Cuiabá, Quinta-Feira, 17 de Julho de 2025
REGIONALIDADE E INCLUSÃO
10.01.2021 | 09h10 Tamanho do texto A- A+

Designer de MT é destaque nacional e aparece em lista da Forbes

Airon Martin, de 28 anos, entrou na lista de pessoas notáveis citadas pela revista com a sua marca

Reprodução

Airon Martin nasceu e cresceu em Sinop e agora vive em São Paulo

Airon Martin nasceu e cresceu em Sinop e agora vive em São Paulo

VITÓRIA GOMES
DA REDAÇÃO

Natural de Sinop, o designer Airon Martin, de 28 anos, vem fazendo história no mercado mobiliário e da moda após criar sua marca, Misci, levando a cultura brasileira, inclusão e liberdade dos corpos dentro de projetos que fizeram o profissional tornar-se uma das 30 pessoas notáveis da revista Forbes.

 

Criado pela mãe e pela avó nordestinas, Airon, que cresceu no interior de Mato Grosso, conta que sempre recebeu apoio das mulheres de sua vida desde o começo de sua carreira. O jovem designer relembra que desde cedo se interessou pelo mundo criativo, porém tentou por muito tempo negar esta vontade, principalmente pela falta de cursos e oportunidade de mercado na cidade onde morava.

 

O sinopense chegou a se dedicar a uma carreira tradicional ao iniciar o curso de Direito, desistindo na sequência e embarcando na Medicina, buscando de todas as formas se encaixar em um padrão que ele percebia que não lhe cabia.

 

Apesar das tentativas de fuga da sua real vocação, Airon afirma que foi nesse período de escape que ele enxergou muito da real importância da área e resolveu dar uma abertura para o design em sua vida.

 

A Forbes procura olhar para um negócio que está faturando, crescendo e que tem identidade. Hoje, sem arrogância, não vejo uma marca com tanta identidade quanto a nossa

Os novos horizontes visitados trouxeram a coragem para embarcar na área que, segundo ele, ainda é vista como algo limitado para quem está de fora. No entanto, com a nova percepção adquirida de suas experiências, foi possível para ele entender que o design está e sempre esteve em tudo.

 

Com a resolução em mente, o mato-grossense foi para São Paulo aos 21 anos, cursou e se formou em designer de produtos e serviços no Instituto Europeu de Design (IED). 

 

“Para mim o design é, na verdade, uma abordagem de materialização. Todo o produto que está no mercado hoje certamente passou por um designer. Às vezes as pessoas nem sabem que houve uma criação de design para comercializar certo produto, mas tudo que está em volta da gente é design”, explica em entrevista ao MidiaNews.

 

Influências familiares

 

Na vida, o designer foi cercado por figuras femininas fortes, crescendo tendo como exemplo sua mãe, a avó e as outras três tias. Ele relembra desses períodos de sua vida como um divisor de águas para a carreira que conseguiu construir e pelo destaque que conseguiu ainda tão jovem.

 

Apesar da importância de cada uma das mulheres em seu desenvolvimento pessoal e profissional, Airon destaca a presença da avó, considerada um alicerce de força que sempre manteve todos unidos e desempenhou um papel que, como ele cita, na sociedade patriarcal é visto como posição do dito “homem da casa”.

 

Desprendendo-se de toda visão tradicional, o designer conta que sua avó era especialista em resolver problemas e superar obstáculos e Airon seguia desde pequeno como seu braço direito.

 

“Foi assim que despertou meu desejo de fazer design, a vontade de criar e resolver os problemas de forma criativa. Eu sempre digo que o Brasil é um país de designers sem formação acadêmica porque, pela falta de recursos, somos obrigados a resolver e criar soluções de baixo custo o tempo inteiro e o design é isso. A moda nasce disso”, afirma.

 

Este conceito que ele leva até hoje guiou seu caminho durante seus estudos e trabalhos até criar a marca Misci. Ele destaca o apoio incondicional que recebeu das mulheres de sua vida, que sempre o incentivaram a acreditar que nada era impossível, mesmo para um jovem do interior como ele.

 

“Elas nunca olharam para mim e falaram ‘você não consegue fazer isso’. Era até um pouco sem noção. Mas sei que devo grande parte de tudo isso a elas, que sempre estiveram ali por mim, minha mãe e minha avó. A mulher tem a cabeça mais aberta para tudo, porque a masculinidade tóxica limita a visão, inclusive para os negócios”, conta.

