final de semana
O trabalho é resultado de mais de dez anos de convivência com as mulheres do presídio feminino. São historias reais que mostram a realidade por dentro dos centros de detenção femininos.
Todas as atrizes do espetáculo conhecem o presídio, sabem como é a vida lá dentro.
“Nós começamos primeiro com oficinas de figurinos, depois com oficinas de teatro e dança. E a partir desses encontros, observamos que eram mulheres talentosas. E aí começamos a trazer essas mulheres para o nosso espetáculo”, conta o diretor.
O processo de criação do roteiro foi coletivo baseado em muitas pesquisas com pessoas que fizeram mestrado e doutorado na área, agentes prisionais e diretoras de presídios.
“A gente tinha um esqueleto das histórias que queríamos contar. As atrizes fizeram pesquisas, foram atrás de informações para contribuir. Foi um texto coletivo. Todos participaram, pessoal da sonoplastia, cenário... Então esse processo criativo coletivo enriqueceu a peça”, diz Flávio.
As últimas apresentações acontecem no sábado (06) e domingo (07), no Cine Teatro Cuiabá, a partir das 19h30. Valor da entrada é R$ 20. Estudantes pagam R$ 10.
A reflexão que Flávio espera que as pessoas tenham é de respeito.
“Eu gostaria que as pessoas refletissem. São seres humanos que estão presos. Essas pessoas estão pagando pelo que fizeram e elas têm direito de serem reinseridas na vida aqui fora. É preciso que as pessoas repensem o conceito delas sobre a pessoa privada de liberdade.”
Ex-detenta, a atriz Cleo Oliveira, interpreta Madalena, uma mulher que teve uma infância sofrida, era abusada pelo pai, e que na vida adulta matou o companheiro que estuprou sua filha.
"O questionamento da Madalena dentro da peça é o por que quando ela era abusada pelo pai, ninguém nunca fez nada para ajudá-la? Por que a Justiça não foi feita para ela e por que ela está presa por matar o homem que estuprou sua filha?", diz Cleo.
A mensagem de Cleo, que já viveu essa experiência de ser uma dententa, é de que todos devem ter a chance de recomeçar.
“Todo mundo merece uma segunda chance, a vida não acaba ali. Ela tem que continuar e um erro não te define. Porém quando nós saímos do presídio, a vida se torna muito pior aqui fora, por que as oportunidades diminuem, a sociedade não te aceita. Então a peça mostra essa realidade sofrida e o mínimo que nos queremos é humanidade e afeto”, diz.
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