Apesar de criadas para proteger vidas, as faixas de pedestre em Mato Grosso muitas vezes não cumprem o objetivo, principalmente quando as sinalizações não são acompanhadas de outros equipamentos. A avaliação é do delegado Christian Cabral, da Deletran (Delegacia de Delitos de Trânsito).
Por causa disso, não são raros os atropelamentos de pessoas que tentam atravessar a rua na área protegida em Mato Grosso. A maioria dos casos ocorre em avenidas movimentadas, e pode ser causada pelo condutor, pedestre e pela falta de adequação da faixa.
Só no período entre os dias 4 de junho e 4 de julho foram registrados ao menos quatro acidentes sobre a faixa em Mato Grosso, com oito vítimas e duas mortes, conforme apurou o MidiaNews. Os acidentes ocorreram nas avenidas Parque do Barbado e Doutor Meirelles, em Cuiabá, na Mário Andreazza, em Várzea Grande, e no cruzamento da avenida das Itaúbas com a rua dos Cajueiros, em Sinop (480,3 km de Cuiabá).
O delegado destaca que a faixa precisa ser dotada de sinalização e equipamentos adequados para a segurança, já que há ruas e avenidas com diferentes necessidades.
Por isso, o poder público deve fazer uma análise dos locais para implantar mecanismos como faixa elevada, semáforo, fiscalização eletrônica, lombada e sinalização vertical, além da pintura no asfalto e a boa iluminação, que também é falha em muitas situações.
“Se não houver essas medidas, nós vamos estar construindo vários ambientes que não perdoam erros e muitas vezes estimulam comportamentos errados. O resultado disso é fatalidade”, alerta.
Cabral ressalta que, só em Cuiabá, há inúmeros casos de faixas de pedestres mal instaladas, como nas avenidas Miguel Sutil e Fernando Corrêa da Costa, por exemplo.
“A Avenida Miguel Sutil é um exemplo clássico de faixas de pedestres instaladas em locais inseguros. Os veículos aceleram para ultrapassar a rotatória da avenida e no curso dessa aceleração aparece uma faixa. Aí eles são obrigados a desacelerar. Quem vem atrás não tem a visibilidade de que há pedestres fazendo a travessia e acaba ocasionando muitos acidentes”, diz, referindo-se ao trecho nas proximidades da trincheira do Santa Rosa.
Na Fernando Corrêa a falta de sinalização semafórica e de radares também é protagonista na causa de acidentes.
Além dessas, ele fala das avenidas da FEB e Mário Andreazza, em Várzea Grande, que possuem faixas inadequadas ao local e são alvos frequentes de acidentes causados por atropelamentos.
O poder público não pode contar com a conscientização dos condutores de veículos, destaca o delegado.
“A gente não pode contar só com a conscientização do condutor para a segurança, porque o preço de uma vida perdida ou uma pessoa que tem a sua integridade corporal prejudicada é muito caro”, destacou.
O desrespeito de condutores à faixa e ao uso seguro de veículos também é recorrente, o que pode gerar graves consequências à vida dos pedestres.
Eles são o público mais vulnerável, especialmente crianças e idosos, que possuem a locomoção mais reduzida, o que os torna mais propensos a serem vítimas nesses casos, como afirma o delegado.
Moradora de Santo Antônio de Leverger, Anna Victoria Fernandes da Silva diz que o desrespeito dos motoristas e a impunidade são os principais causadores dos acidentes. O seu pai, Antenor Estevão da Silva, tinha 62 anos quando foi atropelado por um policial com habilitação vencida em uma faixa de pedestre, em 2018. Ele morreu após dois meses de internação.
O policial, que se negou a fazer o teste do bafômetro, alegou falta de visibilidade.
“Infelizmente a Justiça aqui no Brasil é falha demais. Ainda mais por ele ser policial, duvido muito que pague. Ele estava a serviço, bêbado, com o filho no carro, dirigindo em tão alta velocidade que chegou na faixa de pedestre e não deu tempo nem de frear”, afirmou ela.
“Isso impactou em tudo, foi uma vida tirada. Mudou a vida de todos e foi um pedaço do meu coração e dos meus dois irmãos que foi tirado. Já faz sete anos e a saudade só aumenta”, lamenta Anna Victoria.
Muitos casos como este são noticiados em Mato Grosso, e as reclamações dos pedestres em relação ao desrespeito dos condutores são cada vez mais frequentes.
Recentemente viralizou no Instagram o vídeo de um trabalhador da região da Miguel Sutil com dificuldade em atravessar a faixa citada pelo delegado, alegando falta de consciência dos veículos.
A cuiabana Letícia Maciel também utiliza faixas sem sinalização adequada com frequência, e reclama do perigo para os pedestres.
