Ex-delegado rival do PCC é morto a tiros em Praia Grande; veja

O ex-delegado Ruy Ferraz Fontes, 64, um dos maiores inimigos do PCC (Primeiro Comando da Capital), foi assassinado a tiros de fuzil hoje no bairro Mirim, em Praia Grande, na Baixada Santista. Ele já atuou como delegado-geral de São Paulo, mas estava atualmente licenciado e exercia o cargo de secretário da Administração na cidade do litoral paulista desde 2023.

As primeiras informações são de que os atiradores fugiram em uma SUV preta e passaram ser perseguidos por guardas civis municipais. Até o momento, não há informações se alguém foi preso.

Imagens de câmeras de segurança obtidas pela coluna (veja acima) mostram Fontes dirigindo um Fiat Argo preto e fugindo dos criminosos. O automóvel depois bate em um ônibus e, na sequência, os atiradores descem de outro veículo preto e disparam balas de fuzil contra a vítima.

A coluna apurou que três carros —um Renault Logan, um Jeep Renegade e uma SUV preta— teriam participado da ação criminosa. O Renegade foi localizado em uma região de mata a cerca de dois quilômetros do local do assassinato, enquanto a SUV preta foi achada queimada. Carregadores de fuzil e munições foram achados em um dos locais. O Logan não foi encontrado pelas autoridades até esta noite.

A polícia tem informações que os ocupantes do Logan teriam atirado contra o veículo de Fontes. Não se sabe, porém, se a vítima foi atingida antes de colidir contra o ônibus.

Uma mulher e um homem ficaram feridos no ataque ao ex-delegado-geral. As vítimas, cujas identidades não foram divulgadas, foram levadas pelo Samu para uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e depois transferidos ao Hospital Municipal Irmã Dulce, também no município. A mulher deve ter alta médica em breve, enquanto o homem deverá seguir na unidade para a sequência dos atendimentos, informou a prefeitura municipal à reportagem. Ele não corre risco de morte.

A SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo disse à coluna que policiais militares localizaram o veículo utilizado pelos criminosos, mas não informou o endereço onde o automóvel foi encontrado. A cena foi preservada para realização da perícia.

Nesta noite, o caso estava sendo registrado na Polícia Civil. "Equipes estão em campo, realizando diligências e utilizando ferramentas de inteligência para identificar, prender e responsabilizar os envolvidos", acrescentou a pasta.

SSP-SP diz que Fontes foi vítima de um atentado

A SSP-SP lamentou o assassinato e afirmou que o delegado dedicou mais de 40 anos à Polícia Civil. A pasta destacou que durante a sua carreira, Fontes esteve à frente de cargos de destaque, como Delegado-geral de Polícia e diretor do Departamento de Polícia Judiciária da Capital.

Além disso, atuou em unidades como o Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), Denarc (Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico) e DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa).

O secretário da pasta, Guilherme Derrite, também se manifestou e disse ter determinado a realização de força-tarefa para prender os assassinos. O caso será investigado pelo DHPP da capital paulista.

O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público estadual disse que vai apoiar a Polícia Civil na investigação do crime. O procurador-geral de Justiça, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, lamentou o episódio e expressou solidariedade aos membros da Polícia Civil.

Já a Prefeitura de Praia Grande lamentou o assassinato de Fontes e declarou que informações sobre a ocorrência deveriam ser encaminhadas aos órgãos de segurança do Estado.

A Adepol (Associação dos Delegados de Polícia) do Brasil classificou o crime como uma "tragédia de proporções inenarráveis" que atinge a Polícia Civil e toda a sociedade brasileira por "calar uma voz firme e comprometida com a lei, a justiça e a proteção da cidadania".

Trabalhos de Fontes

A equipe de Fontes indiciou todos os líderes do PCC no início dos anos 2000 por formação de quadrilha. Por conta disso, os criminosos foram mandados para RDD (Regime Disciplinar Diferenciado) no CRP (Centro de Readaptação Penitenciária) de Presidente Bernardes, inaugurado em abril de 2002 para abrigar integrantes de facções criminosas. 

Um desses presos era Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, 57, apontado como chefe máximo da organização criminosa, hoje elevada ao nível de máfia, a primeira do Brasil, segundo o MPSP (Ministério Público do Estado de São Paulo).

O ex-delegado-geral também prendeu mulheres de líderes do PCC, como Aurinete Carlos Félix, casada com César Roriz Silva, o Cesinha, e Petronilha de Carvalho, esposa de José Márcio Felício, o Geleião, ambos fundadores do PCC e já mortos.

As prisões ocorreram em meados dos anos 2000, quando ele era titular da Delegacia de Roubo a Bancos do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais).

Foi Fontes quem divulgou os primeiros organogramas do PCC, com Marcola, Cesinha e Geleião no topo. Fontes, durante muitos anos, recebeu ameaças de morte de integrantes do crime organizado.

Entre 2019 e 2022, Fontes exerceu o cargo de delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo. Além de ser inimigo do PCC, ele também tinha muitos rivais na própria corporação onde sempre atuou.

Veja o vídeo: