DÉBORA SIQUEIRA
DA REDAÇÃO
Seja pelo modismo ou pela busca de uma alimentação mais saudável, os cuiabanos têm apreciado cada vez mais a culinária japonesa ou pelo menos parte dela.
Há 18 anos o primeiro restaurante do gênero foi aberto na capital e só após a realização do 1º Festival do Japão, em 2011, exposição nas novelas e da imprensa sobre a comida oriental mais pessoas foram deixando o preconceito contra o peixe cru e outras especiarias típicas do outro lado do mundo.
A empresária Helena Yamamoto foi pioneira ao abrir as portas do Itiban em 1996. “Sofri muito nos três primeiros anos, as pessoas não conheciam e nem tinham o hábito de comer. Os japoneses costumam fazer os pratos típicos em casa, mas depois os clientes foram chegando e até hoje são fieis”, contou.
O estranho é que ninguém se torna fã de sushis (peixe com arroz e algas) e sashimis (lâmina de peixe cru) na primeira vez que comem, mas depois de três, quatro tentativas para o paladar se habituar e em seguida, a pessoa se torna um viciado. A culinária ‘prende’ o apreciador pelo paladar e pelo visual do que lhe é servido.

"Sofri muito nos três primeiros anos, as pessoas não conheciam e nem tinham o hábito de comer. Os japoneses costumam fazer os pratos em casa, mas depois os clientes foram chegando e até hoje são fieis"
Com a abertura do Japô, outro restaurante do gênero, Helena comemorou a concorrência porque mais pessoas se tornaram amantes da culinária japonesa e foi o passo da popularização.
Atualmente há cerca de 18 restaurantes que servem comida japonesa na capital, mas nem todos são especializados. Alguns são temakerias, que também servem sushis e sashimis.
Um dos últimos restaurantes do gênero foi o Ryokan Sushi Lounge, no bairro Boa Esperança, que abriu as portas no dia 18 de dezembro de 2013.
O proprietário Antonio Machado disse que a ideia surgiu intempestivamente quando voltava de um hospital em Várzea Grande – ele também é estudante de medicina e fisioterapeuta – teve um insight, focou na objetivo e em duas semanas procurou um arquiteto e partiu para a execução do projeto.
Ele aproveitou a parte da casa dele para fazer o restaurante como os coqueiros e os gramados. Daí pensou um ambiente mais praiano, um restaurante japonês mais rústico, com deck.
“Já faz um tempo que há uma ordem crescente e ser uma comida mais saudável e o pessoal esta buscando uma vida mais fitness, mais bem estar e imagino que isso tem ajudado pelo aumento da procura e o mercado para restaurantes japoneses”.
O sushiman do Ryokan Sushi Lounge, Robinho San, já atuou nos melhores restaurantes paulistanos do gênero e sempre busca aperfeiçoar os pratos. Ele criou o salmão recheado com tomate seco, um dos pratos diferenciados do local. O prato ainda leva ingredientes como alcaparras e catupiry. “Gosto muito de inovar, de trazer pratos que não estão todos no cardápio”.
O gerente do Ryokan, Marcos Passos, diz que foi realizada uma pesquisa cuidadosa com fornecedores e com referências. O peixe utilizado pelos restaurantes são oriundos do Chile. “Temos uma preocupação muito grande com a qualidade, por se tratar de alimentos crus”.
A proprietária do Itiban diz que a matéria-prima importada – algas, peixes, por exemplo – são o principal fator de encarecer os valores dos pratos servidos. “Tem ainda o frete e temos que repassar. Em São Paulo é mais barato mesmo, às vezes os clientes reclamam”.
Um temaki em dia de promoção é encontrado na capital por R$ 9,90, mas geralmente um Filadélfia custa entre R$ 15 e R$ 17. O sashimi de salmão que tem custo alto varia de 5 fatias a R$ 8 até R$ 20.