“Nós, os pedestres, somos os mais fracos no trânsito. Então os motoristas muitas vezes podem se aproveitar disso e não respeitar a faixa, porque o que a gente vai fazer? Acho que deveria ter algum tipo de fiscalização, pelo menos algum monitoramento nas faixas que não têm sinal, porque se eles se sentirem ameaçados de alguma forma, acredito que devem respeitar mais”, afirmou.
Ela alegou que já quase foi atropelada pelo menos duas vezes a caminho do trabalho, na região do bairro Jardim Aclimação.
Responsabilidades
De acordo com o delegado, além da adequação da faixa de pedestres, de responsabilidade do poder público municipal ou estadual, os condutores e os pedestres também precisam estar atentos.
Victor Ostetti/MidiaNews
Faixa de pedestres na avenida Miguel Sutil
“São os dois lados. Há pedestre que na hora de usar a faixa não observa a visibilidade, distância e velocidade dos veículos. Ele acha que, já que a faixa está ali, tem a exclusividade de passagem. Não é assim que funciona. A faixa garante preferência de passagem, não exclusividade. O pedestre tem que se assegurar de que os veículos estejam cientes de que ele está com a intenção de fazer a travessia e tenham condições efetivas de parar”, explica.
“Aquele condutor também que não reduz a velocidade e não observa a regra de trânsito - que fala que nas faixas a prioridade de travessia é do pedestre - gera risco de acidentes. E quando causa um acidente, causa com grandes lesões porque o pedestre está em uma posição vulnerável. Ele está atravessando achando que está tendo a sua segurança resguardada. E quando o condutor não observa os seus deveres, ele gera risco”.
Ao MidiaNews, a Sinfra-MT (Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística) afirmou que a sinalização da faixa da avenida Mário Andreazza será reforçada e ainda que um semáforo com botoeira será instalado no local.
Já a Semob (Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana) de Cuiabá disse em nota que assinou em junho uma ordem de serviço para revitalizar as faixas e outras sinalizações conforme a necessidade das vias. Além disso, afirmou que avenidas que estão em obras, como a do CPA, terão a revitalização da faixa somente após a conclusão do serviço.
Leia a nota da Semob na íntegra:
"Sobre a sinalização envolvendo a faixa de pedestres em vias de grande fluxo, a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (Semob) informa que no mês de junho iniciou a Ordem de Serviço para revitalização das faixas e demais sinalizações conforme necessidade da via.
A ação atende também ruas onde a pintura da faixa de pedestre está desgastada. A Rua Cáceres, no bairro Alvorada, está entre os locais que receberam pintura nova.
Em casos de vias que estão em obras, a exemplo da Avenida do CPA, a faixa será revitalizada com a conclusão do serviço.
Para melhor aproveitamento da equipe, um cronograma está sendo avaliado para que a revitalização de faixas ocorra por região."
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5 Comentário(s).
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Emersom 28.07.25 10h43 | ||||
Tudo é resultado de um crescimento desordenado. A cidade cresceu e se desenvolveu na administração dos próprios moradores, um bom exemplo disso são as centenas de quebra molas construídas na vontade de cada morador, e os órgãos públicos responsáveis por isso nada fazem. A prefeitura ameaçou destruir esses quebra molas irregulares, mas como de costume, a promessa ficou no passado. Se os órgãos responsáveis não tomarem conta do que é responsabilidade deles, a cidade não se desenvolve da forma correta. | ||||
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Marcus - Engenheiro 28.07.25 09h46 | ||||
Existe regras do CONTRAN para instalação de faixas, faixas elevadas, lombadas e demais dispositivos de trânsito, porém, na grande maioria esses dispositivos são instalados sem qualquer estudo. A falta de um profissional capacitado em engenharia de tráfego representa nessas situações. | ||||
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José 28.07.25 08h08 | ||||
Cuiabá não tem nenhuma estrutura para pedestres. Não da pra fazer uma caminhada de 30 minutos sem precisar andar no meio da rua. Não é só na Miguel sutil que tem faixas junto as rotatórias, Av Itália e Estrada do moinho são outros exemplos. Faixas próximo as rotatórias são um perigo para pedestres e motoristas. Eu penso que o pedestre sempre deve sinalizar sua intenção e esperar os carros parar pra atravessar, tem pedestre que acha que faixa é passarela, passa que nem olha. | ||||
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Paulo 28.07.25 08h03 | ||||
A Avenida de FEB é algo preocupante, maioria dos condutores não respeitam as faixas que por sinal estão precisando de alguma coisa a mais para ser eficiente; creio que seria necessário instalar pelo menos botoeira nessas faixas. Imagina quando estiver funcionando o BRT com as estações de embarque e desembarque na faixa central?! Vai ser um auê! | ||||
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Sócrates de Albuquerque Menezes 28.07.25 07h22 | ||||
Quanto as faixas de pedestre, é verdade, precisa urgente ser trabalhadas com muita atenção, verificadas quase que a ausência por estarem quase que sempre apagadas, mal sinalizadas, são sinalizações que envolvem risco de vidas, urgente um cuidado todo especial. | ||||
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