 

Criação e conquista 

Luca Oliva

Airon Martins Misci

Airon criou a marma Misci em 2018 pensando em inclusão

A Misci foi fundada em 2018 e, apesar de ser uma marca nova, sua versatilidade, criatividade e desprendimento com padrões pré-estabelecidos foi o suficiente para, em dois anos, tornar-se um projeto de transgressão e inclusão no mercado.

 

Airon explica que um dos intuitos da marca é não constranger nenhum tipo de corpo. Por isso, ele afirma que durante a criação de seus produtos mobiliários e peças de roupa sempre se preocupa em ser inclusivo, valorizando a diversidade brasileira em todos os aspectos possíveis.

 

“Essa é uma abordagem do design universal, dos produtos mobiliários serem inclusivos e não adaptativos. Uma abordagem técnica de construção e ninguém no Brasil usava essa técnica. É muito louco pensar nisso, que nenhuma marca do país criava desta maneira”, explica.

 

Segundo ele, a falta de representatividade escancarada no meio trazia um sentimento de tristeza. A construção do conceito de inclusão foi um diferencial e um alívio do mercado já saturado das mesmas estratégias de construção de produtos. Alimentando-se dessa falta, ele destaca o quão lucrativo e renovador é dar espaço para todos os estilos e tipos de consumidores.

 

Alinhado a isto, Airon acrescentou também sua visão da moda, destacando que a roupa vai muito além de qualquer conceito comum que possa atribuir apenas futilidade às vestimentas criadas.

 

Para o mato-grossense, a moda é "comunicação que transmite sua personalidade, molda seu estilo e vai além de apenas vestir um corpo". Ele explica que é algo atrelado a questões culturais de cada povo, de cada vivência e se destaca pela pura semiótica que carrega.

 

Estes conjuntos de fatores fizeram a Misci ascender e chamar a atenção desde o início. Tanto conceito e originalidade trouxeram ao design reconhecimento em diversos âmbitos, sendo possível ele abrir a própria loja, receber destaque na imprensa nacional e se tornar o primeiro mato-grossense a trabalhar e desfilar suas roupas na São Paulo Fashion Week, em 2020.

 

Ainda no mesmo ano, Airon teve seu nome citado na lista de seis designers que fizeram trabalhos notáveis antes dos 30 anos.

 

“Foi um reconhecimento fruto de muito trabalho. A nossa marca foi a mais comentada do SPFW, a Forbes procura olhar para um negócio que está faturando, crescendo e que tem identidade. Hoje, sem arrogância, não vejo uma marca com tanta identidade quanto a nossa. Trabalho para que isso aconteça e a minha vida é dedicada para que isso seja fiel”, afirma.

 

Regionalidade

 

Um mato-grossense que acha mais legal fulano que vai para Miami é meio assustador. Acho que as referências do nosso Estado, da nossa cidade e do Brasil são muito mais interessantes

A brasilidade e a regionalidade também se mostram presentes nos processos criativos do designer. Apesar de ter nascido em uma cidade que não havia muita referência em sua área de formação, Airon diz que conseguiu capitar a essência de sua cidade natal e trazer para sua vida e trabalho na capital paulista.

 

Sinop é o lugar que influencia em sua forma de trabalhar já que, segundo ele, a cidade carrega uma marca de pessoas que lutam e trabalham incessantemente para conseguir uma qualidade de vida melhor. Ele afirma que essa é a cultura que ainda vive dentro dele, a garra que o faz investir e dedicar tanto de sua vida no trabalho.

 

Além da cidade mato-grossense, ele também carrega dentro de si a regionalidade de sua família, que veio do nordeste para o Mato Grosso. Segundo ele, a mistura tão própria faz com que nunca esqueça suas raízes e o sentido de suas criações, sempre valorizando o regional, o Brasil, o diverso e se propondo a inspirar outros jovens criadores que buscam por referências.

 

“Um mato-grossense que acha mais legal fulano que vai para Miami é meio assustador. Acho que as referências do nosso Estado, da nossa cidade e do Brasil são muito mais interessantes. Então, acho que quem quer trabalhar com criação tem que olhar para isso. Olhe para o seu lado, não espera ter condições de fazer isso fora do Brasil. Se inspire aqui”, aconselha.

 

Os próximos passos de Airon este ano são com suas lojas em São Paulo e o início de suas vendas internacionais.

 

Ele conta que seguirá trabalhando no Brasil e buscando cada dia recursos mais sustentáveis e valorizando o que há em solo nacional, desde matéria-prima, até mãode obra e produtos nacionais. O objetivo, segundo ele, é fazer o mundo perceber que os produtos do Brasil são ricos e bem-feitos.

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Airon Martins

LUCA OLIVA

Airon Martins Misci

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