Yamomoto comenta que em Cuiabá o sashimi de salmão é o preferido dos cuiabanos. “Na classificação dos peixes, ele fica em 8º, 10 º lugar o atum, o robalo, polvo são mais nobres, mas aqui no Brasil é puro salmão. Às vezes temos vários peixes mas se não tem salmão, o cliente diz que não tem sashimi”.
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Um temaki em dia de promoção é encontrado na capital por R$ 9,90, mas geralmente um Filadélfia custa entre R$ 15 e R$ 17.
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Outro fato interessante é de que os pratos quentes japoneses como o missoshiru – sopa a base de soja fermentada – não esta dentro do modismo. “Os japoneses não comem sushi e sashimi todos os dias. O café da manhã, almoço e jantar é a base de missoshin, grelhado de peixe, conserva e arroz”, explicou Helena Yamamoto.
Outros prato quentes como udon (macarrão com caldo de shoyu), do dia a dia dos japoneses, ainda não virou mania entre os recém apaixonados pela culinária japonesa.
ApreciadorasA assessora jurídica Luciana Resende experimentou em 2010 um temaki e tornou a comida japonesa uma de suas preferidas. “O sashimi foi o último que experimentei, mas depois que comi, viciei, isso porque não gostava da ideia de comer peixe cru”.
A psicóloga Thainá Ferreira tem restrições alimentares e só come uramaki de salmão. Ela não pode comer doritos e nem cream cheese. “Como na culinária japonesa havia alimentos que poderia consumir levei um tempo até começar a gostar”.
A médica veterinária Rebeca Sorgi acompanha as amigas nos restaurantes japoneses e para não ficar de fora, opta sempre pelo mesmo tipo de prato: os fritos. Ela não sente vontade de comer os peixes crus.
“Como só camarão e peixe frito. Só comecei a experimentar por influencia de amigos, mas também só como isso”.
Adaptações ao paladarMas nem tudo o que a pessoa pensa que esta comendo é de fato, algo autêntico da comida japonesa. O uso de cream cheese, os hots roll (sushi frito), os uramaki (arroz enrolando o peixe e alga para dentro) foram as adaptações americanizadas para a culinária japonesa.
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Um dos últimos restaurantes do gênero foi o Ryokan Sushi Lounge, que abriu em dezembro de 2013
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“O verdadeiro sushi japonês é o bolinho de arroz com peixe por cima. Lá não existe os enrolados, doritos, o califórnia (sushi com manga), e o filadélfia (com cream cheese). Os temakis são os fast foods japonês. No Brasil, essa febre de temakerias também foi indutor dessa popularização da comida japonesa”, contou Lúcio Yamamoto, gerente do Itiban.
No Japão, o arroz avinagrado era utilizado apenas para segurar o pescado e ajudar na conservação, mas como é um povo que busca evitar o desperdício, o arroz passou a ter variações para ser utilizado na culinária.
A nutricionista Vanessa Dalcorso, da Nutrivita, disse que nem toda comida japonesa é saudável. “Os hots empanados são muito calóricos, os sashimis são leves e de fácil digestão. Se comparado com a carne, a comida japonesa é mais saudável e digestiva, mas não é para ser em demasia. O peixe é calórico, assim como o arroz. Dependendo da escolha, como os sushis que levam doritos, a pessoa coloca salgadinhos com conservantes e corantes em cima de algo saudável e a combinação é muito mais calórica”.
Ela alerta ainda que é necessário o cliente conhecer bem o estabelecimento por se tratar de alimentos perecíveis, avaliar a bancada onde os alimentos são preparados, se o peixe fica sem refrigeração.
“O cuidado deve ser maior ainda nos supermercados. Os produtos devem ficar no máximo 4 horas de exposição. Tem que observar a cor e a textura do peixe. O atum quando não está bom fica mais escuro e o salmão ganha uma cor mais acinzentada”.
Vanessa diz ainda que o molho shoyu – usado para mergulhar o peixe – deve ser usado com moderação pela alta quantidade de sódio.